Que encontro de Segunda

Vamos lá, do início…

Que a gente se esbarrou na convenção isso você já sabe, mas vou contabilizar que nos conhecemos mesmo, foi pelas intermináveis e deliciosas conversas que travamos pela internet.

Diante de toda improbabilidade, pois veja bem, ela é uma mulher daquelas de faltar o ar ao se bater os olhos de tão linda e é muito provável, os tantos caras que deviam buscar sua atenção na caixa de mensagem de sua rede social. Ela é daquele tipo de mulher que é tão linda, que a baixa autoestima urra com vigor na mente do homem: sem chances, tenta outra! Apesar de toda a insegurança, eu lembro da troca de olhares que tivemos, ela havia me notado. Isso já era evidente pra mim, mas o que precisava ser meu foco, com toda certeza seria como eu iria me comportar a partir dali. Como o “não” eu já tinha, me dispus a "stalkear" bastante seu perfil. Com isso, acabei descobrindo dentre algumas particularidades, que ela adorava Animes, filmes de animação com humor adulto com frases ambíguas e sitcoms pops, decidi comentar em uma foto, que havia postado apenas por um dia, onde ela estava adornada com todos os adjetivos cabíveis para pontuar sua beleza. Estava com um vestido azul-turquesa, daqueles modelos de festa de gala, coisa chique, embora a festa fosse infantil. Comentei brincando: "Alguém avisa o Valdisney que a Elsa versão Shippuden tá aqui!"

Horas depois, para a minha genuína surpresa, ela me respondeu com uma gargalhada seguida de emojis. Estranhei a notificação, pois não acreditava que ela responderia. Antes de abrir a conversa, fiquei um tempo olhando para a barra de notificações. Dali pra frente desenvolvemos assunto. Uma advogada que morava bem longe, o tipo perfeito pelo qual adoro me apaixonar. E nesse delicioso processo de nós conhecer, ficamos flertando por algumas semanas. Sempre que eu estava livre no final de semana, ela tinha compromisso e vice e versa.

Um dia, estava eu trabalhando, quando de repente meu telefone toca.

— Você está onde?

Estranhei a voz no primeiro momento. Atendi sem olhar para a tela, onde o identificador de chamada revelava quem era. Afastei o celular do ouvido e vi: era ela. Como dividíamos informações sobre nossa rotina, ela sabia que eu estava na Barra da Tijuca, mas não sabia com precisão por onde. No dia anterior, havia comentado sobre lugares que pretendia visitar, alguns clientes precisava encontrar para saber do andamento dos projetos e é claro, estreitar laços.

Eu estava em uma padaria ainda degustando meu café da manhã, de frente para a orla da praia, aproveitando aquele momento raro na minha rotina. Queria fingir costume, então contei onde estava.

— A audiência foi cancelada e estou livre o resto do dia. Quero te ver, vamos fazer algo?

Sim, ela foi direta e isso me deixou numa excitação absurda.

— Claro! — Pelo barulho ao fundo, percebi que ela já estava na condução, resolvi perguntar: — Já está a caminho?

— Como era caminho, passei em casa, troquei de roupa e devo chegar na Barra em uns 30 minutos, eu acho.

Alguém havia sido bastante cautelosa e planejado tudo!

Passei o endereço de onde ela deveria saltar e que me ligasse, quando fosse desembarcar, para ir buscá-la.

Naquela época eu possuía a chave do apartamento de uma amiga que trabalhava embarcada em cruzeiros, então seu apartamento estava quase sempre vazio. Foi então que liguei para saber se ela estava na cidade, e pra garantir se o apartamento estava desocupado, para então lhe pedir permissão pra passar o dia lá. Assim, aproveitaria pra molhar seus cactos e ajudar a diminuir a poeira que invadia pelas pequenas frestas da porta e das janelas e tomava conta dos móveis.

