A MAGRELA
A MAGRELA
Rosilda Lucia Trembini, esse foi o nome que aquela menina rosada, loirinha e gorducha recebeu ao nascer; era uma criança linda e saudável e ninguém podia imaginar as mudanças que o passar do tempo ia lhe trazer, mas na vida as surpresas são sempre esperadas embora se diga o contrario e Rosilda seria um exemplo dos sustos que a vida traz.
Aos sete anos de idade aquela menina se conservava bonita e gordinha, começou seus estudos em uma escola particular e estava sempre alegre e muito feliz, brincava com as amigas durante o recreio e saia com as colegas depois das aulas, sempre conversando e rindo o tempo todo e ao chegar em sua casa mantinha a animação.
Assim viveu Rosilda até completar quinze anos e para comemorar sua entrada na sociedade da cidade de São José dos Gentios, sua família promoveu uma grande festa, parecia coisa de contos de fadas, a decoração maravilhosa toda em rosa e prata, combinando com o lindo vestido de gaze finíssima da aniversariante, um bufê delicioso e a melhor música.
A festa de Rosilda foi uma coisa nunca vista naquela pequena cidade e rendeu meses de assunto sempre recheado de elogios, mas se a festa marcou época, marcou também a virada na vida da mocinha, porque logo depois da festa ela começou a mudar de comportamento, parecia que o resto de sua vivacidade e alegria se esgotara em sua linda festa.
Ela se tornou uma pessoa arredia, triste e muito estranha, sua família não entendia o que estava acontecendo e resolveu leva-la a um conceituado médico na capital do estado, mas pouco adiantou, porque o médico receitou algumas vitaminas e acalmou a família da mocinha, dizendo que aquela mudança era coisa de adolescente e que logo iria passar.
Passar passou, mas para pior, porque Rosilda além de viver triste e estranha começou a perder peso de maneira acelerada; em poucos meses ela parecia um esqueleto falante e chamava a atenção quando saia na rua, porque as pessoas olhavam e diziam: Lá vai a magrela e a coitada voltava para casa chorando, mas nada detinha aquele emagrecimento galopante.
O apelido de Magrela encobriu o nome de Rosilda e na cidade todos a chamavam assim e ela deixou de sair de casa, passava o tempo fechada em seu quarto e sua família não sabia o que fazer para ajudar a pobre moça; para agravar a situação, os moleques passavam pela rua gritando: oi Magrela cadê você? Rosilda suportou aquelas humilhações por algum tempo.
Foi levada aos melhores médicos, mas ninguém descobriu a causa de seu desanimo e emagrecimento, porque ela tinha uma grave disfunção da tireóide e esse problema era desconhecido naquela época; quando perdeu toda a esperança de cura, Rosilda a Magrela sumiu de casa e só foi encontrada dias depois.
Ela estava morta enforcada no galho de uma arvore em um capão de mato fora da cidade; foi uma tristeza para sua família e para toda a arrependida comunidade que se culpava pelas brincadeiras e apelido de mau gosto , mas como remorso não resolve nada, Rosilda continuou morta e enterrada, mas sua historia jamais foi esquecida.
Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}
Nepomuceno Minas Gerais Brasil