PARÁBOLA
“Um homem tinha dois filhos; e aproximando do primeiro disse-lhe: - Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. E respondendo-lhe ele, disse ao pai. - Não vou. Mas depois, pensando melhor foi.
Dirigindo-se depois ao outro filho, fez igual pedido. E respondendo este, disse: - Sim, pai, eu vou. Mas não foi. – Qual dos dois fez a vontade do pai?” Mateus, 21.28.
§
Durante muitos anos um jovem e piedoso noviço viveu em um mosteiro estudando muito e praticando as lições que recebia de seus mestres. Seu grande sonho era ordenar-se monge e tornar-se um grande mestre também. Quando estava chegando ao fim do seu noviciado, o abade-mor chamou-o e disse: “chegou o momento de praticardes a vossa prova final. Se quiserdes vos tornar um monge de verdade, tereis que deixar agora o mosteiro e só voltar quando tiverdes convertido um grande pecador.”
O noviço deixou então o mosteiro e peregrinou por muitas cidades. Em todos os lugares por onde passava perguntava ás pessoas quem seria o maior pecador daquela terra, para que ele pudesse convertê-lo. Mas nenhum dos celerados apontados pelas pessoas o satisfazia. Eram ladrões comuns, políticos corruptos, alguns estupradores, um ou outro assassino confesso, traficantes etc.
Depois de muito andar e pesquisar, chegou à uma terra chamada Vestra, onde o maior terror era um famigerado ladrão e assassino chamado Lam. O homem, segundo diziam, era o diabo em pessoa. Matava sem piedade aqueles que o enfrentavam; degolava velhos e crianças com extrema frieza. Roubava de ricos e pobres indistintamente. Também estuprava e raptava mulheres e crianças, e segundo se dizia, as escravizava e muitas vezes as vendia.
O individuo era tão mau, diziam, as pessoas, que nem o diabo tinha coragem de se meter com ele.
Então o noviço foi até o bandido e apresentou a ele a sua proposta, de ensiná-lo a trilhar o caminho do bem. Falou das excelências da virtude e da paz de espírito que a prática do bem trás. Falou do amor de Deus e das benesses que Ele concede a quem pratica o amor, a caridade, a benevolência e honestidade.
Em princípio, o marginal achou divertido o discurso do noviço, e deixou-o falar. Mas logo começou a cansar-se dele. Chamando o jovem para o lado, disse-lhe: “ Tu és um idiota, rapaz. Quem te disse que eu quero mudar de vida? Que bem é esse que falas e quem é esse Deus que eu não conheço? Se eu fizesse um décimo do que me pedes para fazer, meus homens me cortariam a garganta, minhas mulheres me arrancariam os olhos, meus inimigos me tirariam as entranhas e as jogariam aos abutres. O que chamas de minha maldade é a minha força, e o que dizes serem os meus pecados, são a fonte do meu prazer. Se queres que eu te escute e compreenda, ensina-me como tirar melhor proveito da minha maldade.”
E o noviço viveu com o bandido durante dez anos. Tornou-se o principal conselheiro dele, sempre insistindo para que ele se tornasse um homem bom. E o bandido sempre rindo dele e praticando as mesmas maldades de sempre, no entender do noviço. Nesse tempo, o bandido Lam tornou-se um grande líder popular. O seu acampamento tornou-se uma comunidade e o bando que ele liderava, um verdadeiro povo. Logo, uma revolução popular aconteceu, e o povo fez de Lam o seu líder. E quando as forças populares tomaram o governo, Lam foi coroado o rei do novo país.
O bandido tornou-se um grande estadista, aplicando todas as suas habilidades de organizador e estrategista para melhorar a qualidade de vida do seu povo. A fidelidade que havia entre os componentes do bando foi ensinada ao povo, e tornou-se verdadeiro patriotismo; a lealdade que era exigida entre os ladrões, tornou-se regra de convivência entre os habitantes do reino e assim, os crimes que normalmente existem numa sociedade em razão da cobiça, da inveja, da avareza e das desigualdades sociais foram banidos; a igualdade que imperava entre os bandidos foi absorvida pela legislação do país, de modo que nunca se viu uma terra com leis mais justas do que o antigo reino de Vestra. Aliás, com a nova constituição votada pelo povo, o reino mudou de nome, passando a chamar-se Zul. Mas para o noviço, entretanto, Lam continuava a ser um bandido cruel, pois vivia rindo dos seus ensinamentos e zombando da sua doutrina.
Depois de dez anos tentando convencer o agora cruel monarca a se tornar um homem virtuoso, o noviço desistiu e voltou para o mosteiro. O abade-mor então cobrou-lhe o cumprimento da missão. “Infelizmente não a pude cumprir, Monsenhor. O homem que eu tentei converter não quis ouvir minhas razões, nem se propôs a aceitar o nosso Deus. Durante dez anos eu procurei ensinar a ele a virtude do bem, da justiça, da caridade, do amor e da verdadeira religião. Mas ele sempre riu dos meus discursos e zombou das minhas lições. Nem quis aceitar a nossa religião. Talvez eu não seja digno de tornar-me um mestre. Deixa-me, no entanto, ficar entre vós e continuar aprendendo.”
“ Conta-me o que fizestes nesses anos todos junto a esse bandido”, pediu o abade-mor. Depois de ouvir o relato do noviço, o abade-mor, tomado de profunda emoção, levantou-se e disse: “ Amanhã tomareis o meu lugar no comando deste mosteiro e todos os que aqui vivemos nos tornaremos vossos devotados discípulos. O verdadeiro mestre é aquele que faz o seu discípulo alcançar os resultados pretendidos e não aquele cujos ouvintes ficam repetindo a sua doutrina.”
