Um domingo... uma foto... e a eterna ausência!


 
Quando tudo está quieto demais, minha mente esbraveja por uma coragem absurda como se quisesse sair de uma prisão e encarar tudo de frente. Pois falar sobre sentimentos, pontos de vista ou experiências é algo relativamente complicado até porque cada um compreende de acordo com a sua evolução. O texto a seguir é uma mistura de tudo!
 
 
Um domingo qualquer acordei e não te encontrei naquele lado esquerdo da cama. Você foi embora, sem motivos, sem deixar esperança de que voltaria, sem brigas... sem nada! Simplesmente foi embora sem levar nada material, deixando apenas uma foto na cama e alguns sentimentos aprisionados aqui comigo.

Encarei os dias como se encara o desconhecido. Tentando ser forte quando na maior parte do tempo existia a possibilidade de fraquejar. Acontece que não sou forte o tempo todo e em quase todas as tardes metade de mim é saudade e a outra solidão. Já as noites parece não ter fim igual aquele maldito símbolo do infinito que gostávamos tanto e que hoje me atormenta. Assim é o domingo... um dia sem graça, ou melhor, os dias ficaram sem graça desde a sua partida. Sabe o que é pior? É a maldita frustração que sinto por não ter dito tudo o que sentia e nem saber o motivo de você ter ido embora.

Então resolvi te procurar mesmo sabendo que poderia ser tarde demais para alguma conversa. Tentei te encontrar em todos os lugares e como você não tinha parentes por perto... restou procurar alguns amigos... eu só não achava que seria tarde demais para um encontro! Agora o que me resta é tentar esquecer... esquecer tudo que aconteceu. E como é difícil esquecer! E é pior quando você tenta provar a todos que não sente mais nada. A verdade é que desapegar é um fardo grande e quase impossível de convencer a si mesma que já desapegou de quase tudo... menos daquela sua foto que teima em não sair da memória e consequentemente do coração. Sabemos que qualquer foto no computador pode ser deletada, no porta-retrato pode ser queimado ou simplesmente jogado fora, mas quando está na memória é algo difícil de apagar. Falo daquela foto que você estava superfofo rindo, irritantemente lindo! Parece que essa foto tenta me dizer algo, ou melhor, me obriga a fingir que estou viva para “seguir em frente” sem chorar quando na realidade a vontade é de xingar, de te esmurrar, dizer que você é um idiota, cretino e babaca por ter morrido. Por que você tinha que morrer? E agora... para quem eu digo tudo isso? Por que eu sempre me pego olhando pra sua foto? Será que é para me convencer de que não sinto mais nada? A verdade é que eu não sei o porquê, mas desconfio que ainda continuo te amando. É... te amando, mesmo! Ver essa sua foto é como uma cerimônia religiosa e que, às vezes, dá uma vontade de te ressuscitar para que eu me recupere desse luto!

Às vezes eu ficava imaginando como seria minha vida, meus dias longe de você. Eu sabia que um dia isso poderia acontecer. Achei que estaria preparada, mas a verdade é que nunca estamos preparados. Porque imaginar é uma coisa e vivenciar o momento é outra completamente diferente.

Você estava muito doente, mesmo não aparentando, nunca me disse nada, nunca exigiu nada, fazia todos os meus gostos e dizia me amar muito... até no último dia de seu sumiço! Foi duro descobrir tudo isso depois da sua morte. Você sempre me protegeu de alguma forma e conseguiu evitar que eu sofresse junto ao seu leito de morte. Mas na realidade só adiou um pouco meu sofrimento porque não participar está sendo mais duro de encarar do que se eu tivesse compartilhado esse momento junto contigo. Na vida devemos fazer escolhas ou ser escolhido, mas evitar que o outro sofra menos é quase impossível.

Bem, estou tentando encarar tudo de uma forma menos agressiva e seguir aquele velho clichê que dizem “seguir em frente”. Mas como é seguir em frente... se eu ainda não aprendi a parar de olhar pra trás? Se toda vez que me pego olhando para o vazio, seja lá qual for a direção, sinto-me perdida nas próprias memórias... sabe, meus pensamentos tem nome, cor, cheiro e isso atormenta.

Talvez isso tudo não passe de um incomodo por tentar explicar essa mania estúpida que tenho de sentir demais. Então começo a perceber que eu não preciso procurar motivos para apenas existir, e sim para não desistir de viver, mesmo me perdendo em meios as emoções de vez em quando. Todos nós estamos interligados através das lembranças. Apenas um fio pode nos unir e se ele se arrebentar pode nos separar. Desta forma a nossa lembrança faz com que permanecemos conectados. É triste, mas um dia sua ausência vai arrebentar o fio que nos une e causar esquecimento da mesma forma como o domingo está acabando e amanhã será um novo dia, um novo recomeço e dar lugar a felicidade!

 
Alê Ferreira
Enviado por Alê Ferreira em 02/09/2014
Reeditado em 07/09/2014
Código do texto: T4947459
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