Alunês (paródia da conto Urupês de M. Lobato)
Introdução
O texto abaixo mostra um diálogo entre três professores, baseado no conto Urupês de Monteiro Lobato, conto onde nasceu o Jeca Tatu, um dos personagens mais icônicos da literatura brasileira. O diálogo faz uma paródia onde a figura do Jeca é substituída pela figura do aluno preguiçoso do século 21, descrito de uma forma menos "agressiva" do que a descrição do Jeca no conto original, porém segue o mesmo roteiro e a mesma linguagem satírica presente no conto original.
Diálogo
Professor 1: Bom dia!
Professor 2: Bom dia!
Professor 3: Bom dia? E o que o dia tem de bom? Não vê como são os alunos de hoje? Se Piaget fosse vivo, certamente teria abandonado a educação, queimado as suas obras e tentaria um concurso público!
Professor 1: Verdade, e se Émile Durkheim vivesse hoje, ele diria que o papel da escola seria a de preparar vagabundos para o crime organizado e para a vulgaridade.
Professor 2: No meu tempo os alunos iam para a escola uniformizados, com estojo e caderno e todos os trabalhos acadêmicos eram copiados a mão e dos livros.
Professor 3: Mas esse aluno não morreu, todavia, evoluiu. Agora ele vem vestido com roupas indecentes e com um palavreado que nem ao menos quero citar. E todos os trabalhos que ele faz é somente copiar e colar. Se fizer os trabalhos de outra maneira, será um desastre infalível! Todos os trabalhos ele copia e cola, dei um trabalho sobre Don Pedro I e tudo o que os alunos fizeram foram erguer os olhos, espiar a tela do computador, espiar de leve o conteúdo e copiar e colar!
Professor 2: Uma vez eu passei um trabalho sobre o 13 de Maio e sobre o 15 de Novembro, todos os trabalhos eram iguais ao texto da Winkpédia, no meio de um dos trabalhos estava até escrito: Carece de fontes.
Professor 1: Pobre educação brasileira, como és bonita no papel, e feia na realidade!
Professor 2: E quando o aluno chega na feira cultural, todos os professores logo adivinham o que ele traz, vídeos do Youtube, artigos plagiados, trabalhos já pronto, tudo o que o Google espalha pela rede e cabe ao aluno somente estender a mão, copiar e colar.
Professor 3: E quando o assunto são as notas, ele faz as provas e os trabalhos pensando apenas em tirar um 7, as vezes ele se dá ao luxo de tirar um 8, mas para quer tirar 10, vive-se bem sem isso.
Professor 1: E quando as notas dele cai, você fala para ele que ele tem que estudar e ele diz: para quê? Se o ano letivo dura 4 semestre e ainda falta 1 para acabar. E por via das dúvidas, quando o semestre chega, ele se ajunta com um “nerd” para se “apoiar”.
Professor 3: E a famosa frase “dá nada não” todo o consciente filosofar do aluno grulha nessa frase.
Professor 2: Sabe o que é mais engraçado nessa história?
Professor 3: O quê?
Professor 2: O fato mais importante de sua vida é, sem dúvidas, se formar, ele não vê a hora de terminar o ensino médio e pegar o seu “Dipeloma”
Professor 1: E se você perguntar quem é o presidente da república ele dirá que é a pessoa que para o bolsa família “pra nóis”.
Professor 3: E as fórmulas usadas para não reprovar , para recuperar nota baixa do primeiro bimestre, faça sempre trabalho em grupo com os nerds no segundo.
Professor 1: E para nunca se dar mau na prova, simplesmente, cole!
Professor 2: Mas se depois de tudo isso, ele ainda precisar de alguns pontos, basta fazer um drama na frente do professor.
Professor 1: Ou então apela para os santos graúdos lá de cima!
Professor 3: Você está falando de Deus, Cristo e os anjos?
Professor 1: Claro que não, estou falando da diretora, da coordenadora e do conselho de classe! Onde todos ficam discutindo se salvam o aluno ou não, como se fossem os deuses de Homero.
Professor 2: Fora o aluno-centrismo.
Professor 3: Como assim?
Professor 2: É o famoso eu “tô pagando”! Eu tenho mais é que passar direto, sou a razão de essa escola existir, meu pai paga tudo, sou eu quem manda, tudo aqui é meu!
Professor 3: Dai o fatalismo,se tudo procede do conselho de classe, do fato de que o aluno “paga” a mensalidade e que tudo vai conspirar para ele passar, ele vai estudar pra quê ?
Professor 1: E no final de tudo, nós professores somos como o sombrio urupê de pau podre, a modorrar silencioso no recesso das grutas da educação. Pois só o aluno manda, só ele tem razão e somente eles tem o poder.