TRÊS SEMANAS E UM ROMANCE

Acredito que a maioria das pessoas já viveu um romance rápido, daqueles de inverno, primavera, verão, outono, sei lá. Não importa a estação, esses amores passageiros não escolhem data para nos fisgar. E assim aconteceu comigo. Há mais de um ano conheci o Felipe. Moreno, alto, sorriso bonito e com um sotaque típico carioca, daqueles de quem troca o s pelo x.

A primeira vez que o vi, foi na comemoração de Bodas de Ouro dos avós da minha melhor amiga. Eu e minha melhor amiga estávamos tentando a todo custo configurar a TV para passarmos um vídeo que tínhamos feito para os seus avós, mas era inútil qualquer tentativa.

Percebi a presença de Felipe e o seu olhar atento a mim, como se fosse me devorar a qualquer instante. Ignorei os seus olhares e depois de inúmeras tentativas, conseguimos passar o vídeo, que foi aplaudido por todos. No meio dos aplausos, instintivamente olhei para Felipe, que aplaudia e me olhava também. Mais uma vez, sem reação, desviei o olhar. Como já era tarde, me despedi de todos e fui para casa.

Não veria mais aquele garoto outra vez, eu pensava. Mas, sempre que eu visitava minha melhor amiga – o que eu fazia com frequência – eu o via. E isso, de alguma maneira, mexia comigo, ainda que eu tentasse evitar.

Naquele mesmo dia, minha melhor amiga comentou comigo que seu primo havia dito a ela que ficou interessado em mim, fazendo milhares de perguntas e levantando um enorme questionamento sobre mim. Ela me contou rindo, e eu fiquei sem reação, apenas tentei me embalar no seu riso. Ela disse que ele chegaria logo, e para não ter que cruzar com os seus olhares outra vez, eu fui para casa, no caminho, pensei no que ela havia me dito e não tirava aquela imagem da primeira vez que nos vimos da cabeça.

Chegando em casa, balancei a cabeça dizendo a mim mesma que aquilo era bobagem e eu o esqueceria. Alguns dias se passaram, não fui à casa da minha amiga e tinha tirado aquele garoto do pensamento. Porém, no final de semana seguinte, minha amiga me convidou para ir com ela, os tios e primos para o shopping, eles iam jogar boliche. Ela disse que o seu primo havia me convidado para ir. Pensei em dizer não no mesmo momento, mas depois de tanta insistência da parte dela, eu acabei cedendo ao seu desejo.

No carro, sentamos um ao lado do outro, eu me sentia incomodada com a sua presença e com os olhares dos seus tios para mim. Mas tentei entrar no embalo e cair na brincadeira, para não ficar de cara feia na frente de todo mundo. Quando chegamos lá, andamos um bocado antes de irmos jogar boliche, em um momento, nos deixaram sozinhos. Eu não sabia o que dizer, nem ele. Me sentia estranha e desconfortável por estar ao lado de um estranho. Meu corpo se contraia, e ainda que a cena fosse normal, eu me sentia com os pés fora do chão.

Ele falou e quebrou o silêncio. Eu, que antes olhava para o chão e para os lados, passei a olhar no fundo de seus olhos, que eram pouco claros e com milhares de significados que eu ainda desconhecia. Conversamos sobre tudo. Contei o que fazia, o que pretendia fazer, falei do colégio, dos meus amigos, de Nickelback, que era por coincidência, nossa banda preferida.

Ele até me questionou sobre romances anteriores. Tentei desconversar contando poucos detalhes. Eu disse a ele que para mim, ainda era esquisito estar conversando com um estranho. Ficamos alguns minutos conversando e, depois de rirmos falando sobre assuntos em comum, já me senti menos desconfortável perto dele.

Fomos para o boliche, e eu, que não tinha muito jeito para jogar aquilo, fiz alguns strikes, pouquíssimos. Enquanto todos faziam vários em sequência. Observava Felipe timidamente em alguns momentos, e em vários deles nossos olhares se cruzavam e um sorriso brotava em nossos rostos. Inevitável.

Depois do boliche, fomos comer pizza. Felipe mais uma vez sentou ao meu lado. Comemos e depois de passearmos todos juntos no shopping, eu fui na frente com Felipe para o estacionamento. Onde começamos a conversar sobre algumas coisas. No meio disso, Felipe me indagou:

- Será que eu poderia te beijar? – Ele disse, dando passos curtos até mim, diminuindo a distância que havia entre nós.

- Existem certas coisas que não se pedem. – Eu disparei, fitando-o. Ele me encarou e deu um sorriso de canto.

Ele não demorou muito, e delicadamente passou suas mãos pelas minhas costas e me envolveu, me apertando firme à ele, fazendo com que os nossos corpos ficassem unidos.

Minhas mãos ficaram suspensas em seu pescoço, fazendo uma leve carícia enquanto ele me beijava. Sorrimos ao final do beijo e ele me deu um abraço leve e rápido, tempo dos outros chegarem e entrarem no carro.