O universo queria um casal feliz naquele dia e eu fui sorteado! Corri para o apartamento, que não era mais de 3 ruas de distância de onde eu estava e fui ver o que precisaria arrumar. Nathalia era bastante cuidadosa e organizada. O quarto de hóspedes estava lindo e limpo. Troquei apenas o lençol e as fronhas.

Celular vibrou.

— Cheguei na orla, mais dois pontos e devo descer. – Disse Aurora.

— Ok. Estou indo.

Desci as escadas do prédio tomado por uma euforia tão besta.

Não fazia ideia do que iríamos fazer, mas eu ia sair com aquela mulher. Entende isso? Eu ia sair com ela e por isso estava ansioso demais. Caminhei do portão do prédio até o ponto de ônibus com um sorriso de orelha a orelha. Da esquina eu já conseguia vê-la do outro lado da faixa da avenida. Com todas as lembranças que possuía de suas fotos postadas, ela era ainda mais linda ao vivo. O calor estava absurdo e eu suando em dobro. Enquanto caminhava em sua direção, ela ainda não havia me visto, por conta das árvores espalhadas, que de certa forma, dependendo do ângulo, me escondia. Cheguei a dois passos de distância, enquanto ela olhava para o lado oposto, até que seus olhos me encontraram.

Sorri.

Ela também sorriu enquanto guardava o celular na bolsa.

Nesse momento pensei: "Como a cumprimento?" Afinal conversamos tantas coisas, tantas mensagens ousadas e íntimas, onde deixamos claro o quanto queríamos curtir um ao outro… e sabendo tudo isso só agi. Sabe, uma vez li em algum lugar que o encontro de alma é quando você, ao conhecer alguém, diz: muito prazer. Enquanto sua alma sussurra: "Que saudade!". Confesso que não senti nada tão romântico como é de se esperar de uma frase assim, mas havia uma sensação diferente naquele momento, era algo sobre sentir saudade, tendo em vista a escassez de interação. Lembro que a toquei nos ombros, tateei mais uma vez, agora segurando pelos braços, sorri e disse:

— Você é mesmo de verdade! – Diminui a respiração e provoquei o encontro dos nossos lábios, e a beijei sentindo seu sorriso.

Numa mistura de surpresa e entrega, notei que ela fechou os olhos antes de mim, confirmando que queria o mesmo. Soltei um dos braços e levei minha mão a sua nuca. Enquanto minha língua dançava junto a sua, como se já estivéssemos acostumados com o público na rua… Parecia só mais um encontro de casal apaixonado, agindo com naturalidade e sem pressa, sorrindo durante o beijo. Abrir meus olhos e ao encarar aqueles verdes maravilhosos ainda se abrindo, era tão hipnotizante e lindo, que eu mal conseguia acreditar.

— Além de safado, você é fofo. Que perigo! — Comentou Aurora sorrindo.

— Para… Assim fico constrangido. — Disse sem um pingo de constrangimento. — Estou na casa de uma amiga aqui perto. Ela deixou as chaves comigo. Se importa de ir comigo até lá pegar minha carteira pra a gente ver um lugar pra comer?

— Tudo bem. Vamos lá…

Caminhamos pela calçada até o apartamento.

Foi uma experiência embaraçosa, eu a estava vendo pela primeira vez, mas por dentro eu me sentia tão à vontade, confortável e, ao mesmo tempo, empolgado, explodindo. Tanto de felicidade, quanto de tesão. Parando pra pensar direitinho, a culpa foi daquele beijo, por ter encaixado tão bem.

Chegamos no apartamento.

A temperatura já estava bem melhor do lado de dentro, pois eu havia deixado o ar-condicionado ligado. Ofereci água já me encaminhando para pegar na geladeira, e nos servi. Durante o percurso, foi interessante pensar em toda aquela tensão que pairava no ar. Curioso observar que não parecia, de maneira alguma, que minutos atrás estávamos nos beijando feito dois adolescentes na puberdade, a poucos metros do ponto de ônibus. Pousei a jarra d’água na bancada, deixando à disposição, caso quisesse beber mais.

