Tiro Perdido - Destaque Literário - categoria conto - ALPAS SÉCULO XXI
Uma coroa de flores.
Um lenço, um choro e um adeus.
Com ela deitada inerte, sem vida, sem olhar ou responder aos lamentos, vão-se os projetos para uma vida inteira. Pelo menos para ela.
Planos que se cumpririam durante sua vida. Ela ali, sem mais respirar, gelando, endurecendo e apodrecendo pouco a pouco.
Ele, numa abrupta interrupção do respirar tranquilo. Mãos frias, pressão baixa, corpo amolecido e fraco, prestes a desfalecer pela dor.
Ofegante, chora incessantemente. Não há consolo, não há conforto, nenhum abraço de carinho lhe basta.
As recordações dos dias vividos, as emoções do romance intenso. Os beijos, abraços, carinhos, e até as brigas eventuais farão falta.
Em um lugar qualquer, o causador de tudo.
Tiro perdido na multidão, uma caça aos inocentes, uma arma nas mãos que facilitou o fim do sonho de um casal.
Era um dia perfeito de grandes comemorações pela notícia da gravidez tão esperada após doze anos de casamento. Desde cedo os cuidados foram redobrados. Ela carregava seu herdeiro, os paparicos pareceriam poucos.
Sempre? Como, sempre?
Ela saiu ao portão para receber a encomenda e mal conseguiu assinar o protocolo. Um tiro perdido de um confronto desatinado, jovens enlouquecidos pelo vício, sem razões reais, apenas o ócio e bandidagem.
O tiro passou de raspão no entregador, mas acertou a moça fatalmente. Ouvindo o barulho ele corre até a amada, mas já a encontra sem vida.
E, agora, o "sempre" acabou...
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