Laura e o quase tombo

Depois de um pesadelo assustador, Laura acordou apavorada.

Suas pernas tremiam, sentia medo.

Cogitou chamar sua mãe, porém lembrou-se estar velha demais para fazê-lo.

Inevitavelmente, recordou-se dos tempos de criança; onde um simples abraço da mãe dissipava todos os medos.

Percebeu-se sozinha.

Sentia-se como um livro velho, empoeirado e esquecido no alto de uma estante.

Durante anos, Laura anulou-se por completo; negligenciou sonhos, deixou-se ser oprimida, permitiu que espinhos sufocassem seu tesouro mais precioso.

Afastou-se de si.

Já pela manhã, superado o susto do pesadelo, levantou-se meio sem pressa, tomou um café tão amargo quanto sua vida e partiu.

Talvez, aquele sabor fosse o algoz responsável pela punição de suas culpas.

Achava que não tinha permissão pra ser feliz, pensava-se indigna de uma vida viva.

"Mantenha o foco, Laura!" - pensava.

De repente, em uma leve distração, sentiu uma imensa vontade de viver aquilo negligenciara um dia.

Quis voltar ao passado, mudar a história já escrita, recuperar o leite derramado.

Que inútil tentativa!

Não sabia que, capítulos publicados, não podem ser reescritos, ainda que estejam empoeirados e esquecidos no alto de uma estante.

Sua alma chorou!

Recheados de devaneios, seus pensamentos estavam a mil.

Atordoada, com a visão meio embaçada e uma fraca percepção da realidade, tropeçou em uma pedra e, por pouco não se esborrachou no chão.

Ainda assustada pelo quase-tombo, num estalo de pensamento e com a mesma empolgação de alguém que decifra algum código secreto, Laura entendeu o que a vida lhe dizia:

estava na hora de descer do alto da estante, vencer o medo da queda, sacudir a poeira, e provar da vida que existe além da sobrevivência.

Diego Dias
Enviado por Diego Dias em 24/06/2014
Código do texto: T4856803
Classificação de conteúdo: seguro