Continuação de 14 de junho de 2014.

— Leonardo, você é civil e é meu subordinado, acho que sabe disso. Então, a última palavra aqui é minha! Eu me responsabilizo por essa OM. Entregue o caso nas mãos do chefe da sua divisão, o tenente Ramalhete!
— Como o senhor quiser, chefe. Mas, exatamente por ser civil, não me peça pra fechar os olhos pra essa situação desvirtuada. O senhor também sabe que sou o encarregado da seção e não recebo absolutamente nada pra bajular quem quer que seja. Esse tipo de coisa não vai ao encontro dos meus princípios.
— Princípios, filho?! O seu emprego não é importante? Veja bem o que tá falando! Sabe que posso, a qualquer momento, destituir você desse cargo. Não que eu queira fazer isso. Deus me livre! Mas, como chefe, também não posso deixar que queira me ensinar a forma correta de agir! Você sabe, por exemplo, que se o almirante me disser pra pegar o martelo e quebrar a televisão da sala dele, não importa o que sei sobre os bens públicos, ele tem o poder de fazer e desfazer o que está sob sua alçada, e eu, o dever de obedecer. Tudo o que ele disser que é certo, é certo! Entendeu, meu filho?
— Entendi, chefe. E tenho muito dó por vocês terem de agir assim. Eu, de minha parte, se o almirante me disser para rasgar um documento importante, além de não fazê-lo, tenha certeza, vou denunciá-lo por abuso de autoridade, e causador de danos ao bem público. Primeiro, mando uma carta ao Ministro dele, e cópia à Presidência da República, ao Ministro da Justiça, ao Tribunal de Contas, e aos jornais, se for o caso. Depois, fico no aguardo. O senhor entendeu, meu chefe? Preciso deixar claro que, antes de ser funcionário desta instituição onde estou em exercício, sou cidadão brasileiro, e vou defender o patrimônio público em qualquer lugar em que trabalhe. Minha função de TFMC exige isso de mim. Creio que meu cargo de encarregado daquela seção também o exija. Ou não?
Ato contínuo à pergunta retórica, Leonardo completou:
— Foi pra me dar esse aviso referente ao seu amigo que me chamou? Entendido. Posso me retirar?
— Pode ir, civil! Diga pro Ramalhete vir ao meu gabinete!
E, como a se lembrar de algo importante, emendou:
— Ah, te aconselho a ler Sun Tsu. Verá o que pode um chefe militar!
Leonardo, já de costas para sair, sabendo da virulência por trás daquela sentença, vira-se e diz, peremptoriamente:
— Na versão de vocês esquecem de mencionar que o grande estrategista obedece a um rei. Uma coisa é defender o país, comandante; outra, administrá-lo, se é que o senhor me entende! O que o me diz do maior general de todos os tempos, Cesar, obediente ao Senado de Roma?

Continua em 16 de junho de 2014.
Lere
Enviado por Lere em 15/06/2014
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