AS TRÊS MULHERES
No tempo antigo, três mulheres caminhavam por uma estrada. O destino delas era um morro onde recolheriam lenha para se aquecerem no inverno. Iam conversando muito animadas quando uma delas passou a frente e começou a caminhar sozinha. Quase uma hora de caminhada e a que ia a frente gritou:
- Achei uma coisa!...
As duas companheiras correram para ver o achado.
A mulher mais velha dizia que era maravilhoso, a outra que era gostoso, já imaginando os momentos de loucura, a que achou, a mais nova, dizia que aquilo era tudo que ela tinha pedido aos deuses. Começaram a discutir. A mulher que achou a coisa afirmava que era só dela, as outras queriam que fosse divida.
- Nunca! Jamais eu dividirei meu achado com alguém, ainda mais com vocês suas invejosas.
- Nós estamos juntas. Tudo que conseguirmos nesta caminhada terá de ser dividido, não é verdade Emengarda?
- É sim! Se nós dividimos a lenha e comida, por que o achado não pode ser repartido? Nós temos direito.
E a discussão ficou acirrada, quase chegando à agressão, quando Emengarda sugeriu, dirigindo-se à Leocádia:
- Sendo a mais velha das três e a mais sábia, que solução tu propões?
- Vamos ao convento pedir as irmãzinhas de Santo Antoine que sejam as mediadoras desta querela.
E lá se foram as três, com Florência levando o seu achado agasalhado entre os seios fartos. As outras duas não falavam com ela. Iam cochichando, insistindo que também queriam uma parte do achado. Pensaram até em matar Florência para roubar aquela coisa.
Desistiram. Lembraram da guilhotina que comia solta na França da Idade Média. Finalmente avistaram o convento. Apressaram o passo. Bateram. Uma freira, gorda e velha, atendeu por um postigo gradeado.
- Quem são vocês e o que querem?
- Queremos falar com a irmã superiora para solucionar um grave problema. – disse Florência.
A velha freira se afastou e, alguns minutos depois, voltou abrindo a porta para as três.
- Entrem! A abadessa vai recebê-las.
Algum tempo de espera e finalmente entra a abadessa, uma mulher magra e alta com cara de ave de rapina tendo atrás de si um séqüito de noviças bonitas.
- Qual é o problema, senhoras? – perguntou, de cara amarrada, a abadessa.
- Senhora, eu encontrei uma coisa e estas duas cretinas querem que eu a divida com elas. Ela é só minha...
- Nada disso! – gritou Emengarda – Nós sempre dividimos tudo... Por que agora te furtas a dar a nossa parte neste achado? Nem que eu tenha que arrancar os teus cabelos, farei valer o nosso direito de um dia a coisa ficar comigo, outro dia com Leocádia e outro contigo.
- O que querem é me roubar o achado, esta é a verdade. – disse Florência choramingando.
A abadessa, cansada da discussão, falou asperamente, dirigindo-se a Florência:
- E onde está o objeto causador de tanta polêmica?
- Está entre os peitos desta esperta criatura gananciosa! – apontou Emengarda para os peitos de Florência.
- Vamos, mulher, mostre o seu achado para que eu possa julgar o caso! – disse a abadessa nervosa.
E Florência, tremendo, enfiou a mão no decote do vestido e tirou de lá um pênis grosso e liso, de metal lustroso, com o seu saco escrotal, uma verdadeira obra de arte. Das noviças que acompanhavam a abadessa, ouviu-se um “Oh!” em uníssono, e uma delas, mais afoita, tirou das mãos de Florência aquela beleza de falo e, erguendo os braços como se exibisse um troféu, exclamou:
- Irmãs, finalmente encontraram a chave que sempre abriu as “nossas portas” nas madrugadas de insônia...milagre!
A abadessa, limpando a garganta, disse severamente:
- Como ousam brigar por algo que não lhes pertence? Este objeto é propriedade do convento e como tal aqui ficará. Suas trapaceiras! Voltem para suas casas sem olhar para trás.
Enquanto as três se retiravam cabisbaixas, a abadessa tomou das mãos da noviça o falo de metal e, aconchegando-o ao peito, deu um longo suspiro sendo acompanhada por todas as freiras presentes.
Estava encerrada a disputa. Emengarda, Leocádia e Florência voltaram para suas casas, uma acusando a outra de egoísmo e cretinice. Se voltaram a ser amigas não se sabe. O que se sabe é que um pênis tem o poder de destruir a mais sólida amizade entre as mulheres.
13/05/07.
(inspirado numa fábula medieval do séc. XIII e XIV)