O Domador de Cavalos

Chegou à cidade grande carregado de esperanças. De onde viera, os amigos o apontavam como o homem que não teme desafios. Emprego não lhe faltaria. Tinha uma postura de nobre e facilidade em trabalhar a fala com as pessoas.

Teodorico Trovão, conhecido lá pelas suas bandas: domador de cavalo, sua profissão. As coisas não andavam boas para os lados da roça, os fazendeiros contabilizavam prejuízos, não careciam mais do seu ofício. Aliás, pangaré esquelético e faminto como os da região, qualquer perneta domaria facilmente.

Veio a mando de um fazendeiro influente e se instalou numa casa próxima à estação de trens. Família de gente trabalhadeira. Possuía comércio, vários pontos distribuídos nos bairros.

O dono da casa era Severino, rosto sulcado de rugas, mãos calosas e pele tostada, também originário do campo. Acomodou bem Teodorico, passou-lhe algumas informações a respeito da nova vida e deu-lhe a missão de vigiar uma de suas filiais no período noturno.

Teodorico assumiu o posto rapidamente. A loja da qual era responsável ficava às margens dos trilhos e, logo na primeira noite, ele se pôs vigilante sentado numa cadeira sobre os dormentes da linha férrea, os olhos fixos na fachada da casa comercial.

Lá pela meia noite ele ouviu algo trovejando, fazendo a terra tremer e as linhas de ferro rangerem, seguido por um facho de luz que quase o cegou, deixando-o às tontas. Ainda teve o reflexo para saltar da cadeira para não ser atropelado pelo monstro de ferro aterrorizante.

Ao cair de quatro sobre os cascalhos e a terra batida, sentiu algo em seu corpo que o energizara, causando uma revolução interna, enchendo-lhe de coragem ante o ataque que o deixara desmoralizado.

Com sangue de vaqueiro não se brinca! Levado por uma fúria incontrolável, deu um salto fenomenal e segurou-se numa viga em forma de aba de um dos vagões, logo após agarrando seu tampo qual fosse um pescoço ou a crina de uma cavalo brabo.

Os jornais do dia posterior noticiaram que a máquina vencera o homem.

Teodorico Trovão adorava vencer desafios.

Porém, não procurou adaptar-se aos novos.

Conhecer as dificuldades é a melhor maneira de enfrentá-las.

Rui Paiva
Enviado por Rui Paiva em 06/10/2014
Código do texto: T4989234
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