433-PEDRIM MENTIRA CAÇA PATOS-História de caçador

Pedrim Mentira já é conhecido dos leitores destas Milistórias. De todas as situações em que se envolvera, a história do pato que caçou no Piauí é uma das mais inverossímeis.

Andava ele a caçar patos no Piauí. Fora bem preparado, com uma tralha de fazer inveja a qualquer caçador de safári africano. O que não estava preparado é para o encontro que teria a momentos com Bento Bode.

Bento, pacato agricultor, estava capinando sua roça, quando olhou pro céu e viu o bando de patos voando atabalhoadamente, como que fugindo de algum perigo. Ouviu o disparo da arma e logo um dos patos começou a cair, cair. Veio caindo até bater no chão, entre os pés de milho de seu roçado.

Pedrim, o caçador, observou com seu poderoso binóculo, a posição em que o pato, atingido por sua arma, havia caído. Dirigiu-se ao local, a fim de apanhar a caça. Quando abaixou os arames de uma cerca farpada, para passar, ouviu uma voz:

— Ara xente! Onde é que mecê pensa que vai?

Assustado, logo se recompôs e respondeu:

— Vou pegar o pato que matei e caiu ali naquela macega de capim.

— O xente! Ceis da cidade num sabe di nada. Primero, que aquele pedaço de terra que mecê chama de capim, é a minha prantação de mio. Segundo que, se o pato caiu na minha terrinha, agora ele é de minha propriedade.

— Mas, o pato foi morto por mim. Eu que cacei o pato.

— É, mas se caiu nas minha terra, é meu.

E os dois entraram numa discussão séria, nenhum querendo saber de abrir mão da carcaça do pato. Foi quando o lavrador sugeriu:

— Óia, vamo fazê um trato. Vamo trocá três chute bicudo. Quem agüenta fica impé, fica cum o pato.

Pedrim olha o capiau de alto a baixo, ou melhor, de baixo a baixo.

Esse veinho aí deve tá doido. Só com um bicudo, deito ele de jeito que nunca mais se levanta do chão.

— Combinado! — falou o caçador.

— Intão eu cumeço.

— Pode cume...

O caçador nem tinha acabado de completar a palavra e recebeu um tremendo pontapé nos culhões, que o fez arquear de dor. Enquanto levava a mão por entre as pernas, agachando-se de dor, recebeu outro bicudo no estômago, que o levou pro chão. Deitado, ainda sentiu outro bicudo na cabeça, antes desmaiar.

Quando acordou, daí a alguns minutos, viu o “velhinho” sentado numa pedra, pitando o cigarrinho de palha, na maior pachorra do mundo. O pato morto estava aos seus pés.

O caçador foi se levantando devagar, com cuidado. Vai que esse desgraçado cisma de me pegar desprevenido outra vez, pensa. Aos poucos, vai se erguendo, esfregando a cabeça, os olhos, tirando a poeira da roupa e assumindo a posição para mandar os três bicudos no velhinho.

— Tá bom, cê me pegou desprevenido. Agora é minha vez.

Levantando-se calmamente, segurando o pato pelas patas, o velhinho disse:

— Carece não de me dá os treis bicudos. Taquí o pato, pode levar ele.

ANTONIO GOBBO –

BHTE., 13 de maio de 2007.

Conto # 433 da série Milistórias –

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 27/09/2014
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