Quando confirmei com Nathalia a disponibilidade do apartamento, aproveitei que já estava na padaria e comprei algumas coisas para fazermos uma boquinha. Eu não tinha planos de sair, a menos que ela tivesse o interesse de comer algo na rua ou apenas quisesse caminhar. Com esse plano engatilhado, além de arrumar um pouco a casa para a recepção, deixei organizado alguns itens para que pudéssemos preparar algo para comer, quando batesse fome.

Vou te falar, namoral, eu parecia até um integrante da equipe de produção da Ana Maria Braga, ao preparar aquele banquete. Detalhe importante: fiquei apaixonado naquela bancada de granito São Gabriel, pois ela ocupava o centro do espaço, como se fosse um altar, dedicado à arte culinária. Na época me deu vontade de ter uma em minha casa, mas após estudar os custos da obra que seria necessária, achei melhor deixar pro Pedro do futuro. E ainda não é o do presente não!

Voltando a bancada, pega minha malícia, eu havia disposto sobre ela, alguns potes de vidro e cerâmica para pousar os ingredientes de maneira ordenada e separada, e fazer daquele momento fantasiado em minha mente, mais que uma deliciosa refeição.

Eu havia comprado meio galeão, passei no triturador e assim surgiu um frango desfiado, suculento e aromático, que deixei repousando em um pote de vidro transparente. Ao lado dele, o requeijão cremoso se aninhava em sua embalagem, pronto para emprestar sua riqueza e cremosidade a qualquer preparo. A tapioca, em sua forma granulada, estava acondicionada em um pote de cerâmica, sua textura delicada e neutra prometendo ser o ingrediente perfeito para uma infinidade de sabores. O queijo branco, fresco e puro, e o queijo prato, amanteigado e derretível, dividiam espaço, cada um oferecendo sua própria personalidade única à bancada. Achei um cestinho fofo no armário e coloquei os pães arrumados, terminando de ornar aquele espaço para a recepção. Todo aquele empenho se deu, porque lembrei de uma coisa que minha avó dizia com todo amor e ternura: “A melhor forma de conquistar uma pessoa, é pela boca!”… E não, Cláudia, não é com boquete.

Eu estava faminto.

— E aí? Quer comer alguma coisa? – Pensei em oferecer algo enquanto olhava ao redor para descobrir um jeito leve de anunciar que iria me ausentar para ir tomar um banho e tirar aquele suor quase seco.

— Eu já comi. Não estou com fome por agora.

Então acomodei sua bolsa no sofá e caminhei em direção ao banheiro, que é um cômodo antes da cozinha, enquanto ela bebia sua água, acomodada no banco da bancada.

Enquanto caminhava para o banheiro, percebi que ela me encarava com um sorriso repleto de malícia. Ao perceber isso, não resisti e mudei a direção. Apenas fui com pressa e vontade, ao encontro dos lábios dela. Eu queria mais do que havíamos iniciado na rua. A ideia de preparar algo pra comer se esvaiu com uma facilidade de surpreender qualquer esfomeado. Comecei a tirar sua blusa Wrap Salmão, daquelas transpassadas, que se mantém presa por um laço. O nó estava um tanto apertado, fazendo quem acha o sutiã uma peça difícil de se despir, rever seus conceitos.

Quando a blusa foi retirada e lançada ao ar em direção ao sofá que estava atrás de mim, a peça íntima que estava por baixo, abraçava sua curva natural, tecendo um bordado de elegância e sensualidade. A renda, que se expunha entrelaçada, desenha padrões florais que dançam ao redor do mamilo, criando uma aura de mistério e sedução. Sua longa saia branca, precisou apenas de um baixar de zíper, que era quase invisível, devido ao excelente acabamento da peça, para cair ao chão. Lógico que a minha dedicação para encontrá-lo, ainda que de olhos fechados, era ainda mais impressionante.

Eu custei acreditar que aquela musa estava seminua na minha frente, interrompi o beijo e me afastei, caminhando de costas, da cozinha a sala, segurando-a pela mão, buscando pelo sofá.

