Os Três Atiradores

O atirador de facas do circo, o arqueiro real com suas flechas pontiagudas e a maneira dos adultos dizerem as coisas: o que há em comum nisso tudo? Por mais habilidades que tenham, por mais treinados que sejam, quais as consequências se houver uma falha em seus ideais?

Imaginemos uma noite de espetáculo com as arquibancadas e cadeiras especiais lotadas de espectadores, curiosos sobre a ansiedade pregada pelo megafone do apresentador:

“Não percam o Mestre das Facas, o grande Falcão Negro, em sua ousada missão de disparar doze facas super amoladas (de olhos vendados, diga-se de passagem) contra a tábua da maldição girando sobre seu eixo, em cujo centro encontrar-se-á sua própria esposa totalmente imobilizada!”

Ou, ainda, percorramos as cercanias de um castelo medieval empoleirado sobre verdejante colina: ali, o arqueiro do Rei retém em sua aljava duas dezenas de flechas que serão disparadas sobre um alvo particular, ou seja, uma polpuda maçã, cuja base de apoio é a cabeça de seu próprio filho em tenra idade.

Os mensageiros reais fizeram questão de anunciar a todos os aldeões que os disparos seriam efetuados sobre o lombo de um cavalo a galopar velozmente em círculos sobre a mira. Acrescentaram em seu discurso que o espaço de tempo compreendido entre uma flecha e outra seriam frações de segundos.

Agora, elejamos um adulto qualquer e o atiremos no turbilhão da vida, onde beiram infinitas queixas e problemas e o dia se torna em pesado fardo quando se aproxima a noite e no céu cintilam milhares de pontinhos curiosos.

Ninguém anunciou sua façanha, sequer cuidou em tornarem públicos os desafios vencidos; alquebrado, sem treinamento ideal para o que iria defrontar-se, solta a palavra violenta, enfurecida, venenosa e contundente.

Os três atores têm sim, algo em comum: o máximo de atenção com o alvo e um cuidado muito especial como vão ser desferidos seus truques para uma plateia atenta e expectante.

Há quem diga que a palavra jogada de maneira impensada e carregada de rancor, cause mais estragos e demore mais a cicatrizar do que os outros artefatos atirados erroneamente, tais como as facas e as flechas.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 06/10/2014
Código do texto: T4989250
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