O DIA QUE O MINEIRINHO ENGANOU O DIABO

Juvenal era um caipira muito pobre. Quando digo pobre é porque a única coisa que tinha para vestir era uma jeans rasgada e uma camisa xadrez curta, fazendo aparecer a sua pequena protuberância abdominal, que se confundia muito mais com um caso de lombriga do que realmente com fartura. A única sola que vira em anos era a sola do pé, pois o sapato já tinha sido moído pela terra seca e dura de sua roça. Só restava a Juvenal um bocado de milho e de feijão, que completavam no máximo um saco, que também era o único que tinha.

Pois Juvenal resolveu vender o resto de suas reservas e tentar juntar algum dinheiro para uma passagem para a vila mais próxima, afim de conseguir algum emprego. Pôs o milho no saco, amarrou pela metade, e colocou o feijão no resto, e assim foi-se embora pela estrada. Dessa forma as duas partes não se misturavam e davam menos trabalho se quisesse vender para alguém. “ Eita margura, vai que eu incontro arguém na istrada pra mó de nois fazê um negócio. Assim eu pego um ôns e canso menos ”

Foi-se andando pela estrada até que uma grande chuva começou a cair. Os pingos fortes fizeram com que Juvenal escondesse embaixo de uma árvore retorcida. A árvore tinha cascas grossas e o chiado do vento era horripilante. O vento batia forte machucando seus olhos e o barro lameava seus pés. Juvenal fez três cruzes na testa: “Eita são Crispin misericordioso, essa chuva tá do cão”.

Então um relâmpago caiu na sua frente e um clarão se abriu na serra. Juvenal se encolheu todo com medo. Estava molhado e cansado. Então uma figura veio andando na sua frente. Com uma capa preta de contornos dourados o homem se aproximou de Juvenal. Seus olhos não podiam acreditar no que via. Era o tinhoso na sua frente, direto como se o tivesse invocado.

“Boa noite Juvenal. Me chamou?”

“Santo Cristo misericordioso! Sai daqui pé sujo!”

“Ora, ora Juvenal, seus pés estão mais sujos que o meu. E me diga desde quando Cristo te ajudou? Vive pobre e esfomeado, mendigando aquilo que poderia ter fartura! Pois eu te peço uma única coisa em troca de riqueza e poder, uma coisa que as pessoas superestimam e para elas não tem valor. Quero apenas sua alma”

“Ocê que num intende das coisas ... meu Deus me deu inteligênça e sei usá ela bem! Ocê seu tinhoso pode ficar com suas riqueza que eu ganho meu pão com minha matutez!”

“Hahahahahahaha ... um caipira como você inteligente? Não sabe nem falar que diria escrever! Mas faço um acordo contigo que será proveitoso. Prova que teu Deus te deu inteligência e passa por um teste ...Vê esse saco que tem nas mãos. E agora vê essa caixa preta aqui. Se colocar o milho nessa caixa sem sujar o feijão ou furar o saco, além de voltar com todo o feijão para seu saco, eu transformo o milho em ouro e poderá levar tudo..”

“Essa é fácil ... disse Juvenal!” Então parou e pensou. Não poderia jogar o feijão no chão porque sujaria. Não poderia coloca-lo na camisa ou na calça porque estava curta. Se colocasse o feijão na caixa não teria como retornar com ele para o saco...

O diabo apressava: “ Vamos Juvenal, você sabe que não consegue encontrar a solução! Porque ela não existe seu matuto da roça! Não tem como colocar o milho que está amarrado embaixo nessa caixa sem furar o saco ou sujar o feijão. É ignorante porque não sabe recusar uma situação impossível. Sua alma é minha ...hahahahahahahahahahahaha”.

Então usando sua matutez, Juvenal disse: “Ocê se diz isperto seu tinhoso, acha que pode inganá Deus! Mas é ocê que não intende que ele criou sorlução pra tudo...” Então colocou o feijão na caixa, virou o saco ao avesso, colocou o feijão no saco e desatou o nó do milho. O milho caiu todo na caixa preta virando ouro puro, enquanto o tinhoso soltava um grito de desespero aterrorizante e desaparecia numa fumaça”

“Ouro de diabo eu num quero não ... quem sabe ainda me compram o fejão”. Juvenal deixou a caixa embaixo da árvore colocou o saco no ombro e foi andando pela estrada, agora não mais com chuva, mas com um sol de ouro no céu!

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Texto escrito por meu filho, compartilho deixando-lhe um beijo no coração!

Inêz Drumond
Enviado por Inêz Drumond em 08/06/2014
Reeditado em 08/06/2014
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