Argentina
Argentina – 1978, ano em que a seleção Argentina foi campeã. Encontrava-se no meio da torcida verde e amarela em ritmo de samba, Andréa, com seu amante Irá, que não deixava de acompanhar a seleção brasileira em todas as Copas.
- Ué, você é o Irá, filho de santo de Mãe Generosa?
- Desde quando cheguei ao Rio. Tudo bem, bicho?
- Conhece Andréa?
- Ah, já a conheço de nome através de jornais no Brasil. Muito prazer, Beto – disse com humor – Betinho na intimidade...
Saíram do estádio Mar del Plata e pegaram um táxi. Quando chegaram no Hotel Cor de Rosa, Irá participou a Beto que iria se casar com a Andréa.
- Eu não sabia que você era noivo da Andréa – disse Beto acendendo um cigarro brasileiro sem filtro. Ofereceu conhaque ao casal, mas somente Irá aceitou, Andréa sacudiu a cabeça negativamente dizendo:
- O médico me proibiu de beber por algum tempo, mas se tivesse bebendo preferia uma dose de cana a la caipirinha bem pernambucana, mesmo.
Beto cruzou as pernas, jogou a cinza de seu cigarro no cinzeiro rosado e disse para o casal que havia trazido dois pacotes de cigarros sem filtro do Rio de Janeiro e seis garrafas de cachaça de Pernambuco, dos quais restavam uma garrafa e meia e alguns maços “estoura peito”, dizendo em contrapartida, com gíria pernambucana:
- Um toro e meio dá pra fazer várias doses.
Os dois filhos de santo estamparam em seus rostos uma tremenda alegria. Irá lembrou-se logo de sua terra natal (Buenos Aires - Pernambuco - Brasil), que a garrafa de aguardente era pedida por “um quilo” e em Olinda, terra do padrinho de Andréa “uma ampola”, “um toro”, etc. Quem diria que o Mosteiro de São Bento iria ensinar a Andréa aquele ofício? Lembrava ainda das pitangas que Andréa apanhava do Mosteiro de Olinda para as “batidas” que tomavam com os amigos no Alto da Sé. As pitangas eram retiradas nos dias de visita e os olhos de Andréa ficavam lustrosos, transmitindo desejo de participar da farra. Os monges faziam o maior protocolo para que não soubessem dos segredos-gay’s do convento. Ao mesmo tempo, lembrara que um dia Andréa contou que a sua mãe, cristã, disse que havia em Olinda um tal de Frei Atanásio que colocava no bolso esquerdo rasgado de sua ruça batina o seu pênis, misturando a alguns confeitos, para que as meninas o pegassem em cada uma de suas mãos, subindo-as para o céu de Olinda.
Foi feita a caipirinha, embriagaram-se e perderam a derrota da seleção “Canarinha”.
(Capítulo 2 do livro “Aonde iremos nós?”, ed. do autor – 1983).