O Filho que colocou o Pai contra a Parede
O filho que colocou o Pai contra a Parede
Elisabeth Lorena Alves
O fato aconteceu em uma vila rural, muito próspera e feliz. Vivia um pai com sua família alegre e rodeado de pessoas queridas. As festas eram comum por ali, as pessoas viviam convidando e sendo convidadas e com os laços sadios de amizade, surgiram as ervas daninhas das amizades vãs.
Os jovens daquela Família, bem cuidados e de fino trato, podiam vestir -se com os melhores linhos, sedas e tecidos importados. Mas um dos filhos estava sempre ocupado ajudando o pai, sem se importar com seus próprios interesses, se doava à família, seguindo o exemplo do Pai.
As riquezas se acumulavam e eles viviam rodeados de todo o conforto, como príncipes que seu pai acreditava que eles fossem.
Um dia aconteceu algo que quebrou toda a harmonia e tirou o clima de festa da riquíssima morada. O filho mais novo, envolvido nos conselhos dos amigos mercenários, resolveu pedir ao pai que lhe desse todos os bens a que tinha direito.
A princípio o sábio pais disfarçou o assunto, fingindo para si mesmo que seu doce menino esqueceria. Mas o jovem não era mais menino e já fora corrompido pelas maldades de seus companheiros de farra.
Não tendo mais como enrolar o filho, que o imprensava na Parede, o pai fez as contas dos bens e deu a que lhe cabia. Dias depois o filho, sentindo-se independente, deixou o Lar Paterno, sem se importar com a dor que deixava atrás de si e partiu.
Todos os dias o pai se sentava na varanda e escutando os pássaros nas tardes agora tristes e vazias, balançava sua esperança na cadeira de balanço, até que o outro filho se juntava a ele para conversar. Todos sabiam o que ele esperava ali, mas poucos tinham coragem de dizer-lhe que abandonasse a ideia. Seu filho se fora cheio de dinheiro e sonho e jamais voltaria.
O outro filho se enciumava, mas depois se cercava do velho pai esperando que este se alegrasse com suas vitórias. O pai lhe sorria contente, satisfeito com as conquistas do herdeiro que preferira ficar ao seu lado, mas já não era o sorriso de antes...
O tempo passou.
Longe da casa agora já não mais tão feliz, o filho rico e bem apessoado, fazia festas e sorria em encontros banais. Aos poucos o dinheiro foi se acabando e com ele os amigos, até que ele se viu solitário, tendo que pedir ajuda a alguém tão pobre, mas que lhe era ainda um amigo fiel.
Ele que outrora fora príncipe de um pai amoroso, subira a rei em seu próprio domínio e agora era pouco mais que um mendigo, vivendo do pouco que uma pobre alma podia lhe dar. Cuidava de porcos e com eles comia. Não sabia mais distinguir o odor desagradável das fezes suínas de sua bela pele que outrora conhecia os mais ricos perfumes do mundo...
O cheiro ruim foi se apegando à sua pele e a dor da solidão à sua alma e ele foi aos poucos se apagando, perdendo o viso da juventude, a capacidade de sonhar e a esperança de se reerguer e voltar de novo à casa do pai, de cabeça erguida, foi se apagando de seu coração.
Quando a comida rareava, ele comia as sementes que eram enviadas aos porcos e pensava na justiça de seu velho pai, que cuidava com honra e humanidade até os jornaleiros, homens que não faziam parte de seu rol de funcionários, mas esporadicamente surgiam por lá para prestar serviço de empreitada junto com os servos e arrendatários das fazendas da Família.
Sonhava com as comidas festivas que os servos dividiam, mas seu coração se angustiava quando lembrava como foi que se perdera de seu amoroso Pai...
Um dia ele resolveu que iria pedir emprego nas terras do pai. Destituídos de seus orgulho e empáfia, tentava sufocar sua petulância, quando outrora envolvido por sua ganância e sonhos vazios, achou justo colocar o velho pai contra a parede, exigindo seus direitos...
Confuso em seus pensamentos, mais tendo a dor cruel da fome e da pobreza a roer-lhe o corpo, a mente e a alma, seguiu o caminho de volta à casa Paterna.
O pai estava ali sentado como fazia sempre. E viu de longe um vulto magro e desnutrido, cabeça baixa a tropeçar em si mesmo, apontando lá longe no caminho. Cuidou de chamar alguém para socorrer a pobre alma, mas percebeu nos trôpegos passos distantes que vinha ali seu filho desaparecido.
O chapéu caiu pelo caminho, os gritos de júbilo despertou o cão, alguém resolveu sair para ver o que acontecia e viu que ia longe o velho dono da casa, já perto de alguém que soluçando vinha.
As palavras se espalharam pelo campo e até pelas cidades, havia festa de novo, o filho amado chegou. Houve discórdia, perdão e reconhecimento da parte do irmão que cá ficara, mas foram ambos criados por um homem que sabia resolver certas questões. Certo é que naquela casa até hoje reina a paz. Ninguém mais tem pressa de ter seus bens, pois aprenderam da pior forma que o bom Pai sabe a hora de dar algo ao seus filhos.
Hoje tem festa lá, como tem sempre, como se todos os dias um filho voltasse de novo ao lar...