Desamor
Ela chamava, clamava,apelava, gritava teu nome em busca do teu socorro. Mendigava um pouco, um instante de tua compreensão, ao menos da tua atenção e em vão, via-te frio, distante, ignorando-a, como se ela fosse invisível.
Para ti ela era teu objeto de uso e de desuso. A ela cabia tão somente o direito de não ter direitos.
Mas, ela continuava ali, a tua frente, sentindo a tua pele quente, tua respiração e até o pulsar do teu coração couraça. E, apesar do tempo e dos dissabores, ainda te via, te ouvia, te atendia, te acolhia e te amava. Deixara de se amar para amar tão somente a ti, que nunca amou a ninguém.
Na sua fantasia, alimentava a expectativa de mudança; de melhoria; de um acordar feliz sem cobranças, sem acusações. Alimentava principalmente a esperança de ser amada e respeitada.
E nessa ilusão se deixou abater.
Os choros reprimidos encharcaram seus órgãos, afogaram sua autoestima e os gritos sufocados implodiram em metástase.
E só um pedido lhe fora concedido: na sua lápide consta a inscrição – “O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. Salmo 30:5