Na volta, sentamos lado a lado. Nossos corpos agora pareciam ter mais intimidade. Suas mãos tocavam as minhas e ainda que isso me causasse algum arrepio, elas não eram mais estranhas para mim.

Fomos o caminho todo juntos, rindo e cantando todas as músicas que passavam na rádio. Ao final, minha melhor amiga e ele me deixaram perto de casa, e quando fomos nos despedir, ele parecia não querer me deixar ir, embora eu devesse. Confesso que no fundo, eu também não queria, mas tinha que ir. Nos despedimos com outro beijo, mais intenso, pela intimidade que nossos corpos já possuíam, porém mais rápido.

Soltei um beijo de longe e acenei para ele, que ficou imóvel me vendo dobrar a esquina. Quando cheguei em casa, minha alegria foi notória para minha mãe, que perguntou como havia sido o passeio, respondi com um “foi ótimo” e fui para o quarto.

Liguei o computador e coloquei uma música do Nickelback, Far Away. Aquela música que enquanto conversávamos, ele disse que se lembraria de mim sempre que ouvisse. Aquela, para mim, era a música que me representava e nos representava bem. Fechei os olhos lembrando dele e depois de alguns minutos, resolvi pegar o celular, onde vi que havia uma mensagem. Era dele. Dizia: “Foi ótimo passar a tarde com você. Espero que tardes como essa se repitam mais vezes. Beijos, Felipe”. Aquela mensagem me fez ganhar a semana, ainda que com simples palavras. E mesmo depois de ter negado, eu sabia que Felipe havia de alguma forma me encantado.

Nos dias seguintes, eu o via sempre, e todas as vezes que nos víamos conversávamos sobre tudo, ele me contava da sua cidade natal e dizia que um dia me levaria para morar com ele. Indiretamente, ele me pedia em casamento. Eu levava sempre na brincadeira e dizia que ele se esqueceria de mim assim que chegasse lá. Porque afinal, ele só estava na minha cidade de passagem, num passeio rápido. Ele negava, eu tentava não pensar no dia que teríamos de nos despedir.

Mas, como nem tudo dura para sempre e o que é bom, infelizmente, um dia acaba, depois de três semanas lindas e risonhas ao lado dele, esse dia chegou. Eu desenterrei minha mania de escrever e fiz para ele uma carta de “despedida”, contando como foram maravilhosos os dias que estive com ele, e o certificando de que jamais esqueceria aqueles dias.

A carta dizia:

“Você vai embora. Eu sabia que mais cedo ou mais tarde esse dia iria chegar. E, sinceramente, não sei como me despedir de você. Te escrevo com a sensação de que te conheço há tanto tempo, mas na verdade, te conheço há um tempo tão curto. Nesse tempo curto em que convivi com você, aprendi coisas e sei que ensinei coisas à você também.

Sei que depois de conhecer você, nada voltará a ser igual. Espero que não só pra mim. Espero que alguma coisa mude para você também. Você vai pra longe de mim, e só de pensar que não vou mais te ver todos os dias, me dá um aperto no peito, sabe? Meu coração fica pequenininho.

Porque eu sei que me apeguei a você, sei que você fará parte de mim para sempre e sei que sempre me lembrarei de você. Jamais ouvirei uma música do Nickelback sem que eu pense em você, nem tampouco ouvirei teu nome e isso passará despercebido.

Eu quero muito te agradecer, de verdade, de todo coração. Por ter me feito sorrir, por ter me abraçado forte, por ter confiado em mim e por me permitir confiar em você. Obrigada. Muito obrigada por colocar vários sorrisos verdadeiros em meu rosto todos os dias. Saiba que onde quer que eu esteja, lembrarei do cara do sotaque carioca que me chamava de chata, mas que gostava (e aturava) minha chatice. Ficarei muito feliz ao saber que você está bem, que está se cuidando e seguindo em frente. Pois é o que eu espero.

Eu queria muito que você ficasse, queria poder fazer você ficar, mas eu não posso. E é por não poder isso, que eu quero que você seja muito feliz. Onde você for, com quem estiver e independente de qualquer coisa. Se cuida, se ama, se valoriza, se faz feliz. E tenta não esquecer tão rapidamente de mim, vou tentar fazer o mesmo.”

Eu desejei à ele uma boa viagem, disse que não gostava de despedidas e detestava chorar na frente das pessoas. Deixei a carta com ele e dei um último beijo, o mais longo e doloroso de todos.

Para muitos, o que eu vivi com Felipe foi algo passageiro e sem valor, de fato, foi passageiro, mas teve um valor imenso para mim. No início, achava que realmente ele só seria mais um para que eu esquecesse, mas naquele momento, no caminho de casa, eu tive certeza que não.

Eu fui para casa, ele também. Nos dias seguintes, eu senti a sua falta, e desejei em silêncio que ele fosse feliz. E ele foi.

Débora Laís
Enviado por Débora Laís em 30/07/2014
Reeditado em 30/07/2014
Código do texto: T4903112
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