A Flor de Cacto
Certo homem, cansado de enganar pessoas na cidade grande, resolveu fazer suas práticas malignas em pequenina aldeia.
Forjara títulos e certificados no intuito de passar-se por profissional qualificado na cura das mazelas mundanas.
Montou sala apropriada para atendimento e rapidamente conquistou ingênua clientela.
Foi uma época em que o calor sufocante provocou um surto de alergias e um grande número de enfermos acorreu aos seus cuidados.
Em vão foram suas prescrições medicamentosas e mal- sucedias foram as consequências.
Houve um desarranjo total e os habitantes enfurecidos procuraram briga, fato que sorrateiramente afugentou-o daquele convívio.
Houve a intervenção pública e a epidemia foi sanada.
O falso médico desaparecera sem deixar pistas.
Pouco tempo depois apareceu uma senhora vinda de um local sabe-se-lá-de-onde e montou palhoça no lugarejo, com caixas de papelão em forma de paredes.
O fogo crepitando em achas servia-lhe de lume ao mesmo tempo em que lhe aquecia os ossos.
Curiosos começaram a dar por sua presença e sua maneira esquisita de levar a vida tomou conta das discussões.
Vez ou outra aparecia com algum animal fragilizado, doente, largado pelo dono, e após certo tempo devolvia-o às ruas prontamente restabelecido.
Pouco a pouco foi elastecendo sua rede de benevolências, servindo às vezes de parteira, rezadeira, curandeira de pequenas moléstias a base de chás e ervas.
Caiu nas graças do povo. Sempre muito atenciosa e prestativa, veio dar forças ao espírito daquela gente.
E grande fora a mudança!
Foi como se um cacto florescesse em meio àquela paisagem árida do sertão emprestando-lhe a exuberância de suas cores.
Gestos simples e nobres, sempre voltados para o bem, são ótimos exemplos de fé e calor humano. São capazes de transformar cenários pobres e tristes em grandes fontes de energia.
“Mais vale a paciência que o heroísmo, mais vale quem domina o coração do que aquele que conquista uma cidade”.