CORRUIRA

CORRUIRA

Naquele fim de mundo chamada de Vila dos Prazeres, o povo era calmo, as vezes alegres e outras vezes cabisbaixos e tristonhos, era o jeito de ser daquela gente sertaneja; quando as lavouras de café e de subsistência recebiam chuva e sol na medida e no tempo certo, a fartura estava garantida e se alegravam, mas quando acontecia o contrario era triste.

Naquela zona rural, os divertimentos eram poucos e os afazeres muitos, mas ninguém reclamava, porque estavam acostumados com aquele jeito simples de viver e as desvantagens eram cobertas pela tranqüilidade reinante; o silencio do lugar só era quebrado pelo canto dos pássaros, pelo mugir do gado e o canto alegre dos galos nos terreiros, era a paz.

Um domingo a cada mês, o velho padre Sebastião vinha montado em sua também velha mula e celebrava uma missa, batizava os recém nascidos e celebrava algum casamento e no caso do casamento se seguia um almoço festivo, com danças e cantos a tarde inteira e era só isso, porque o resto do mês era só trabalho nas lavouras realizado por todos.

Aquele povo pacifico vivia modestamente, mas era feliz, porque a harmonia geral garantia o sossego e nada mudava naquele lugar, mas de repente a paz foi embora e o motivo foi um bando de passarinhos que apareceu por lá, era um passarinho cinza, pequeno e esperto chamado de corruíra, mas seu pequeno tamanho não impedia o estrago que fazia.

Os agricultores espalhavam suas sementes e as corruíras vinham em bandos, reviravam a terra fofa com seus biquinhos e comiam todas e o que restava na terra a céu aberto não germinavam; armou-se a polemica, porque os homens queriam envenenar uma remessa de sementes e espalhar nos canteiros para acabar com os incômodos pássaros.

Mas as mulheres não aceitaram a idéia, e disseram: passarinhos são enviados por Deus e é pecado acabar com eles e o assunto não se resolvia e da paz reinante nada sobrou, porque os casais passaram a brigar por qualquer coisa, mas no fundo o motivo real era as corruíras, resolveram consultar o padre Sebastião e ele pediu um tempo para pensar no assunto.

No primeiro domingo que veio a vila dos Prazeres, o padre disse: meus filhos, pensei sobre o assunto das corruíras e cheguei a seguinte conclusão: esses passarinhos são filhos de Deus, mas vocês também são e se as corruíras estão destruindo suas plantações, alguma coisa tem que ser feita, mas matar as coitadinhas não é atitude de cristãos.

O padre continuou e disse: façam grandes bonecos com roupas coloridas esvoaçantes, com chapéus vermelhos e espalhem pelas plantações, eu os abençoarei em nome de Deus e tenho certeza que os pássaros se afastarão; assim foi feito e as corruíras se afastaram dos canteiros, a paz voltou entre os casais e estava inventado os eficientes espantalhos.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Nepomuceno Minas Gerais Brasil

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 05/10/2014
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