o carteado
aquele não era o único cassino clandestino de são paulo, mas era o único naquelas proximidades em moema, da onde os últimos vôos noturnos de congonhas ainda estorvavam e tornavam mais tensas as apostas. naquela noite os aviões pareciam intermináveis. o novato suava, oferecia no rosto tudo o que o iugoslavo queria, todos os blefes foram desvendados. o garoto brincou, tentou provocar: "iugoslavo, mas a iugoslávia não existe mais, você não tem origem alguma" riu nervoso, o estrangeiro apenas levantou o canto do lábio sem olhar para o garoto. trêmulo estendeu sobre a mesa um fullhouse, o qual não era páreo para o straigth flush vindo do leste europeu. Perdido e visivelmente transtornado, o rapaz sacou um revólver, todos se abaixaram, o iugoslavo não, manteve-se impávido. "que tal roleta russa?"e antes que completasse as novas regras do inédito jogo, sem querer disparou na própria cabeça. sangue e cérebro sobre a mesa. Alguns ficaram estarrecidos outros riram, que imbecil!. o estrangeiro continuou calmo, não pegou dinheiro algum e quando ia embora perguntaram sobre os valores da aposta. com sotaque e português precário, respondeu:"ele já pagou o que devia". seus passos se foram ouvidos distantes pela escada até o som do ultimo avião