384-MINIATURIZAÇÃO- Uso intensivo do celular
Ela caminhava ao meu encontro, e era um monumento de mulher: alta, morena, longos cabelos negros derramando-se por sobre os ombros. Elegante, na medida certa para ser miss qualquer-coisa. E vinha sorrindo. Para mim? O olhar era mesmérico, e a cinco metros de distância não dava para ter certeza. Por debaixo das madeixas negras e longas, parecia estar coçando a orelha direita. Seus lábios movimentavam-se, mas como sou um pouco surdo devido à idade, não compreendi o que dizia. À medida que se aproximava, percebi os belos dentes entre-escondidos pelos carnudos lábios sensuais. Aliás, era toda uma sensualidade só. A cadência do andar, o rebolado dos quadris, as longas pernas, os braços, os seios mal escondidos por amplo decote, enfim...um mulherão.
Devia ter algum problema do no ouvido direito? Conservando sempre o sorriso, já bem próxima , ela me olhou bem nos olhos e perguntou:
= Mas onde é mesmo que você mora? – Enquanto pendia a cabeça de lado, sempre coçando a orelha. — Me dá seu endereço!
Quase tive um enfarte. Meu coração disparou e senti as faces enrubescerem-se. É hoje! Pensei. Ela quer saber onde moro!
Foi então, que, quando ia lhe responder, já estando quase vis-à-vis, como dizem os franceses, foi que percebi: ela estava falando num minúsculo telefone celular.
Antônio Gobbo –
BH, 01.02.2006 –
Miniconto: Conto # 384