Parei a caminhada que fazia de costas. A olhei nos olhos, antes de admirar sua produção com toda a dedicação que era digna.

— Calma aí que preciso contemplar essa maravilha, pra sempre me lembrar nos dias difíceis, como a vida é linda!

— É sério isso? - Disse ela rindo.

Me aproximei com passos leves até sua direção, levando minha mão em sua nuca, e antes de beijá-la, sussurrei ao ouvido.

— Negue que gostou!

Eu a encarei dando a oportunidade de negar. A resposta foi um beijo intenso e repleto de carícias em seu corpo, com a mesma dedicação de quem explora um território desconhecido, devagar e com atenção. Sem interromper o beijo, mudei os planos quanto ao destino do sofá e fomos para o quarto. Entrei de costas no quarto, já que não desgrudava do beijo, e tão pouco queria soltá-la. Antes de deitarmos na cama, ela me parou, afastando-se sem pressa e me empurrando com delicadeza pelas pontas dos dedos. Senti meu corpo cair na cama e após me sentar, ela continuou a me empurrar até que me deitei, encarando o teto, certo de que sabia o que viria a seguir.

Catei os travesseiros que estavam mais acima e com as pernas penduradas pra fora da cama, agora com a cabeça apoiada, conseguia vê-la se deliciando com o fato de me sentir febril e rígido, mesmo com toda aquela espessura de roupa ainda me cobrindo. Ela seguiu desabotoando minha bermuda, a baixar sem pressa o zíper e me observando concentrada, com os olhos fixados nos meus. Com as mãos na minha cintura, posicionou os dedos de tal forma, que baixou as duas peças restantes, me deixando nu, ainda com o olhar ininterrupto nos meus, percebendo que meu corpo a queria, desejava, pulsava e gotejava por ela.

Após aquele ato, de quem abre o pacote com fome, mas sem ansiedade, Aurora dava beijos na região abdominal e tornava a olhar pra cima, encarando no fundo dos meus olhos. Com a mão na base, segurou firme enquanto passava a língua com calma na glande, sentindo meu sabor que já escorria de tanto desejá-la. Depois de todo o suspense e tortura de não se entregar, ela se entregou e começou a me chupar e o que mais me excitava era sua respiração irregular, sua sede e vontade audível, agregando ainda mais minha experiência de completa entrega a ela.

E quando senti que meu corpo queria se entregar, a interrompi e beijei.

Me lancei por cima de seu corpo deitado na cama e segui lhe beijando o queixo, o pescoço, os peitos e segui descendo até com sede e fome até me encontrar entre suas pernas. Eu a beijei sentindo cada contração de seu corpo, cada fibra muscular em atividade enquanto recebia meu toque, meus lábios, minha língua. Seu sabor escorria em mim e minha atenção aos seus olhos parecia fazê-la produzir ainda mais. Apertei seu corpo e ela levou minhas mãos aos seus peitos. Meus dedos em seus mamilos.

Só consegui sorrir com seus lábios nos meus, enquanto ela tentava dizer algo, mas o ar lhe faltava e as palavras eram substituídas com facilidade, pelos seus gemidos. Aumentei a intensidade sugando e massageando por dentro e senti suas pernas querendo se fechar. A mão que estava em seu peito, o segurou como se segura a felicidade, com força, vontade e medo que lhe escape.

Era uma delícia estar onde eu estava.

Saborear sua entrega, seu cheiro, seu calor.

Subi para lhe beijar e no meio disso tudo, subi roçando entre suas pernas, até lhe encontrar úmida e pronta para eu entrar. O gemido interrompendo o beijo e os olhos revirando, formaram uma cena icônica. Te juro que adoraria aquilo em uma pintura a óleo sobre tela.

