A vontade de escrever (continuação – 3.ª parte)
Minha mãe continuando sua narrativa:
Acontece meu filho que uma coisa estranha me aconteceu no outro dia, fiquei inesperadamente doente, com febre altíssima, por minha vontade não conseguiria sair da cama, sempre fui destemida, naquela época com meus trinta e poucos anos estava no auge de minha teimosia.
--- Teimosia porque mãe?
--- Porque teimei com seu pai e fui na casa do homem ateu, seu pai tinha razão porque onde já se viu uma pessoa naquelas condições sair e ainda por cima tentar resolver uma situação complicada. Mas quando algo se refere à nossa fé tudo pode mudar, vou lhe explicar o que aconteceu: Eu estava realmente doente, se dependesse de mim ficaria tranquilamente na cama, mas meu compromisso de ir à casa daquele homem era importante, fiz um pedido a nosso Senhor, de que se fosse sua vontade eu continuaria o meu firme propósito em ir.
Completamente restabelecida de uma hora para outra, de maneira inexplicável aos olhos humanos, eu fui à casa da minha amiga que tinha o marido ateu.
Eu completamente interessado, estava afoito pra escutar e escrever esta história
que sabia que tinha acontecido com minha mãe, a inesquecível sra. Maria Vitória
Florentino. Faltava muito pra terminar de escrever a sua biografia, e este relato
mexia com minha imaginação por se referir a uma intrigante história de muita
coisa do sobrenatural. Então ela continuava a contar detalhadamente, tinha uma
capacidade nata de me fazer sentir de estar vivendo aquela história a muitos
anos atrás me dizia com toda firmeza e dedicação:
--- Pois é, meu filho, cheguei naquela casa, um vento horrível apareceu de repente, parecia querer me empurrar pra fora quando tentava entrar na casa. Notei que a casa estava estranha, não inspirava aconchego, e olha que era uma casa bonita e chique pelo padrão daqueles tempos. A minha amiga parecia contente em me ver, me falou:
--- Entre dona Maria!
--- E ele, como está?
--- Ah! Minha amiga, ele está terrível, já chorei tanto, de uns tempos pra cá!!! Se ele apenas dissesse que não gosta de mim, não sentiria tanto. Mas vive brigando com os filhos dizendo na cara deles que queria que eles não existissem. Na minha casa não tem paz. Ele está no quarto, cada vez mais doente, se maltratar a senhora peço que me perdoe.
Eu ia entrar no quarto, minhas pernas tremiam, murmurava baixinho: -- seja o que o Senhor quiser, o Senhor é minha força e nada me faltará. Os segundos pareciam horas, até que entrei. Vi que aquele homem estava sujo, barbudo e mal encarado, apesar disto tudo podia concluir se não estivesse nestas condições ele era muito bonito. Sem me dar tempo de abrir a boca ele me disse:
--- Já sei do que a senhora quer me falar, porque é igual a minha mulher, seguidora dos padres!...
Naquele instante criei coragem e revidei:
--- Seguidora dos padres não, somos seguidoras de Cristo, só ele é a nossa maior riqueza, nossa maior alegria, o senhor estaria melhor se suplicasse esta presença divina.
Aquele homem deu umas gargalhadas e depois blasfemou:
--- Deus! Cristo? Isto é a maior lorota que possa existir. Bem, Cristo existiu mas acredita que foi tudo aquilo que falam e está escrito sobre ele? Seria um bobo se não usasse os grandes poderes em benefício próprio, por exemplo viver rodeado de belas mulheres!
--- Eu lhe supliquei:
--- Pelo amor de Deus, não blasfeme, pois está atraindo para si todas as desgraças.
--- Há! Cai fora, não quero papo com a senhora nem agora nem no dia do São Nunca!
Minha mãe continua a me contar:
--- Fui expulsa daquele quarto como se fosse um animal repugnante, minha amiga completamente envergonhada me dizia:
--- Há! Dona Maria, me desculpe, sabia que ia acontecer isso.
--- Pode ficar tranquila porque eu ainda vou voltar, falei tentando lhe consolar.
--- E a senhora ainda voltou?
--- Voltei, só que levei alguns dias pra recuperar, aquele diálogo monstruoso me arrasou, era como se alguma coisa tentasse retirar tudo de mim. Rezava, pedia a Deus misericórdia para aquele descrente, me veio na mente se eu na minha intromissão não estaria piorando o íntimo daquela criatura, se não estava piorando a vida da minha tão dedicada amiga e companheira do apostolado.
Tive a ideia de procurar orientação de um padre amigo e bom conselheiro, ele me tranquilizou dizendo que estava fazendo a coisa certa, por sinal a mais certa que possa existir, porque fazendo assim eu estava praticando um ato de amor, tentando fazer o homem acreditar naquele que é realmente a razão de nossa existência.
Continua... As histórias continuam(...)