332-PEGA LADRÃO!- Ladrão desastrado

Não era a noite de sorte de Zeca Fuminho. Se tivesse lido o horóscopo do dia, teria lido: “Os nascidos sob o signo de Aquário devem se abster de atividades intensas no final da noite.” Analfabeto, o aquariano não tinha mesmo como saber dessa importante informação. Assim, aventurou-se, como fazia quase todas as noites, a uma sortida furtiva pelos quintais e casas, a fim de se apossar do que estivesse à mão. Enfim, o larápio, que se pode dizer autêntico “ladrão pé-de-chinelo”, foi à luta.

Tentou invadir, sem sucesso, uma residência da pacata rua Mojita. Fez barulho ao arrombar a porta a pontapés. Foi surpreendido pelo proprietário. Fugiu, e na fuga, alertou a vizinhança. O alarido, no silêncio da madrugada, acordou os moradores não só da rua Mojita como das ruas mais próximas. Logo-logo, cerca de vinte pessoas estava nas ruas, aos berros de “Pega ladrão! Pega ladrão!”.

A fuga do ladrão foi alucinante. Perseguido sob uma saraivada de pedras, fugiu correndo pelos muros e telhados, cortou braços e mãos em cacos de vidro e arame farpado, subiu por um cano até o telhado de um barracão, onde, ao quebrar-se uma telha de amianto, despencou de uma altura de quase quatro metros. Na queda, fraturou o braço direito e o tornozelo esquerdo.

— Quando caiu, ouvimos ele gemendo dentro do galpão. — Um dos perseguidores informou à polícia.

A porta do galpão foi arrombada e os moradores, exaltados, cercaram o meliante, estendido no chão. Vendo o perigo que corria, o ladrão começou a gritaria.

— Socorro! Socorro! Não me matem! Socorro, polícia!

A polícia, que já tinha sido acionada, chegou com uma presteza fora do comum.

— Num demorou nem cinco minutos, chegou o carro da PM. — Outro morador declarou. — E um policial já chegou atirando para o alto. Pra abrir caminho entre o pessoal que cercava o bandido, deitado no chão. Um perigo. Podia ter atingido qualquer um de nós.

O ladrão desastrado foi colocado “com muito cuidado” (disse um dos participantes da perseguição) no carro da polícia, e levado para o hospital mais próximo.

No dia seguinte, medicado e após um longo período de sono recuperador, completamente à vontade na maca, a caminho da sala de Raios-X pra verificar as fraturas, Zeca Fuminho comenta com a enfermeira:

— Dei sorte. Se não fosse os guarda, acho que o povo me matava. Ainda bem que nessas ocasiões tem a polícia pra salvar a gente.

Antonio Gobbo =

Belo Horizonte, 3 de março de 2005.

Conto # 332 da série Milistórias

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 25/07/2014
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