Algum tempo depois permanecemos deitados na cama por alguns minutos, pois as pernas estavam fracas. Passei um tempo reparando aquele espetáculo de mulher nua na minha cama. Desprovida de qualquer timidez e bastante a vontade, me encarando de volta. Levantei-me para buscar água. Quando voltei, fiquei ali em pé a observando beber. Senti que quando a coragem lhe fugia, a contradição surgia em meio ao seu olhar, que se desviava na tentativa de recuperar a coragem e assumir sua vontade. Mas enquanto isso não acontecia, se pudesse se enfiar em um buraco naquele momento, não tenho dúvidas que se colocaria. Pensando um pouco sobre essa expressão, sei que se eu estivesse do seu lado na cama e não de pé, a sua forma de fugir seria me beijando.

Pensando sobre a forma íntima que interagimos nos dias anteriores àquele encontro, percebi que ambos estávamos armados do desinteresse. Estávamos nus, mas vestidos e bem agasalhados para não sentir o frio. Aquele frio que dá não só na barriga, mas também na espinha, e que traz consigo um nó no estômago e um sorriso bobo. Tudo para fingir que não iríamos nos apegar. Mesmo assim, era encantadora aquela confiança e entrega entre dois estranhos conhecidos, que estavam ali estabelecendo o contato físico após dias de conversas via um dispositivo móvel.

Foi um bloqueio desfeito, um dia consagrado e um local marcado. Quer fosse o apê, o quarto ou um quarto do ser. Falando por mim, talvez o inteiro… Me deitei ao seu lado e ficamos nos encarando. Ela parecia querer dizer algo, mas desistia.

Até que soltou um comentário quanto aos meus cílios. Perguntou se eu passava rímel, pois os meus eram bem longos. Um comentário aleatório apenas para romper o silêncio. Ela ainda estava de bruços e aproveitei para passar a mão em suas costas, quase não tocando. Os feixes de luz que atravessavam as cortinas, mostravam sua pele arrepiada. Por um momento lembrei de seu cantor favorito, John Mayer, e de uma música em especial dele que fazia sentido pra mim naquele momento: “Your body is a wonderland". Fui descendo minha mão pela sua bunda (i'll use my hands), e ao passar por entre suas pernas, a senti molhada.

Enfiei meu dedo. E lá estava aquele rosto que franzindo a testa, arqueava a sobrancelha, fechava e abria os olhos, revirava, mordia os lábios… Estava uma delícia tocá-la. Enfiei mais um dedo e me levantei para beijar suas costas enquanto a penetrava com os dedos. Não demorou muito pra ela querer cavalgar. Deitei e deixei que ela viesse por cima. Enquanto ela rebolava e quicava em mim, suas unhas cravadas em meu peito, me deixava cada vez mais excitado! O ar-condicionado não estava dando vazão, pois pingávamos de suor. Ela ainda estava sentada com meu pau dentro de sua buceta. Fui me levantando e fiquei sentado com ela encaixada em mim e se esfregando. As pernas exaustas já não aguentavam forçar tanto o joelho.

Eu a beijei por um longo e demorado momento. Minhas mãos passeavam pelo seu corpo. Ela levantou e começou a me chupar, caprichando nas carícias, passadas com as unhas, e me encarando nos olhos até que eu gozasse.

Avisar era desnecessário. Ela me queria.

E a cara de safada que ela fazia enquanto me sentia… Ainda me deixa excitado só de lembrar. Fomos para o banheiro tomar banho. Tentamos.

Eu acabara de gozar, mas ainda estava firme e disposto. Ficamos nos beijando enquanto ela me arranhava de leve, até que foi descendo e voltou a me chupar. Na minha memória continua nítida aquela chupada no box, pois aqueles olhos verdes ganharam uma cor diferente, por conta da luz do sol que invadia o basculante. Depois de mais uma no banheiro, terminamos aquele banho.

Me enxuguei e fui para a cozinha.

