Planos Frustrados na Festa de São João
A festa era em homenagem a São João e todos os vizinhos se reuniram para fazer os festejos, no total de dez famílias que viviam nos arredores da Comunidade do Capado. Para este dia o Sanfoneiro Carlucinho e o Trio Rasta Pé foram contratados para animar os foliões. Apesar de todos estarem contribuindo o “cabeça” da organização era Zé Bigode e Dona França, os fogos explodiam no céu e os corações se esquentavam ao abreviar da tarde, a sombra da noite não fora empecilho para uma imensa fogueira montada cuidadosamente há quase quinze dias. Além das pessoas dali também vinham convidados de todas as cidades adjacentes, inclusive de outros estados como fora o caso dos gaúchos Galeano e a esposa Virna. Os fogos aumentavam seus poderes de explosão, alguns subiam e lá em cima se desmanchavam em lindas cores, havia bombas, traques para as crianças e nenhum cachorro para espiar os comedores de farofa de frango, já que procuravam moitas distantes e seguras para se protegerem. Lá pelas vinte e três horas o folião mestre pediu silencio de todos e puxou a oração, com fé que no próximo ano estariam de volta com saúde ergueu a bandeira na ponta do mastro de bambu fazendo o sinal da cruz, sinal repetido por todos os devotos. A comida era farta, haviam matado um boi, um porco e muitos frangos de canelas amarelas. Ao lado do pé de caju estava um barril de aproximadamente duzentos litros de cachaça com uma torneira sem a menor fiscalização, tudo isto para que o convidado se sentisse inteiramente à vontade, pela janela de uma pequena saleta um senhor de chapéu marrom servia cortezano em doses, conhaque para quem quisesse aventurar na mistura e até uma Jurubeba para limpar o estomago como diziam. Após as obrigações com a reza a poeira subiu literalmente, hora em que os tocadores já experimentaram algumas cachaças e a inspiração se multiplicava, homens e mulheres de todas as idades no clima do forró sem briga. Aproveitando a distração de todos Galeano foi até o carro que estava pouco distante em lugar escuro e voltou acompanhado de dois rapazes desconhecidos, foram direto para dentro da casa, Virna já sabia do que se tratava e retirou alguma coisa da bolsa colocando no bolso da blusa, a dança atraente não permitia vacilo e ela saiu dali sem ser notada, dentro da casa Galeano juntamente com os outros bandidos já havia amordaçado as pessoas que serviam a comida, o calculo deles era fazer tudo no tempo de uma musica aproximadamente nove minutos e dali saírem sem riscos. O alvo daqueles meliantes era o dinheiro arrecadado para o levantamento da Igreja de São João do Capado, aproximadamente vinte e cinco mil reais. Mas como dizem nos jargões populares, não existe crime perfeito... Galeano e a mulher estiveram em Sandiró, pequeno Município a doze quilômetros dali, no dia em que um dos moradores do Capado, fazia compras para a festa e por displicência deixara escapar que juntavam o dinheiro, depois disto o Gaucho especulara com o comerciante sobre a festa e sobre o dinheiro alegando que era empresário em Porto Alegre e queria ajudar. Ao saber disto os moradores ficaram em alerta e, justamente na hora daquela dança muitos olhos que enxergam no escuro acompanhavam todos os seus movimentos e logo que terminou a musica que eles sairam da casa com a bolsa de Virna recheada com o dinheiro, ouviu do Zé Bigode que agradecia a presença na festa, mas o dinheiro era da Igreja, antes que Galeano pudesse levar a mão sob a camisa para arrancar o trinta e oito, uma bala partiu certeira dilacerando-lhe os dedos, os outros se deitaram e os peões que estavam na tocaia amarraram todos e foram entregar para a polícia de Sandiró, que estava também a poucos metros esperando o desfecho, é lógico que tomando uma cachaça e comendo carne assada. “Rasga o fole sanfoneiro e viva São João”! Gritou cabeça do festejo voltando a dançar descontraidamente.