Comi o americano
Quarenta e tantos anos passados, agora confesso. Comi, sim, o americano, estimulado pelo chapeiro Zé Maria. Não tinha intenção de fazê-lo, mas desde a primeira vez, tornou-se- me um hábito, um vício, comê-lo. E o ali, em plena Praça Sete, no miolo de Beagá, naquela lanchonete, que vai ver, nem mais existirá.
Testemunha ocular, e até participante no preparo, o bom Zé Maria que, vim a saber, foi-se um dia. Prematura partida, condoída, sentida, pessoa tão querida.
Quanto ao americano, sim, tenho deles saudades, embora poucas fidelidades, pois desde que meu mundo foi além das Gerais, comecei a ter fixação foi pelo tutu, o feijão, o angu, o pirão, mesmo tendo quase sempre a mesa, a quase certeza, digo sim pra você, a comidinha gourmet. Mais que o normal, em patetê.
Evoco o americano pela lembrança do Zé, amigo de fé, a quem duas ou três vezes por semana, ali no antigo TED´S, pelas onze ou onze e meia da noite, me recebia com sua constante cortesia, enquanto na negra chapa ia fritando o ovo, o bacon, e tostando as fatias de pão. Depois, com as rodelas de tomate, a folha de alface e tava lá o americano caprichado, a ser saboreado enquanto íamos trocando conversas da vida, da gente, dos fatos da nossa Velha Serrana, ya de nosotros tan cerca y tan lejana.