PROSOLINO PAMPLONA SOMBLA

PROSOLINO PAMPLONA SOMBLA

Naquela vila perdida na base da Serra do Tatu, o povo era simples e poucos eram alfabetizados e mesmos esses privilegiados não perdiam tempo com leituras, porque todos trabalhavam nas lavouras e era um trabalho pesado e cansativo e quando a noite chegava, só queriam descansar da labuta do dia e além disso lá não chegava nenhum jornal.

Aquela vida tranqüila nunca mudava e o povo se acostumou a viver na ignorância de tudo o que acontecia no resto do mundo e eram felizes por isso, porque ali na Vila do Mandi a paz era total, todos viviam em harmonia, porque quem não era parente era compadre e assim a vida era boa; divertimentos quase não existiam, mas também falta não faziam.

Uma vez ao mês o padre Tonico vinha celebrar uma missa, realizar batizados e algum casamento e depois da missa terminar, toda a comunidade se reunia na única praça do lugar e almoçavam juntos alegremente ao ar livre, animados com a música do Tito sanfoneiro, acompanhado pela viola do Zeca Peru, e durante a tarde toda, cantavam e dançavam.

E esse era o único divertimento daquele povo, e para eles estava muito bom e ninguém desejava nada diferente, mas uma manhã acordaram com som de cornetas e toques de tambores; correram para ver a novidade e pela primeira vez viram artistas de circo desfilando pelas poucas ruas da vila e quando levantaram a lona que cobria o circo, ficaram espantados.

O nome do circo era Grande Circo Prosolino Pamplona Sombla e o dono do mesmo usava esse nome estranho e usava uma roupa cheia de brilhos de lantejoulas parecida com a veste de um toureiro e como ele era um moreno alto, de cabelos negros e brilhantes olhos verde fazia uma bonita figura; as tímidas moças da vila ficaram encantadas com ele.

Na noite de estréia do tal circo, todos os moradores da Vila do Mandi compareceram e se acomodaram nas arquibancadas bem desconfiados e até com um certo medo, mas durante o espetáculo foram se ajeitando e passaram até a se divertir com as brincadeiras dos palhaços, os equilibristas e trapezistas, mas se assustaram com os maiôs das atrizes.

Ninguém daquela vila conhecia um maiô e quando viram aquelas jovens quase despidas, se horrorizaram e saíram depressa com suas famílias e em poucos minutos o circo estava vazio, mas no dia seguinte o vistoso dono do circo prometeu aos moradores, que suas moças não voltariam a vestir os escandalosos maiôs e as funções continuaram.

Alguns dias depois o circo anoiteceu e não amanheceu, sumiu de repente e com ele sumiu a jovem Nininha filha do fazendeiro Oscar Tenório; foi o maior escândalo daquele pacato lugar, mas o fazendeiro se enfureceu e foi atrás dos fugitivos com um bando de homens muito zangados e algumas léguas depois alcançaram as carroças do circo.

O tal Prosolino Pamplona Sombla foi agarrado pelo pai de Nininha, enquanto seus companheiros pegavam o resto do pessoal do circo e foi uma pancadaria caprichada, depois o fazendeiro mandou queimar as carroças com tudo que tinha dentro e disse: você não é mais Prosolino, agora é o Chico, porque vai casar com a Nininha e vai trabalhar na lavoura.

Isso foi dito e feito, virado em Chico, o elegante dono do circo se casou com a moça e passou a trabalhar no cafezal de Oscar Tenório e seus artistas sem outra opção, se empregaram em outras fazendas da região e foram capinar café, porque a Vila do Mandi era o fim do mundo, não tinha como sair de lá e assim terminou o Grande Circo Prosolino Pamplona Sombla.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Nepomuceno Minas Gerais Brasil

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 01/10/2014
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