MARIA TURCA

MARIA TURCA

Ela era alta demais, gorda demais, tinha um lábio côncavo e o outro convexo, fartos cabelos negros nascendo no meio da testa e olhos apertados parecendo orientais; com essa aparência Maria era perseguida pelos olhares críticos das pessoas e isso a tornava arredia, se afastando de todos, como se procurasse um buraco para se esconder e ser esquecida.

Com aquela aparência estranha, parecia que o destino de Maria era viver e morrer sozinha, porque já com quase trinta anos ela nunca tinha namorado e nem amigos ela tinha, mas como se diz que sempre existe um chinelo velho para um pé torto, o chinelo dela apareceu na figura de um mascate que veio até Laguna Velha vender suas bugigangas, veio e ficou.

Laguna Velha era um pequena cidade perdida no meio do sertão mineiro, era tranqüila, porque o resto do mundo ficava distante e para aquela comunidade estava de bom tamanho, mas o mascate gostou do sossego e ficou por lá, logo abriu uma vendinha, onde se encontrava coisas simples, bem ao gosto daquela gente sertaneja e logo era um cidadão respeitado.

As moças solteiras da cidadezinha logo descobriram que o mascate era solteiro e arranjavam desculpas para ir até a vendinha, só para se mostrar para o vendeiro, mas ele se fingia de morto e o assedio não rendia nada; o ex-mascate era um libanês moreno, meio gordo, mas simpático que se chamava Salim, mas todos o tratavam por Turco e pronto.

O Turco já tinha passado dos quarenta anos, mas com a pouca oferta de pretendentes a marido, ele era considerado um príncipe, mas os esforços das jovens lagunenses não funcionavam; em um domingo Maria saiu de seu canto e foi assistir a missa na capela de Santo Antonio e lá estava o Turco, que se encantou pela desajeitada criatura, para espanto de todos.

E o namoro começou ali mesmo depois da missa e continuou firme e em dois meses estavam noivos e seis meses depois se casaram, ninguém entendia como um homem que podia escolher entre as moças mais bonitas do lugar, escolhera a feia e discriminada Maria e para desvendar o mistério, um amigo mais chegado e corajoso resolveu perguntar.

E se chegando, puxando um assunto aqui e outro ali, o Tonho perguntou: Ô Turco, me diga porque você se casou com a Maria, se podia escolher outra mais bonita e ele respondeu: Tonho, Maria é a mais bonita, porque tem carnes no corpo e Turco não é cachorro para roer osso e daqui em diante ela se chama Maria Turca e quem faltar com o respeito vai se entender comigo.

Pronto, estava perguntado e respondido e Maria Turca passou a ser bem tratada e respeitada, porque todos temiam seu marido; também gosto não se discute, ela era linda para o Salim e a opinião do resto da comunidade não tinha a menor importância; Maria Turca teve doze turquinhos e viveu feliz com seu Turco, se sentindo a mais linda mulher de Laguna Velha.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Nepomuceno Minas Gerais Brasil

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 02/10/2014
Código do texto: T4984689
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.