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   "A CACA DA MADAME"

       Nosso entusiasmo não diminuiu por causa do incidente, acho até, ajudou a esquentar mais a vontade de ficarmos juntos, tanto que já não desgarrávamos as mãos e as vezes, eu a pedido dela fazia a gentileza e me abaixava para um beijinho despistado, e que já estava me deixando com as bolotas doloridas, de tanto o pássaro subir e descer, secar e molhar de novo e sempre em riste como a lança de São Jorge, pronta para espetar o dragãozinho tanajural.
     
     A viagem transcorria lenta para nós,  "Selma e eu" muito divertida.   Eram quase cinco horas e de repente ouvimos o estalo de alguma coisa se quebrando e o motorista freando o veiculo de súbito e logo descendo para constatar o que teria acontecido, dai a pouco ele anunciou os danos. Quebrou o diferencial vamos passar aqui esta noite por que só virá outro ônibus lá pela madrugada, mesmo assim vem em sentido contrário ao nosso, o que vamos fazer, será esperar que ele chegue a uma outra cidade e nos envie ajuda, o jeito é nos agüentarmos como puder e ter paciência.
        

     Se mineiro é paciente? Nossa senhora da paciência! Êta povinho mais paciente e desconfiado sô! Todo mundo já tratou de ir tirando velhos paletós e blusas e se preparando para passar a longa noite. Eu vislumbrando possível idílio com final feliz, onde o lourinho em algum cantinho poderia finalmente  perder a tão grudada virgindade. Se a Selma na hora H não resolvesse desistir. Embora ainda faltasse mais de uma hora para escurecer, o local onde o veiculo quebrara era entre morros e já não se via o sol. Estávamos perto de Ouro Preto e o nome do lugar era como ficamos sabendo mais tarde “Córrego do Deus me Livre” o nome mais apropriado que se poderia encontrar. Lugarzinho feio, credo! Acho que é lá que o Judas perdeu as botas e coronel  Belarmino matou a assombração.

     Foi passando um senhor, montado a cavalo num burro... eu heim! “Montado a cavaleiro no burro”. Acho que está certo agora. Ou pelo menos não tão errado. Alguém cumprimentou ao estilo bem mineiro: - tarde seu cavaleiro, - tarde sim sinhô, respondeu o passante dando uma ordem ao burro que estacou. O que perguntara voltou a fazê-lo: - sabe se não tem aqui perto alguma venda que vendam trem de comer? “Ah não sabia? Mineiro come trem , e gosta!” – Aqui, venda num tem não, mais lá nu artim deste morro, disse ele apontando com o queixo, tem a casa da viúva dona Antônha, que durante a semana ela serve cumida e drumida pros carreteiro que puxa saibro pa encascaiá a istrada. Finar de semana fica vazia, pru que os carretero vai simbóra, sô cêis fô inté lá ela arranja cumida pró cêis e inté drumida.
O perguntador agradeceu encerrando a conversa e mesmo todos nós tendo ouvido o colóquio, ele fez um relato repetindo novamente toda a conversa que nós, como mineiros pacientes e educados, ouvimos prestando muita atenção. Quando acabou a lengalenga o motorista falou para todos que conhecia a casa e quem quisesse ir não precisaria se preocupar, pois, ele passaria na tal casa se o socorro chegasse. 

                                                                
                                                        Cont:
Trovador das Alterosas
Enviado por Trovador das Alterosas em 13/08/2014
Reeditado em 17/08/2014
Código do texto: T4921229
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