* JOKER: OBSESSÃO SOMBRIA
Quando chega a noite, sinto. Essa presença bem próxima de mim, sinto pelo cheiro que a pele exala, pelo calor do corpo que emana, como um convite, irresistível e aprazível. Quando chega a noite, sinto. E minha pele eriça, quando deitada, sinto que não estou sozinha, que essa sensação de ser observada, é sensível aos meus sentidos, menos aos olhos, porque não vejo, não posso ver, mas ouso sentir, nessa proximidade, uma aproximação silenciosa, que faz com que na madrugada, seja acordada, como fosse beijada, seja desperta como fosse tocada com imensa e irresistível delicadeza e vontade. É como fosse arrastada para dentro de todos aqueles desejos e vontades, que não ouso confessar, que procuro manter selada e guardado no âmago de meu corpo, na alma e no coração. É quando a noite chega, e sinto. Sinto intensamente, como fosse possível, que mesmo o mais inexplicável pensamento dele, viesse ao meu encontro, percorrendo cada fração de meu corpo, como cada olhar dele, fizesse meu corpo ser corrompido pelo desejo, pela vontade única e inegável de ser intensamente dominada, sob regras de sensações e emoções, indescritíveis. É quando a noite chega, que perco, toda timidez, e revelo diante do olhar dele, minha ousada nudez, e delicada sensualidade, quando seu mais ardoroso e volátil pensamento, parece alcançar minha pele e corpo, como fosse possível não estar sozinha, e não sentir estar sozinha. E ouço, e sinto, quando pareço ser chamada, e sou ouvida, como uma melodia que faz meu corpo estremecer em devaneios. Quando chega a noite, sinto. Como pudesse ler por dentro tudo que apenas pode ver do lado de fora, como pudesse tocar no íntimo, sem que meu corpo fosse tocado, e arde em mim, intensamente, como uma chama, que provoca um incêndio. Arde em mim, quando pensamentos parecem romper a silenciosa noite, e transmutar cada desejo e vontade em um delírio, em uma comoção abrasadora, que ecoa em meus lábios, como um chamado, como uma súplica, que em devoção ouve, e segue para atender.
E sou atendida, quando cada pensamento, é transportado para meu corpo, e a realidade de uma noite solitária, é rompida com a presença do que não posso ver, mas posso sentir. É quando chega, a noite, que surge, na penumbra, como pudesse interceptar minhas vontades, e arrancar de meus olhos, uma confissão, e provocar o brilho mais intenso.
É quando chega a noite, que sinto, essa presença bem próxima de mim, sinto pelo cheiro, que a pele exala, e pelo calor que o corpo emana, como um chamado, sedento e ardoroso, que parece unir corpo e alma em harmonia perfeita, que enlaça almas em uma sintonia única, que une corpos em uma comunhão irresistível e prazerosa.
É quando chega a noite, que descubro, que há na lembrança, essa conexão, que parece haver sido perdida no tempo, em tempos distintos, em que caminhávamos em direções distintas, mas que nossos passos sempre conduzia há uma direção, em que nosso destino era entrelaçado.
Quando chega a noite, ainda que tudo seja frio e silêncio, em que exista essa solidão, que emerge em meio a madrugada, nunca estou sozinha, porque ainda que não ouse compreender, e que não haja explicação, essa presença é sentida, por mim. Como fossemos duas metades separadas pelo dia e pela noite, unidas pela madrugada, onde desejos e vontades profundas emergem, como um sonho distante, que flui pelo corpo, como uma saudade do que não foi, mas que poderia ter sido, que teria sido, antes do amanhecer.
→ Joker