"O CAUSÍDICO E A MERETRIZ"

Um senhor um tanto longevo,sossegava o seu corpo sobre restos de jornais velhos e papelões,embaixo de uma marquise de um prédio abandonado entre as ruas sete com a vinte e três,quando os seus pensamentos arrastavam através de suas melancolias em um tempo longínquo.Suas noites de pândegas manchadas nas orgias noturnas,pelos cabarés empenachados de prostitutas,regados ao sorver de bebidas,presenteadoras aquelas da vida fácil.

Nestas andanças pelas casas noturnas de diversões e Dancing, enamorou-se de uma bela rapariga,cujo pseudônimo,Libélula da noite.Nome um tanto quanto estranho,mas que tinha os seus motivos.Diziam a boca pequena,que a borboleta noturna,sugava o néctar daqueles mais afoitos dos prazeres mundanos.

Ficara com ela por várias e diversas vezes nos nichos do amor adornados de amores incontidos,alem de apadrinhar todas as suas vontades.Em uma destas noitadas dos vais e vem de sua vida,resolveu-lhe fazer um proposição:A de leva-la consigo e faze-la mulher de bem.

Mariposa noturna em cima de suas emoções e simplicidades,sentiu as lágrimas a rolarem copiosamente pelas suas faces,fazendo que em meio a elas,escorressem o ruborizar bem avermelhado do pó do ruge misturados aos riscos negros das sombras carregadas de seus olhos azuis.Não se conteve,e em comoção,caiu ela de joelhos aos pés de Walter.Incrédula, apenas conseguiu balbuciar algumas palavras:-Walter,é verdade mesmo isto,não estou a sonhar?!

Walter passivamente,como erguer um fardo carregado das intempéries de uma vida sofrida,tira-a daquele estupor lhe dizendo:-Não minha querida,você de hora em diante será a Sra.Walter e terá a vida que não teve o privilégio de ser lhe proporcionado.Terás a partir destes instantes,casa,comida,roupas mais decentes e outras tantas que estarão por vir.

Dr.Walter,era um bem sucedido advogado de renome daquela cidade mediana,que contava aproximadamente com cento e vinte mil habitantes.Fora criado nos moldes tradicionais da família mineira,com resquícios de um Coronelismo feudal,que por aquelas bandas,ainda predominava nos velhos tempos.Jovem ainda na época,porem viúvo.Perdera sua amada esposa em um lamentável acidente de carro,quando vinham da fazenda de seus pais.Com esta desgraça toda,Deus veio a lhe prover com um casal de filhos,como um gesto de compadecimento a ele,José Eduardo e Maria Rita.Ele fez direito no Rio de Janeiro pela Gama Filho, e doutorado em Portugal.Logo de posse de seus diplomas,veio a deslocar para a sua terra natal,onde já se deparou com um escritório luxuoso ofertado pelo seu pai em detrimento de seu feito como causídico.

Seu filho José Eduardo,como ele,cursava ainda a faculdade de direito,enquanto Maria Rita,hora,estava a terminar medicina.

Dr. Walter,de posse de Nara,pois este era o seu nome verdadeiro da Mariposa da noite,acabara de colocar todos os apetrechos da própria dentro do seu carro,enquanto ela chorosa se despedia de suas amigas da vida fácil.Vagavam agora,nos pensamentos de Walter ao transitar pelas ruas daquela cidade,de como apresentar uma mulher estranha à sua família,com formações rígidas e tradicionais.Arguia com os seus botões de como reagiria,não somente a sua família mas como os demais amigos,clientes,a sociedade a qual frequentava com a sua ex esposa,já que era um homem de moral impoluta,irrefutável.Estava ainda absorto em seus pensamentos quando foi sacudido pelo tocar macios dos lábios de Nara em seu rosto:-Obrigado querido.Estou um pouco ainda a sonhar e vai demorar muito para que eu possa assimilar estes fatos.Dr.Walter por sua vez apoiando suas mãos sobre os joelhos de Nara lhe disse:-Não se preocupe meu anjo,eu a amo,e não teria feito o que não saberei dizer ainda,qual será o efeito,mas é o que me basta.Lágrimas mais uma vez rolaram pelas faces de Nara,quando ele,delicadamente passando seus dedos pelo seu rosto as enxugou.

