220-SAUDOSA MALOCA

Meu colesterol anda alto. Por isso, faço caminhadas diárias e por caminhos diversos. Certa manhã, passei por um local onde os pedreiros e faxineiros limpavam o frente de um alto edifício de apartamentos, recém construído. . Os jardineiros davam retoques nos canteiros da frente. Gostei daquela movimentação e parei por alguns momentos, a observar a pressa dos trabalhadores.

Enquanto estava ali, aproximou-se de mim um homem mal vestido, as roupas largas no seu corpo franzino, evidentemente não tinham sido feitas para ele. Os pés metidos e chinelos de dedos muito usados. A gafurinha desgrenhada e um tufo de barba branca no queixo. Pensei que ele iria me pedir uma ajuda, mas ele começou a conversa assim:

= Se o senhor num tá lembrado, dá licença de contá que aqui onde agora está este edificio arto. era uma casa veia, um palacete assobradado. Foi aqui, seu moço, que eu, Mato grosso e Joca construimo a nossa maloca. Mais um dia, nois nem pode se alembrá, veio os homes cum as ferramenta, dizendo que o dono mandou dirrubá.

Peguemos todas nossa coisa e fumo pro meio da rua, aprecia a dimolição. Ai! Que trinteza que nóis sintia, cada táuba que caia, doia nos coração.

Mato Grosso quis grita, mais em cima eu falei:

= Os home tão com a razão, nois arranja outro lugar.

Só se conformemo quando o Joca falôo:

= Deus dá o frio conforme o cubertô

E hoje nois pega as paia nos banco dos jardim, e pra consola, nois recordemos assim:

= Saudosa maloca, maloca querida, aqui de donde nois passemo dias felizes de nossas vidas.

ANTONIO ROQUE GOBBO

Belo Horizonte, 2 de maio de 2003

Conto # 220 da SERIE MILISTÓRIAS

Antonio Roque Gobbo
Enviado por Antonio Roque Gobbo em 11/06/2014
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