ADEUS A SECA

ADEUS A SECA

Coloca a última mala no porta-malas da Santa Fé branca. Um último olhar no horizonte curto, de arranha-céus. Vislumbra a sacada do 4 dormitórios comprado caro, com tanto trabalho, e que agora jaz

abandonado, sem valor algum. As ruas estão vazias, silenciosas, a maioria dos sudestinos já se foi, para o norte maravilha, na rota das águas e de uma nova vida. Quem diria?- pensa, pasmo e atordoado ;

há 50 anos seu pai fizera percurso inverso, fugindo da seca de Deus e ele agora partia, fugindo da seca dos homens. O sul maravilha virara deserto, coberto de negro asfalto, azul, apenas o céu. Um sol amarelo brilha inclemente, torrando tudo e fazendo da vida um inferno. Fabiano e Vitória, sua mulher, partiam para não morrer de sede e fome, levando consigo um filho mais velho e outro há pouco nascido, e ainda, Baleia, a cadelinha de estimação. Vão embora com seus pertences pessoais, deixando tudo o mais que amealharam em anos de trabalho, que com o êxodo da grande cidade não há quem transporte, virarâo pó.

Esperam reconstruir a vida, dar um futuro aos filhos, orando para que o Norte longínquo, não vire uma megalópole arrasada daqui algum tempo, fruto da loucura incontrolável e dos desmandos de sua gente.

Vamos homem que o caminho é longo! - diz Vitória.

Fabiano sai do estupor, entra na Santa Fé e reza, sem tanta fé.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 10/09/2014
Reeditado em 11/09/2014
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