Nara,realmente era uma beleza de uma leveza impar.Estonteante que causaria com toda a certeza,invejas as mulheres da sociedade daquele ambiente o qual ele frequentava .A totalidade dos homens que frequentavam aquele antro de prazeres,onde Nara vivera momentos de repúdios,segundo ela,queriam sempre a procura de Nara diante de sua beleza inebriante.

Assim que chegaram a casa de Walter,ela,ao colocar seus pés acompanhadas daquelas vestes espalhafatosas no Hall de entrada daquela mansão,mais uma vez debulhou-se em lágrimas diante daquelas luxuosidades que dantes nunca vivenciara.Estupefata,de joelhos,pronunciou baixinho consigo mesma:-Obrigado senhor,eu não mereço tanto.Não caia em si,e disfarçadamente lhe beliscava a todo momento para sentir a veracidade dos fatos.

Dr.Walter chamou Maria,a governanta da casa,e lhe disse:-Maria por enquanto não me pergunte nada,apos lhe darei os detalhes disto tudo que esta vendo e acontecendo.O que quero no momento é que leve as coisas dela para o meu quarto.Maria arregalou os olhos.Ele lhe ordenou:-Vá Maria,leva as coisas dela la para cima.

Já no primeiro pavimento,ele lhe mostrou qual seria o seu quarto a partir daquele dia.Nara boque-aberta com o luxo do lugar,cortinas em sedas chinesas,lençóis em cetins finos e macios,e seus pés macios e torneados criados pelas perfeição divina,agora flutuavam descalços sobre aqueles tapetes Persas.

Nara,ate então não caíra em se.Ora chorava com mistos de risos e emoções exacerbadas.Não conseguiu dormir naquele noite de sonhos acordados.Olhava em torno e vinha lhe a memória,de quando na sua adolescência,ela,naquela casinha paupérrima de pau a pique,de pés descalços,quando não podia provir de um mínimo,para a compra de um calçado,mesmo que fossem o mais simples.Roupas um tanto avelhantadas,e os gritos de seu pai bêbado gritando consigo e sua mãe.As vezes chegavam as vias de fato não somente com ela como da mesma forma com a sua mãe.Eram sofrimentos inexplicáveis de se contar.As chibatadas de sua mãe,ainda lhe doía na memória naquele momento e que ficaram enraizadas em seu corpo.Lembrava ainda,em uma manhã,ela recolheu todas as sua roupas e em uma carona com um caminhão leiteiro,se viu nas estradas da vida para jamais voltar naquele lugar inefável.Apos tantas angústias vividas,agora estava ali sobre lençóis de cetins como uma rainha.

Quando conseguiu madornar um pouco,Walter lhe acorda com um beijo nos lábios e ao lado da cama uma mesa repleta de iguarias matinais.Assim que deliciou-se pela vez primeira de um café farto de emoções,Walter convidou-a descer para o primeiro pavimento.La,em chegando,ele lhe ordena que reunissem todas as suas roupas que Maria lhes dariam um direcionamento a uma instituição de caridades.Segura-a por aquelas mãos aveludadas e lhe propõe:-Meu anjo,minha doce menina,seu renascimento para uma nova vida se inicia hoje.Vamos agora a um Shopping e la faremos as compras necessárias à renovação de seu guarda-roupas.Aquilo tudo era tão novo e implícito para ela que vez ou outra não contia o choro.Ela ainda não assimilava,pois tudo era arrebatador e novo.

No interior do Shopping,de mãos dadas a ela,percorria as galeiras de uma forma tão formal que ela não acreditava que um homem de suas estirpe pudesse desfilar com ela sem a menor parcimônia de vergonha.As atendentes,acostumadas com ele e sua antiga esposa,as vezes não disfarçavam os seus assombros.As vezes disfarçavam,mas Walter com toda a elegância,o que lhe era peculiar, desfilava arrogantemente ao lado daquela bela mulher causando olhares cobiçosos dos homens que por ali transitavam.Mas ninguém sequer ousavam lhe perguntar de onde vinha aquela deusa.

Como ela não tinha conhecimento das grandes grifes,ficavam por conta dele,as escolhas das variedades de roupas a que ela achavam lindas.

