Um gesto de Amor
“Limpar a nascente de um rio, quem sabe plantar uma árvore?”– perguntava a si próprio o jovem estudante, sentado numa das cadeiras do ônibus entupido de passageiros. Fazia o percurso de regresso ao lar.
No trajeto, ia lendo um pouco da vida das pessoas que trafegavam junto com ele: a senhora de largas bochechas, com o olhar ausente apontado para os vãos da janela; o homem de faces chupadas, de estatura comprida e a pele morena, indícios de muita exposição ao sol; um carregador de peixes, aprumando com dificuldades o caixote sobre a cabeça, exalando o odor que provocava a censura coletiva. E tantos outros.
“A vida é realmente uma colcha de retalhos... quantas desilusões, ansiedades e apostas no futuro vão sendo embaladas no balanço desta carroceria?”
No desassossego daquela gente apertada, entre cotoveladas e pisadelas, a paisagem escorria como um rio de cores indistintas, tal a exigência do tempo em cumprir as particularidades da vida de cada um.
O jovem travava o mesmo diálogo consigo e ganhava uma pitadinha de conhecimentos quando relembrava os dizeres da avó: “Se queres conhecer alguém, dá-lhe dinheiro e poder!”
E volvia novamente o olhar esmiuçando as características pessoais dos viajantes, tentando antever em quais aspectos cada membro ali presente mudaria, caso o Destino lhes surpreendesse repentinamente com a fortuna.
Seus estudos avançavam, o aproveitamento nas matérias ia muito bem e a profissão que escolhera mantinha-se sólida no horizonte dos seus pensamentos: Médico!
Salvaria vidas, doaria suas noites de sono buscando a cura de seus pacientes; pesquisaria, tendo em mãos os diagnósticos, a maneira ideal para corrigir alguma doença mal curada, tudo isso simplesmente porque gostava de pessoas, e não de suas posses.
Na sua conversação íntima, questionava outras maneiras da humanidade ser mais prestativa e solidária, tal como ajudando as pessoas carentes, mesmo que fosse com palavras consoladoras e atitudes de irmandade.
No pensamento do nosso futuro doutor, florescia - como a febre alastrando-se pelo corpo do enfermo - o maior gesto de adoração à espécie humana.
E a lição pode ser ampliada mesmo com as intenções mais simples, como a palavra de conforto e o abraço fraternal.
Simples como limpar a nascente de um rio ou plantar uma árvore.