FELIZ DIA DAS MÃES, MARIA!

Com o tempo a gente descobre que Deus escreve certo por linhas tortas:


Era uma vez Maria, certo dia bem próximo ao dias das mães esta recebeu o seguinte "elogio" de sua mãe: - “Você é uma árvore se-ca, você não passa de uma árvore seca!!!"


Logo ela que nunca fizera um aborto, e que apesar da capacidade de conceber nunca havia engravidado, (talvez por falta de maturidade, medo de parir pelo próprio trauma de sua mãe, ou 

não ainda não encontrara o parceiro certo...).

 

Enfim, voltando para as companheiras que porventura tivessem estado diante de algum aborto, quem era Maria para julgá-las? E como soaria uma frase destas para elas?

Como uma punição à ser ultrapassada? E... para as mulheres que nasceram com algum problema de saúde o que as impediriam de conceber novamente?


É bem certo que o relógio biológico corre para todas, e ser mãe além de uma dádiva para algumas é sinônimo de um certo “status” ...tanto é que a primeira coisa que os desconhecidos (as) perguntam para as que nunca engravidaram é: - Você nunca teve filhos? E algumas com ar de matronas ainda desdenham quase profetizando: - Você não sabe de nada, pois nunca teve filhos.

 

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Voltando a história do "Castigo dos deuses" o primeiro impacto “daquela” frase fora a raiva... e se suas contas estavam certas somente após dez anos esta conseguiu digerir a afirmação, para ela foram dez longos anos; sim é muito tempo para se autoperdoar, e mais tempo ainda para procurar não maldizer a própria mãe.

Aah! e quem disse que pessoas aparentemente evangelizadas e/ou equilibradas não podem sentir um tremendo ódio, de algum ente querido? (bah! como a sociedade por vezes é hipócrita).

Mais um belo segundo domingo de maio passou... um raio iluminou a fronte da nossa personagem principal e ela disse a si mesma: - Sim, mamãe, sem dúvida você estava muito brava comigo porque nunca lhe darei netos (e você não tendo mais filhos ficará sem a patente de “vovó”).

Era sabido por Maria que para alguns isto soaria como hilário... e podia até ser um sinal de felicidade para os que torcem para que coisas boas não caiam no colo das outras pessoas; no fundo estas emoções giram em torno de sentimentos de inadequação. De qualquer forma, na leitura destes aspectos havia ausência de sororidade para algumas pessoas e pouca empatia entre a mãe e esta sua filha... a Maria.

Quanto ao relógio biológico? Algumas mulheres, tentam preencher o vazio adotando animais de estimação (Maria conhecia algumas que até exageravam demais), outras não se viam capazes de acolher absolutamente uma criança de outrem em seu lar, e notava em algumas outras o sentimento do amor maternal  deslocado para outros representantes: sobrinhos, afilhados, enteados, “alunos”, vizinhos. Algumas mulheres sublimavam de tal modo que CRIAVAM se embrenhando no mundo ilusório da Belas Artes.


Esta Maria, havia passado o pão que o diabo amassou em muitos dias de neve... e reconheceu a sorte de avistar nos invernos rigorosos, os abraços das árvores: acolhendo pica-paus e/ou esquilos ...e com a mudança de estação aquelas árvores secas apesar de não serem frutíferas ganhavam novas folhas... que continuavam a não dar flores e muito menos frutos, mas agasalhavam novos ninhos de pássaros mesmo que por um curto espaço de tempo em seus galhos. Nestes movimentos em busca de diminuir a frustração, é claro que ela carregava o peso de uma grande metáfora: ora Maria era um dos galhos, ora lagarta e borboleta.

 

Há incertas lutas, difíceis de engolir; para envelhecer basta estarmos vivos e Maria a cada ano um pouco mais velha, aumentava a sua bagagem de vida, e quando tudo pesava no caminho o jeito se fazia necessário deixar por onde andava as mágoas para trás, restando apenas alguns rastros dos seus passos.
E... neste ponto, Maria, pensou e repensou e agradeceu ter nascido exatamente do colo de sua mãe que em um instante sem nenhuma gentileza lhe ensinara a ser forte. Forte porque é bem melhor levar uma frase tapa na cara de uma mãe do que de alguém fora de casa. Assim sendo Maria acreditava que a mãe que havia lhe dado os primeiros sopros de vida era a SUA mãe sob medida.

 

Mãe esta que tinha sido uma mulher suficiente para lhe ensinar a não acolher NENHUM desaforo (nem mesmo estas fossem as suas exigências).

 

Nota: Reparem leitores como todos nós temos certa simbiose com nossas mães!!!

 

Para Maria em seu coração de mulher aquela fora uma das frases do tipo "pior xingamento na face da Terra", e dito da boca de onde veio doía como praga "marcada" ...imprudente mais do que os palavrões escarrados de seu/sua maior inimigo (a).

Para alguns pode parecer dramático ou ecoar de maneira masoquista para outros, mas passado o susto... o ressentimento e a conformação Maria se viu imunizada, de modo que não se permitiu entristecer demais. Neste vida não seria mãe, mas nenhuma de suas mamas iriam adoecer (alguns leitores sabem que a conexão com os seios e o afeto com sentimentos maternais é verdadeiramente estreita / o mundo das mulheres mamíferas é muito mais frágil do que muitos pensam... algumas mulheres chegam a perder o útero), pois é melhor ficar sem o órgão para conceber do que... se ver num beco sem saída quando na novela da vida uma mulher se depara com a traição.

 

Esta Maria não conseguiu e nem queria se auto-destruir, portanto aquela mãe que ela havia introjetado em si, não estava sendo como tão ruim assim.

Bem no fundo talvez a mãe de Maria tivesse alguma razão, ela passaria a ser uma boa e velha árvore seca (sem mágoas) não se transformara em num Salgueiro (chorão) ...e sem mais, passado o tempo não precisava fingir que o dia das mães podia até existir com algumas vantagens ter nascido “se-ca”.

Antes árvore seca do que superprotetora, e o fato de nunca ter tido frutos não quer dizer necessariamente que se os tivesse tidos filhos eles seriam "bons"; talvez Maria não estivesse pronta para ter um filho especial ou não; talvez precisasse SER um ser sem filhos.

Talvez tivesse que acolher sua mãe como uma filha... Maria precisava de uma mãe assim, necessitava passar por isto, para sua evolução (espiritual).


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E depois daquele ano, se preparou para mais um dia das mães (sem ter parido alguém) e ao abraçar a sua mãe teve a nítida consciência que sua mãezinha há tempos já tinha esquecido aquela frase proferida num repente de ódio.


Mais uma nota: Não, não existe mãe ideal... (as pessoas é que idealizam os demais, demais!!!), bem como não existe filho (a) ideal. Nada é inteiramente perfeito no mundo, mas tudo tem um sentido que pode ser visto como positivo.
E cá entre nós... Maria, elabora seus desejos a cada maio, desejando um Feliz dia das mães, em primeiro lugar para a sua mãe que lhe concebeu, depois para todas as outras mamães: as que se foram, as que ainda são (biológicas, adotivas, as representantes da figura materna) e as que nunca serão mães nesta atual existência, como ela.

rosangela aliberti
maio/2004 - 2014 - 2023
Photo: Katia Bonfadini