"O COELHINHO ROSA E A GIRAFA AMARELA" Conto de: Flávio Cavalcante

O COELHINHO ROSA E A GIRAFA AMARELA

Conto de:

Flávio Cavalcante

O primeiro brinquedo a criança carrega em sua memória pro resto da sua vida. Eu costumo dizer que essa geração do agora não tem infância. Os brinquedos se resumem à um mundo solitário chamado mundo virtual.

No interior da cidade em que eu nasci, explorávamos a nossa inocência com brincadeiras sadias e prazerosas. Era uma cidade pequena que não tinha muito recurso financeiro e na maioria das vezes tínhamos de usar a nossa imaginação para criar os nossos próprios brinquedos. Acho particularmente que apesar da dificuldade e não termos noção de uma futura evolução dos tempos, as nossas brincadeiras pondo a mão na massa, na terra bruta, tinham mais significado para o nosso crescimento feliz e saudável do que a facilidade do mundo moderno, onde a criança não interage como antigamente.

Naquela época era tradição uma criança receber presentes do papai Noel em épocas de natal com direito a todo um ritual de escrever cartinhas pedindo o presente que quisesse e antes de dormir na véspera do natal se colocava a cartinha em cima da sandália ao lado da cama. Rezava e ia dormir. Ao acordar no dia seguinte, como num passe de mágica, estava lá, o presente tão esperado e era aquela felicidade. A criança já nascia feliz. Via-se claramente nos rostinhos dos anjinhos aquela satisfação de viver e fazer amiguinhos.

Lembro-me claramente que minha mãe não deixava essa crença morrer e como as condições financeiras da época não era favorável para dar um presente caro, a matriarca arranjou uma estratégia de dizer que o papai Noel era um velhinho pobre e naquele ano como ele tinha muitas crianças para presentear não podia distribuir presentes caros e ela acabava induzindo os filhos a querer um presente no qual eles tinham condições de comprar.

Naquela época uma vizinha vendia produtos da Avon e nessa revista vinha umas escovas dental na linha infantil. Eu e minha irmã mais velha Jane Cleide pedimos uma escova ao papai Noel. Eram escovas próprias para criança em formatos de bichos. A minha escova era uma Girafa Amarela e a minha irmã escolheu o Coelhinho Rosa. A Cláudia minha irmã mais nova era ainda um bebê e não tinha idade para escolher o seu presente também. A ansiedade para ter em mãos os presentes escolhidos já era festa antes mesmo de chegar o tão esperado natal.

A minha escova Girafa Amarela depois de muito uso passou a fazer parte do roll dos meus brinquedos que eram muitos e a minha irmã Jane Cleide também guardou a escova de Coelhinho Rosa que também passou a fazer parte das brincadeiras com o seu acervo de bonecas. Nas brincadeiras quando reuníamos e espalhávamos aquele monte de brinquedos na sala da casa, a Minha Girafa Amarela sempre era o motorista dos meus carros e ia pegar o coelhinho rosa para passear. Fazíamos uma farra de brincadeiras e o tempo passava que a gente nem percebia.

Conto assim nos leva a uma viagem imaginária e nos faz recordar tempos de outrora onde simples brinquedos como estes nos remetem a buscar no fundo de nossa imaginação pérolas detalhadas, trazendo à tona a exatidão das cores, formatos, cheiros, palavras ditas com todas as sílabas e ainda deixa a nossa mente marcada pro resto de nossas vidas e o que nos resta é guarda-las com todo o carinho no baú do tempo, que outrora foi um momento importante e hoje o que resta á só muita saudade de bons tempo que jamais voltarão.

Flávio Cavalcante.

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 06/09/2014
Reeditado em 26/04/2020
Código do texto: T4951934
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