Quem sou eu?

Sou puro desejo, às vezes; mero imprevisto, outras. Posso trazer alegrias, também provoco situações arrasadoras. Ando sempre em bando, mudo meu curso sem avisos antecipados. Transformo-me. Em certas ocasiões meu corpo é magrinho, pequenininho. Muitas vezes meu corpanzil assusta, fica gorducho, incomoda à beça.

Meu berço está sempre em movimento. Ele muda de cor, e quando muda, a sua própria tonalidade revela como ficarei ao nascer. Em locais que não visito, ou em outros onde a minha presença é rara, tenho valor inestimável. Multidões lamentam a minha ausência. Cientistas do mundo inteiro preparam fórmulas para criar-me artificialmente, dependendo do local ou da estação.

A minha idade não sei precisar, acho que ninguém sabe atestá-la com exatidão. Vários estudiosos ousam fazer alguns cálculos, equações complicadas e bem extensas, e presumem, de forma bastante variada, ser minha existência tão antiga quanto o planeta em que habito.

Sou responsável pela continuidade da vida. Minha responsabilidade é tamanha, que isoladamente não sirvo para coisa alguma. Atuando a sós nada represento, nada faço acontecer - fico tão inútil! -, ao ponto de desfazer-me no espaço e meus destroços transformarem-se em vazio. Por isso, só ando ao lado de numerosa companhia.

Sou poesia quando olhares apaixonados me espreitam através da vidraça das janelas; sou pesadelo ao deparar-me com alguém despreparado, longe do alcance de um abrigo qualquer.

Perambulo pela madrugada, conquisto a amizade perfumada das rosas. Inspiro o sono restaurador quando a noite é branda. Nessas horas, misturo-me ao ciciar das árvores e à brisa refrescante.

Por industriários, camponeses, mercadores, navegantes do alto mar, passageiros das estradas deste mundo de meu Deus, sou ora integrante da bem-aventurança, ora fortíssimo elo da ira. O que me conforta, é a culpa não ser uma particularidade somente minha. Quem me acompanha passa pelo mesmo julgamento imposto à minha integridade.

Despertei a sua curiosidade? Adivinhou quem eu possa ser?

Abra sua janela e dê uma espiadela à sua volta.

Nesse momento ignoro se estou boazinha ou má.

Sou apenas uma gota de chuva.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 06/10/2014
Reeditado em 30/06/2016
Código do texto: T4989243
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