De volta ao lar,algo martelava a mente de Walter.A de como fazer a apresentação de Nara aos familiares.Tinha que ser o mais ágil possível,antes que as mas línguas o detonassem aos entes mais chegados.Depois de muito pensar confabulou a ela de como seria feito este conhecimento à toda família.Enquanto isto não era realizado,Walter tratou logo de arranjar uma promoter de etiquetas para ela.O que foi feito e que ela assimilou com a mais perfeita harmonia.Resolveram entre ambos,que ela voltaria aos seus estudos paralisado quando de sua fuga do seu lar.Na época,havia uma cursinho de nome madureza,que davam amplos poderes de se cursarem o ginasial como também o científico,como eram as formações da época e que davam base para que se prestassem os vestibulares.Isto tudo em apenas dois anos.

Nara era de uma beleza rara,irradiante.Por onde desfilava com seu novo esposo os olhares eram todos voltados para ela.Ele por sua vez se irradiava e vangloriava com tamanho assédio visual.Olhos azuis da cor do mar,pernas delgadas porem bem torneadas,o que lhe dava uma altives ímpar.As maçãs de seu rosto eram rosadas por natureza,e seus lábios carnudos,com quanto tudo lhe davam o formato de uma deusa Grega.Enfim,atributos que fizeram com que ele se agraciassem e apaixonassem por aquela formosa mulher.

Finalmente um jantar foi marcado aos familiares.Alguns dos familiares ficaram um pouco apreensivos com o convite,uma vez que Walter nem sempre se davam a estes luxos.No dia finalmente marcado,todos compareceram.Walter e Nara recepcionavam todos no Hall de entrada da mansão.Walter por sua vez,a princípio,lhes apresentavam como uma de suas amiga.Seus filhos que estudavam fora e que sempre ficara em sua casa,foi informados que naquele dia eles ficariam hospedados na casa de seus avós maternos.

Todos finalmente reunidos já na mesa do jantar,com culinárias mineiras com um misto de francesa,vinhos importados,o que lhe convinha naquelas ocasiões especiais.

No termino do jantar,Walter pediu que seus dois filhos se reunissem com ele e Nara em seu escritório.O que logo a seguir foi feito.Walter,em seus escritório olhava para seus filhos com um nó em sua garganta.Pigarreou e por fim soltou a voz;-Em primeiro lugar gostaria de lhes falar que a imagem da mamãe de vocês jamais sera imaculadas e aviltadas de minha mente.Ela permanecera intocável dentro de mim.A solidão falou mais alto do que o meu querer.Em vista disto tudo,senti como uma resolução de minha parte contar com uma nova companheira.Esta é Nara,que lhes apresento,e a que estará comigo nos meus momentos alegres ou não,mas quero lhes apresentar aquela,que não ocupara o lugar da mãe de vocês,mas estará comigo sempre ao meu lado.Um silêncio sepulcral invadiu aquele escritório,quando este silêncio foi cortado pela voz de sua filha Maria Rita:-Papai,não haveria como escolher uma melhor pessoa para estar com você os finais de seus dias como disse?!

Walter neste meio tempo,havia lhes contado toda a sua história,por quanto Nara permanecia muda,imparcial ao comentário de filha Maria Rita.

Uma vez mais,ele,com aquela calma peculiar respondeu a filha:Minha filha,o coração é um órgão involuntário que não conseguimos dominar certos sentimentos.Enquanto isto José Eduardo como apoio a seu pai permanecia em silêncio total.

Prossegue Maria Rita:-Espero papai,de coração, que não tenhas feito suas escolhas erradas e que não venhas se arrepender um pouco mais tarde.Nisto ela sai do escritório sem dizer uma só palavra em ciúmes do pai.Eduardo aproxima do pai lhe abraça e ao pé de seu ouvido lhe diz:-Seja feliz meu velho,e que Deus lhe proteja.Aproximou de Nara e cordialmente apertou-lhes a mão lhe dando parabéns.

Walter volta a sala de jantar e da as boas novas ao restante da família.Alguns com sorrisos meio amarelos de insatisfações,outros mostrando realmente os seus desejos de felicidades,enquanto os velhos pais de sua esposa um pouco a contra gosto lhe cumprimenta desejando felicidades.

