Um caso de Polícia
Anos e anos e dona Zulmira, senhora de 78 anos, viúva, vendia em frente a Escola Bem ti vi seus bombons. Já com os seus mais de vinte anos de venda, levantou a sua casa, em alvenaria, uma palafita localizada na vila das Barcas, na cidade Paraíso, sustentando suas três filhas sem maridos e cuidava dos seus cinco netos.
Os meninos da escola chamavam-na de vovó Zuzu, gozava da confiança das crianças, que brincavam com ela respeitando-a. Ela, uma senhora afro descendente, semi alfabetizada, tinha apenas dois dentes na boca e quando assentada sem venda e calada parecia estar mascando alguma coisa. Famosa por seu bom humor que até seu Agenor, diretor da escola a conhecia e dividia a popularidade dela entre os professores e serventes. E foi dessa forma que ela ingressou na cantina da escola. Começando a progredir depressa. Lá vendia vaca atolada, pão caseiro, frituras, sucos e refrigerantes. Em pouco tempo, após a bicicleta ela apareceu com rapazinho dirigindo um fiat semi novo.
Admirados com a evolução todos na escola citavam-na como exemplo de mulher aguerrida. Na comunidade, onde ela morava já se tinha ouvido falar, que aquela humilde senhora vendia drogas. Mas, quando uma ou duas pessoas comentam, a maioria abafa dizendo que é fofoca. Dessa forma tudo não passou de um mal estar.
Assim, seguia a vida da vovó Zuzu, das vizinhas tidas como fofoqueiras, das suas filhas sapecas, dos seus netos danados, dos alunos, dos professores, dos serventes e do diretor da escola.
Porém no fechar da manhã daquele setembro atípico, na semana de jogos internos, a escola fora cercada e invadida por repórteres e policiais, que fizeram prisioneira a dona Zuzu. O diretor foi chamado as pressas de uma reunião na SEMEC, apreensivo ele ligou para um advogado. Enquanto os policiais reviravam cantina, faziam perguntas a pessoas e o jornal tirava fotos.
Quando o diretor chegou lamentando o incidente, tomou a iniciativa de fazer um abaixo assinado para ir a delegacia, ante ao equivoco e arbitrariedade que as autoridades haviam cometido com aquela doce senhora.
Lá chegando o delegado o chamou em seu gabinete e lhe informou daquilo que ele parecia não saber. Aparentemente atordoado com as informações nem voltou a escola, que ficou só num comentário, ainda incerto.
No outro dia o jornal, que aumenta, mas não inventa escancarava toda a rede de miséria atrás daquela senhora. A vovó do crime, como o jornal rebatizou, tinha em sua casa um laboratório de drogas, com as suas filhas e netos, que vendiam.
Uma semana depois, quando tudo parecia calmo, ao jornal veio a tona a informação de que o diretor da escola era comparsa da vovó do crime, que juntos usavam a lanchonete como lavagem do dinheiro que ambos faturavam. Preso no aeroporto, por policiais civis da informação o diretor confessou, que usava o dinheiro para melhorar a escola, pois nem sempre havia recursos e já estava cansado de ver as crianças sem ar condicionado nas salas, sem merendas adequadas e sem transporte, entre outros benefícios, que a escola começou a apresentar frente a outras escolas do bairro. A única duvida da policia esclarecida pela reportagem era se aquela moda estava em voga, nas outras escolas do Estado. Uma coisa só o jornal do inventor acertou, quando o poder público, deixa a desejar, não atua, a sociedade encontra logo outro gestor, porque a necessidade emerge na velocidade da dor e a justiça social, ainda se perde por não olhar os seus cidadãos com o devido respeito.