PROFESSOR IMACULADO

O sinal do meio dia havia ecoado pelos corredores daquela escola e os estudantes, eufóricos, saltaram os degraus da curta escadaria para rumarem às vidas mundanas. Salas ficaram vazias, porém, latas de lixo tomadas por bolinhas de papel das últimas anotações.

Apesar dos desafios diários da carreira docente, o professor iniciante ainda permaneceu; solitário, na sala de aula retangular, ao sonoro movimento dos ponteiros do relógio, apagando os últimos registros na lousa. A expressão facial não condizia à característica presença dos colegas de ofício, havia mistério. Quando finalmente terminou, apanhou seus pertences e ajeitou as vestes sórdidas das partículas de giz. Vagaroso, ele caminhou até a sala dos professores.

- Como foi? – perguntou a diretora.

- A mesmice de sempre!

- Isso não foi o que disse ontem também?

Semanas após semanas, a diretora repetia a pergunta e o professor tampouco modificava sua resposta.

Não suportando a desconfiança, a diretora fez uma surpresa numa aula qualquer. Os alunos, em êxtase e cooperativismo, homenageavam a cultura indígena, pintando uns aos outros, símbolos nos braços e rostos. Satisfeita com o que contemplou, a diretora apenas solicitou a presença do professor em sua sala ao meio dia.

Na sala, a diretora questionou.

- Estou confusa. Não me parece uma, mesmice, sua aula. Não daquela forma!

O professor retirou do bolso um papel dobrado e o colocou aberto, sobre a mesa. Números e mais números.

- Estes – disse ele – são meus gastos com os materiais não fornecidos pela escola.

Obrigado por ler meu trabalho.