A CACA DA VELHA
Valdemiro Mendonça
Extraído do meu livro “O PAPA RISOS”
Cap: I
Os nomes escritos aqui são fictícios com exceção do Sr. Manuel Xavier a quem devo um grande respeito e que já não está entre nós. A viação Pássaro Verde e Viação São Geraldo, ambas criadas em Caratinga, Pioneiras dos tempos de estradas sem asfalto, certamente participaram de histórias incríveis. No entanto embora a viagem tenha existido ela não se passou exatamente assim, e são recordações de uma cidade que ainda amo muito.
A cidade é Caratinga Minas Gerais, a data mil novecentos e sessenta, o protagonista da história, um trovador irreverente que sempre teve uma vida cheia de trapalhadas e infortúnios, mas que nem liga de contar, portanto vejamos o tal causo.
Manesinho já morando há muito tempo em andar acima do nosso plano, era sapateiro! Eu trabalhava com ele na sua sapataria, ”Sapataria Xavier” garoto de quinze anos, olhos muito azuis, cabelos louros cor de palha de milho já maduro, peito largo, risonho, já estava atraindo o ávido olhar das mulheres mais velhas como sempre aconteceu! A juventude é a fase mais linda do ser humano, seja ele: “macho ou fêmea”, às vezes são apenas olhares para o belo, às vezes, a cobiça fala mais alta, mas, isto era festa para um garoto sadio e doido para experimentar a delicia do que os mais velhos falavam sobre as mulheres e o sexo
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Nossa bela cidade mineira estava como todo o Brasil, a passar por sérias dificuldades de transporte! O produto manufaturado estava pela hora da morte, por tal razão eu já tinha uma vez viajado à Belo Horizonte, distante trezentos quilômetros, e junto com o senhor Manuel efetuado as compras de couros e outros produtos necessários ao trabalho na sapataria e que custavam à metade do preço, comprados na capital. Mais uma vez teria que viajar, mas desta vez sozinho.
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No sábado já estava as seis horas da manhã esperando na rodoviária a hora do ônibus da viação pássaro verde encostar-se ao ponto para o embarque; Minha mala era uma pequena caixa retangular feita de eucatex e tinha uma porção de nomes feios, menos mala, coisas da época. O cabelo emplastado de brilhantina, calça com bolsos na frente, camisa de mangas curtas e com duas dobras para deixar os músculos mais a mostra, o conjunto: “bem mais bonito e cheiroso do que filho de barbeiro”.
O ônibus mal encostou e as pessoas rapidamente já se movimentaram, fazendo uma fila na porta, os que tinham malas grandes ficaram junto ao cobrador até terem certeza de que seus tesouros estavam seguros no porta malas e não corriam risco de ficarem para trás. Eu subi logo e acomodei a: “sai que eu lhe piso, um dos muitos nomes da minha maleta” no bagageiro interno e tratei de sentar-me para deixar livre o corredor.
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A operação de embarque foi rápida e já o motorista se posicionou funcionando o motor pronto para partir quando, com dificuldade subiu uma senhora pesando bem uns cento e quarenta quilos e atrás, uma garota linda, cabelos claros cor de mel, olhos verdes e um corpinho tipo tanajura, charme dos anos sessenta, sonho de todo garoto com tesão de cabritinho novo, meu caso! Nada a fazer, esperei como todo mundo o desenrolar da situação e que, para meu infortúnio ou: minha grande alegria, acabou com a senhora apaquidermada, vindo sentar-se justamente no lugar onde o lourinho, futuro trovador estava tão bem, desacompanhado, à beldade, "senhorita tanajura", ficou em pé no corredor e pelo visto era assim que iria viajar os trezentos quilômetros até a bela capital mineira, isto, se não houvesse algum cavalheiro a bordo; E havia! É... justamente: quem mais poderia ser o gentil? A besta quadrada do trovadorzinho! Assim que o trem... não, ônibus, "trem é coisa de mineiro, só nós é que temos, hoje é tão importante que está sendo imitado".
Assim que o ônibus partiu, eu levantei-me e gentilmente ofereci o lugar para a senhorita da bundinha arrebitada que sorriu meio sem graça, mas antes que ela pensasse em recusar eu já tinha pulado por cima das pernas bem roliças da senhora sua mamãe... Eu ficar lá... ia chegar um pastel no final da viagem. Ah o tratamento mais carinhoso com a simpática mãe? É que eu já calculara as possibilidades do parentesco entre nós tipo genro/sogra.
A linda menina sentou-se logo que a generosa massa de banhas imediatamente após a minha saída, deslocou-se para a janela se abanando com um leque cheio de desenhinhos de mulheres nuas dançando o can-can, sinal de que a procedência da minha pretendida sogra ou pelo menos o leque, era de caráter não muito... digamos elogiável.
A garota mais do que sentar... espremeu-se no restante do espaço que sobrou e a anta giratória “eu” me posicionei para a pequena viagem em estrada de terra sem asfalto “míseros trezentos quilômetros”, um nada para um jovem, belo, gentil, cavalheiro e se preparando para no futuro, ser um trovador que deve por excelência: praticar a arte de agradar as mulheres com gentilezas e carinhos”.
Faltavam ainda mais de dois meses para o natal, e alguém já estava puxando saco de algum parente na capital e levando um peru de presente; O peru em si, não teria a menor importância, se não fosse um gaiato que pensava ser o inventor da pólvora e começou a assobiar para o maldito peru que respondia a cada assobio com um belo e sonoro glu-glu-gluúúúhéhé - No primeiro momento foi até motivo para risada geral, mas depois a coisa foi só enchendo o saco e quanto mais o peru gluglusava, mais o peste do cara assobiava e mais eu me irritava até que resolvi tomar uma atitude.
Quando me virei pronto já para brigar com o cara, o motorista gritou lá da frente, êpa, vamos parar com esta bagunça aí, ou este peru vai ter que descer; Aí a dona do peru pediu ao grande artista assobiador que parasse e ele atendeu, mas se não, eu ia... Bom deixa pra lá que eu sou modesto, mas foi por pouco, eu ia pegar o camarada, bem, eu ia pelo menos olhar de cara feia.
O peru calado, vamos aos detalhes da situação que me interessava. Depois que a linda sentou-se, eu todo sestroso dediquei-me a fazer a corte a senhorita tanajura. Conversa vai, conversa vem, em poucos minutos eu sabia quem era a menina, Selminha... Selminha por minha conta, "Selma" era como se chamava. Agarrei com uma mão num tubo acima da minha cabeça, e a outra mão segurei no braço da poltrona onde estava sentada a Selminha. Eu notei que quando o veiculo pulava caindo e saindo dos buracos minha perna encostava-se no joelhinho da menina e ela sorria.
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