O APOSENTADO
O APOSENTADO
Como sempre fazia sacou sua aposentadoria despediu-se dos conhecidos e tomou o rumo de casa. O dia estava uma beleza, e caminhar lhe faria muito bem. Por isso dispensou a carona da filha.
- Vou andando. Fazer uma caminhada é até bom para mim. – disse à filha.
- Tá bom, pai. Te espero em casa então.
Até sua casa dava uns bons trinta minutos de caminhada, mas precisava se exercitar, e aproveitaria para passar na panificadora do seu Manuel, para jogar conversa fora com os amigos.
Tranquilo não percebeu quando o garoto se aproximou. Devia ter os seus dezesseis anos, no máximo dezessete e parecia nervoso.
- É um assalto, velho. Passe o dinheiro.
Calmo, olhou bem nos olhos do rapaz e disse:
- No meu tempo, com essa idade já trabalhava e estudava.
Sem prever a reação do idoso retrucou:
- Sermão agora? Isto é um assalto. Estou lhe falando!
- Você vai levar o meu dinheirinho, conseguido com muito esforço, para comprar o quê? Drogas?
Com muita calma procurou conversar.
- Está nervoso? È a sua primeira vez, não?
Titubeou.
- É, é... minha primeira vez.
- Deixa disso. Pode ver que estamos a sós. Eu esqueço esse nosso encontro, você vai para casa, esfria a cabeça e reflita sobre o que você quer da vida.
- Isso é um assalto. Eu atiro.
- Com essa arma de brinquedo? Nunca vai conseguir.
Ficou completamente embaraçado. Não esperava por isso, e meio sem jeito concordou.
- Convido você para ir tomar um café comigo, ali na padaria. Seus pais sabem do que você está fazendo?
- Nem imaginam.
- Pois então. Você iria jogar tua vida fora se continuasse com isso. Já pensou perder a liberdade e passar anos atrás de uma grade?
Meio chateado concordou com o aposentado.
Ao chegarem à panificadora, notou que o seu Manuel colocara um anúncio: “Precisa-se de um atendente. Não precisa ter experiência.”
Olhou para o jovem e disse:
- Quer esse emprego? Eu te apresento ao seu Manuel.
- Mas nem conheço o senhor!
- Meu nome é Juvenal. E o seu?
- Ricardo. E eu quero esse serviço.
- Muito bem. Português, pode tirar o anúncio. Tenho um candidato aqui comigo.
Sem saber o que dizer, Ricardo perguntou:
- Como soube que a arma era de brinquedo?
- Eu conheço muito. Eu fui do exército.