397-PASSAGEM PARA LUZ-Experiência pos-morte

Sentiu uma angústia imensa enquanto passava pelo túnel de luz. Angústia perante o desconhecido, tão grande ou maior do que a que sentiu quando nasceu. O túnel era um outro útero, que a libertaria para outra dimensão, outra existência. Paradoxalmente, era a continuação da existência eterna que, por um ínfimo lapso de tempo, estivera enclausurada em forma humana.

Diferente do que sempre idealizara, a passagem não era através de um portal, e sim por um largo túnel de forma circular, escuro a princípio, clareando-se à medida que se acercava da outra extremidade, onde brilhava intensa claridade.

Não via mais com os olhos de uma pessoa, olhos de um corpo físico, mas sentia tudo com a consciência intensificada a tal ponto que, no princípio, chegava a incomodar. Ao nascer para a nova etapa de sua existência infinita, tudo se aclarou. Era agora um ser totalmente espiritual, constituído de pura energia, em perfeita consonância com o Universo.

Neste mundo de luz, as luzes tinham cores. Sua energia vibrava na freqüência de um verde brilhante, como pulsam todas as entidades que, na Terra, estão ligadas à cura. Seus parâmetros ainda eram os do planeta que acabava de deixar, mas que, na verdade, não deixara. Apenas passara de um plano a outro do universo, e ainda se sentia vinculada à Terra.

Para ela, agora, não existia mais tempo nem espaço. Mas havia ainda que lidar com essas dimensões, enquanto estivesse conectada espiritualmente às pessoas e entidades que conservassem sua memória. Ainda podia ver (isto é, ter consciência visual) as pessoas no seu velório. Muitas choravam e lamentavam a sua morte, o que lhe causava compaixão. Teve um sentimento de pena, dó, por aqueles que não sabiam que as lágrimas e os pesares, o luto e toda manifestação de saudade só lhe retardavam a completa integração neste novo Universo de energia e puro espírito.

Entretanto, naquele mesmo recinto do velório — e imediatamente já observava o enterro do corpo humano que fora seu casulo durante muitos anos terrestres — , de muitas pessoas emanavam eflúvios agradáveis de agradecimento. Naquele mundo de energia quântica, onde nada acontecia mas TUDO É, simultaneamente, a consciência de sua nova situação acompanhava o tempo e o espaço de sua vida na Terra.

Fora, sim, uma terapeuta. Uma mulher envolvida com a cura, que praticara durante a maior parte de sua existência terrena, ajudando as pessoas a se curarem. Sua cor fora sempre verde, revelada por inúmeras fotos de sua aura. Agora, consciente de sua condição, havia uma sintonia com outras entidades que irradiavam cor idêntica, para se integrar e interagir.

Sim, interação em sintonia fina, como um potente aparelho de rádio, TV ou computador os quais existiam aos milhares no planeta do qual acabara de sair. Assim como os habitantes sintonizam seus aparelhos à procura de distração e informação, agora ela procurava sintonizar-se com seres de idêntica freqüência, para uma integração espiritual, para ajudar e para curar..

Seus conhecimentos e sua memória, sua personalidade, não se perderam nesta passagem do mundo material para o espiritual. Ainda guardava lembranças de sua etapa pregressa. Ao mesmo tempo, a memória, o conhecimento, toda sua experiência da condição humana haviam se transferido, simultaneamente, para uma esfera de energia que permanece ao redor do planeta: o Inconsciente Coletivo, a somatória de todo o conhecimento humano, de todos os registros, fantasias, realizações, pensamentos e feitos.

Somente há pouco tempo (eis de novo o parâmetro da Terra) os seus habitantes estão se dando conta dessa esfera, à qual qualquer ser pode se conectar e usufruir os conhecimentos de toda a humanidade, em todos os tempos, passado, presente e futuro.

Seus vínculos com os habitantes da Terra ainda são fortes. Há os que agradecem pelas curas que ajudou a realizar. Há os que ainda pedem seus favores e intervenções a fim de obterem saúde, cura e outras benesses. Ainda faz parte de sua existência o atendimento a essas preces e a atenção aos agradecimentos.

Confirma-se agora o que já sabia ainda na condição de humana.Quando alguém agradece por uma graça, um dom ou uma benesse recebida, a entidade espiritual à qual essas orações de agradecimento são dirigidas, toma consciência imediatamente, e envia mais graças, mais dons e mais benefícios de igual teor. Pelo coração e mente abertas da pessoa em oração, entra em quantidade imensurável tudo o que ela agradece.

Sintonizada com os seres de energia de sua freqüência, ela se sente bem, equilibrada, centrada em si mesma, irradiando energia. Sabe que esta é uma etapa, uma situação intermediária.

Pois, no processo de evolução espiritual, dirige-se para a integração com a ENERGIA TOTAL, quando então toda a sua individualidade deixará de existir. Incorporada nessa ENERGIA TOTAL, princípio e fim de uma situação sem começo nem final, que na Terra uns chamam de Paraíso, outros de Céu, outros de Nirvana, gozará então da FELICIDADE UNIVERSAL.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Conto # 397 – 7.5.2006

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 02/09/2014
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