SEU ZÓ E O GUARDA SOL

SEU ZÓ E O GUARDA SOL

Existe nesse mundo todo tipo de pessoas: bonitas, feias, alegres, tristes, limpas e sujas, mas Seu Zó era diferente das demais, porque nele tudo era mais ou menos: de porte médio, nem gordo e nem magro, bonito não era, mas também não era feio demais e se não era muito inteligente, também não era ignorante total e assim ele vivia nem rico e nem pobre, médio.

Em nada seu Zó brilhou, profissão não tinha, estudou só o primário e vivia das poucas rendas de um sitio pequeno que herdou de uma tia e que se chamava sitio da Hanhá, porque esse era o apelido da falecida e generosa tia; ele era apreciado pelas mirabolantes historias que contava e o povo da Vila do Mocó se divertia também com suas manias.

Casar Seu Zó nunca se casou, querer até que ele queria, mas as namoradas que arranjou em sua juventude não agüentaram suas extravagâncias e ele tinha muitas, mas a pior era a raiva que ele tinha de tomar banhos, ele trocava de roupas regularmente e como era quase mulato, a sujeira passava despercebida, mas ele cheirava a coisa mofada.

Para disfarçar o cheiro de mofo, ele usava Àgua de Colônia com fartura, mas era pior, porque a mescla de mofo com a colônia era um desastre, causava até alergia nos mais fracos e mesmo assim ele contava suas historias para quem quisesse ouvir; de repente apareceu umas borbulhas em suas orelhas e pescoço e muito incomodado procurou um médico.

O doutor Palhares, era um velho bastante rude e depois de examiná-lo, disse: O seu problema Zó é falta de asseio, a sujeira se acumulou e virou bolhas e como estão inflamadas, eu aconselho o uso de um guarda sol, porque sol demais vai piorar o que já está ruim, mas o principal é o uso de banhos diários, com esses cuidados você vai se livrar das bolhas.

Seu Zó saiu dali direto para uma loja, onde comprou um enorme guarda sol e passou a desfilar pela vila carregando o inseparável companheiro, mas o banho ele não tomou e as bolhas não sumiram; durante o verão todo ele se protegeu com o guarda sol, mas chegou o inverno com seus dias nublados e ele continuou usando o guarda sol e o povo ria dele.

Ele voltou ao médico e disse: doutor Palhares, o guarda sol não resolveu o meu problema e as bolhas estão se espalhando e me incomodam muito, o doutor perdeu a paciência e respondeu: eu receitei guarda sol e banho, mas você se esqueceu do banho, assim não vai se curar nunca, quer se curar ou não?

Seu Zó saiu e continuou com o guarda sol e as bolhas até o fim de sua vida, mas banho não tomou.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Nepomuceno Minas Gerais Brasil

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 06/10/2014
Código do texto: T4989042
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