Bem,como disse Walter a Nara:-A coisa foi feita e o que nos resta são as nossas felicidades,o importante foi feito.

Passado alguns meses,Nara já cursava o vestibular para direito,pois já havia terminado o seu curso de madureza e esta era a vontade de seu novo esposo.

Vida nova,novas esperanças eram visualizadas no seu caminhar à sua formação acadêmica.Passado alguns anos,Nara agora se tornou advogada e trabalhava juntamente ao seu esposo defendendo causas com muita mestria dentro dos conceitos jurídicos.Apos o decorrer de mais dois anos,visualizou um horizonte mais abrangente,em concurso para juizados de direito.Candidatou-se e foi agraciada mais uma vez, vendo todos os seus sonhos totalmente realizados.Tornou-se juíza de direito da quarta vara daquela comarca.

Porem,nem tudo não eram sempre flores na vida de Walter.Sua esposa agora juíza,ajuizava casos de tráficos de drogas,corrupções,onde com a sua energia e imparcialidades mandavam todos para a cadeia daquela cidade que a acolheu e respeitou-a.Foi aconselhada pelos seus superiores a andar com seguranças ao seu redor uma vez que estava lidando com a pior estirpe do banditismo daquela região.

Em uma tarde,cansada e exaustiva pelos trabalhos no fórum da cidade, Nara chegou um pouco mais tarde do que o de costume.Walter estava impaciente com a demora dela.Logo tranquilizou-se com o barulho do motor de seu carro aproximando da garagem.

Nara,ao acionar o monitor que dava abertura ao portão de sua garagem,não vira que dois bandidos já haviam rendidos os seus seguranças os quais lhes davam cobertura todos os dias.Outros dois se aproximaram da janela de seu carro e a metralharam sem dó ou piedade.Walter ao ouvir os estampidos dos tiros,corre ate a sacada e por cima das folhagens do jardim vê o corpo de Nara debruçado em cima do volante toda ensanguentada.Desce as escadarias do andar superior,chega ate a porta da garagem e a sena que vê é estarrecedora.O corpo de Nara sem vida.Cai de joelhos sobre o chão e uma dor imensurável lhe invade o seu ser.Grita aos prantos,enquanto vizinhos se aproximam do fato ocorrido.Aquela foi uma das noites mais cortantes e dolorosas que um homem possa sentir.

No outro dia,centenas de flores e corôas ornavam aquela casa dos velórios.Amigos advogados,juízes empresários,todos compactuavam a dor de Walter.Fora de uma comoção generalizada o seu sepultamento.

Walter com o passar dos dias,começa uma nova etapa de sua nova vida.Uma vida de alcoólatra.Bebia tanto que já não se importava mais com as suas responsabilidades advocatícias.Bebia diuturnamente.

Seus filhos,já realizados e formados com as suas respectivas carreiras encaminhadas,não conseguia ver a penúria de seu pai e tampouco tira-lo daquele vicio que o arrastava para as trevas.

Fora internado por várias vezes pelos seus filhos.Quando aparecia uma brecha,sempre conseguia fugas mirabolantes,para que saciassem as suas melancolias nos bares ou botecos da vida.Não tinha mais o discernimento da escolha de seus amigos,que também compactuavam das mesmas fontes das suas embriagues.

Agora,já embriagado,sentado sobre folhas velhas de jornais e papelão,visualizava a chuva a cair sobre aquela marquise de um prédio abandonado entre as ruas sete e vinte e três.

O que era a construção de uma vida feliz de uma casal extraídas dos acasos de uma vida mundana,se perdera pelas fatalidades de um realismo que nos parece tão normais nos dias de hoje.

A família de Walter não se esmorece à sua procura.Em um pedaço de jornal,o qual Walter repousa o seu corpo já esquelético,há uma foto dele onde ainda da para se ler:PROCURA-SE POR ESTE SENHOR DE NOME WALTER.QUALQUER NOTICIA LIGUE PARA O TELEFONE 99009999.

Enquanto isto,Libélula da noite,batem asas rumo aos jardins do nosso Pai Maior,para orna-los com a sua beleza colorida entre outras tantas mariposas que viram todos os seus sonhos,como os dela, concretizados através de um amor maior e puro.