“Um homem tinha dois filhos; e aproximando do primeiro disse-lhe: - Filho, vai trabalhar hoje na minha vinha. E respondendo-lhe ele, disse ao pai. - Não vou. Mas depois, pensando melhor foi.
Dirigindo-se depois ao outro filho, fez igual pedido. E respondendo este, disse: - Sim, pai, eu vou. Mas não foi. – Qual dos dois fez a vontade do pai?” Mateus, 21.28.
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Durante muitos anos um jovem e piedoso noviço viveu em um mosteiro estudando muito e praticando as lições que recebia de seus mestres. Seu grande sonho era ordenar-se monge e tornar-se um grande mestre também. Quando estava chegando ao fim do seu noviciado, o abade-mor chamou-o e disse: “chegou o momento de praticardes a vossa prova final. Se quiserdes vos tornar um monge de verdade, tereis que deixar agora o mosteiro e só voltar quando tiverdes convertido um grande pecador.”
O noviço deixou então o mosteiro e peregrinou por muitas cidades. Em todos os lugares por onde passava perguntava ás pessoas quem seria o maior pecador daquela terra, para que ele pudesse convertê-lo. Mas nenhum dos celerados apontados pelas pessoas o satisfazia. Eram ladrões comuns, políticos corruptos, alguns estupradores, um ou outro assassino confesso, traficantes etc.
Depois de muito andar e pesquisar, chegou à uma terra chamada Vestra, onde o maior terror era um famigerado ladrão e assassino chamado Lam. O homem, segundo diziam, era o diabo em pessoa. Matava sem piedade aqueles que o enfrentavam; degolava velhos e crianças com extrema frieza. Roubava de ricos e pobres indistintamente. Também estuprava e raptava mulheres e crianças, e segundo se dizia, as escravizava e muitas vezes as vendia.
O individuo era tão mau, diziam, as pessoas, que nem o diabo tinha coragem de se meter com ele.
Então o noviço foi até o bandido e apresentou a ele a sua proposta, de ensiná-lo a trilhar o caminho do bem. Falou das excelências da virtude e da paz de espírito que a prática do bem trás. Falou do amor de Deus e das benesses que Ele concede a quem pratica o amor, a caridade, a benevolência e honestidade.
Em princípio, o marginal achou divertido o discurso do noviço, e deixou-o falar. Mas logo começou a cansar-se dele. Chamando o jovem para o lado, disse-lhe: “ Tu és um idiota, rapaz. Quem te disse que eu quero mudar de vida? Que bem é esse que falas e quem é esse Deus que eu não conheço? Se eu fizesse um décimo do que me pedes para fazer, meus homens me cortariam a garganta, minhas mulheres me arrancariam os olhos, meus inimigos me tirariam as entranhas e as jogariam aos abutres. O que chamas de minha maldade é a minha força, e o que dizes serem os meus pecados, são a fonte do meu prazer. Se queres que eu te escute e compreenda, ensina-me como tirar melhor proveito da minha maldade.”
E o noviço viveu com o bandido durante dez anos. Tornou-se o principal conselheiro dele, sempre insistindo para que ele se tornasse um homem bom. E o bandido sempre rindo dele e praticando as mesmas maldades de sempre, no entender do noviço. Nesse tempo, o bandido Lam tornou-se um grande líder popular. O seu acampamento tornou-se uma comunidade e o bando que ele liderava, um verdadeiro povo. Logo, uma revolução popular aconteceu, e o povo fez de Lam o seu líder. E quando as forças populares tomaram o governo, Lam foi coroado o rei do novo país.
O bandido tornou-se um grande estadista, aplicando todas as suas habilidades de organizador e estrategista para melhorar a qualidade de vida do seu povo. A fidelidade que havia entre os componentes do bando foi ensinada ao povo, e tornou-se verdadeiro patriotismo; a lealdade que era exigida entre os ladrões, tornou-se regra de convivência entre os habitantes do reino e assim, os crimes que normalmente existem numa sociedade em razão da cobiça, da inveja, da avareza e das desigualdades sociais foram banidos; a igualdade que imperava entre os bandidos foi absorvida pela legislação do país, de modo que nunca se viu uma terra com leis mais justas do que o antigo reino de Vestra. Aliás, com a nova constituição votada pelo povo, o reino mudou de nome, passando a chamar-se Zul. Mas para o noviço, entretanto, Lam continuava a ser um bandido cruel, pois vivia rindo dos seus ensinamentos e zombando da sua doutrina.
Depois de dez anos tentando convencer o agora cruel monarca a se tornar um homem virtuoso, o noviço desistiu e voltou para o mosteiro. O abade-mor então cobrou-lhe o cumprimento da missão. “Infelizmente não a pude cumprir, Monsenhor. O homem que eu tentei converter não quis ouvir minhas razões, nem se propôs a aceitar o nosso Deus. Durante dez anos eu procurei ensinar a ele a virtude do bem, da justiça, da caridade, do amor e da verdadeira religião. Mas ele sempre riu dos meus discursos e zombou das minhas lições. Nem quis aceitar a nossa religião. Talvez eu não seja digno de tornar-me um mestre. Deixa-me, no entanto, ficar entre vós e continuar aprendendo.”
“ Conta-me o que fizestes nesses anos todos junto a esse bandido”, pediu o abade-mor. Depois de ouvir o relato do noviço, o abade-mor, tomado de profunda emoção, levantou-se e disse: “ Amanhã tomareis o meu lugar no comando deste mosteiro e todos os que aqui vivemos nos tornaremos vossos devotados discípulos. O verdadeiro mestre é aquele que faz o seu discípulo alcançar os resultados pretendidos e não aquele cujos ouvintes ficam repetindo a sua doutrina.”