Pensei em ficar com a toalha enrolada na cintura, mas eu queria me exibir. Provocá-la era uma delícia peculiar, pois me observava da cabeça aos pés e devo que é muito, mas muito gostoso ser olhado com desejo enquanto se trava uma conversa trivial. Ela veio pra perto e me acompanhou enquanto eu montava nossos lanches. Lembro dela até cogitar pegar suas peças pra vestir, mas desistiu ao lembrar da burocracia que era colocar aquela roupa. Contentou-se então em vestir apenas a minha camisa.

Houve um momento em que ela me encarou e deu um sorriso tímido e perguntou:

— Você já processou o que acabou de acontecer?

Uma memória fora ativada com aquela pergunta.

Lembrei de Irene, personagem encantadora da minha comédia romântica favorita, quando ela fala: “Chesterton dizia que um mistério é inútil sem um corpo. É o mesmo que um romance sem uma boa transa”. Guardei o pensamento comigo.

— Tudo que estou processando é que quero voltar pra cama com você!

Ela riu.

— Vai querer quantos? — Perguntei já preparando algo, pois além de fraco e desidratado, acabara de lembrar que já estava com fome, antes do início de tudo.

Terminei de preparar o suco e lá estava o nosso almoço expresso às 2 da tarde: tapioca com suco de laranja.

Acabamos de comer e assistimos a um filme bobo, apenas como desculpa para o momento de refração. Curtimos, rimos e voltamos para a cama.

Com a mesma vontade e intensidade.

Ficamos ali mesmo.

Deitados enquanto recuperava o fôlego.

A cortina não bloqueava a luz solar por completo, mesmo assim ela a abriu um pouco, exclamando o quanto gostava do sol e eu estava adorando ver aquela incidência da luz em seus olhos.

Ao voltar a se deitar ao meu lado, comentou:

— Cara, o mundo lá fora acontecendo e a gente aqui — Disse ela rindo.

— O mundo que tá acontecendo aqui é muito mais interessante e divertido.

— Deus… — ela deu uma longa pausa. — é verdade!

Eu ri.

Vimos que já passava das 4 da tarde, eu a questionei sobre a reunião que teria. Pois com toda aquela agitação, eu havia me esquecido por completo de me atentar às horas, com isso esquecendo que ela havia me dito que não poderia ficar por muito tempo.

— Tenho que confessar que inventei aquela reunião agora de tarde. Na verdade, ia me encontrar com uma amiga. Disse isso, pra se caso fosse necessário fugir após conversar um pouco com você e me decepcionar.

— Então isso quer dizer que a decepção que lhe causei, foi de não precisar usar seu plano de fuga? — Perguntei.

Ela me beijou confirmando.

Ainda deitados na cama comentei.

— Para alguém que é bastante meticulosa, organizada e tem até plano de fuga, me divirto pensando que você ainda vai contar essa história para os seus netos!

Ela me olhou de maneira repreensiva e com um olhar assustado.

— Essa não é bem uma história que se conta para os netos.

Rimos.

— Agora é sério — Continuou Aurora — Existe uma ideia segunda-feira antes e depois de você. Você é bem mais incrível pessoalmente!

— Bonito também? — perguntei com um largo sorriso.

— Tenho um padrão de beleza questionável. Adoro um homem rústico. — disse rindo.

— Ok, nunca fui chamado de feio com tanta classe e elegância. Acho que até gostei. E, além disso, acredito que segunda-feira é o melhor dia da semana… Pelo menos a partir de hoje! — Exclamei.

— Mas é idiota, ein?! — Aurora Gargalhou. — O manual moderno feminino nos aconselha a não elogiar muito os homens. Vocês já possuem autoestima o suficiente pra dar e vender.

— Tá, vou concordar, mas é mó gostosinho ser elogiado. Fico todo bobo quando a dona Vera me encontra no mercado e me pede algo. Ela vem com aquela voz cansada e meiga, de quem já fumou dois maços de cigarros antes do meio-dia: “Meu lindo, pega aquele sabão ali na prateleira de cima, por favor?”.

— E tu pegou com esse sorriso gostoso aí?

— Dona Vera é uma mulher vivida… Se tem uma coisa que ela fez na vida, foi ver pessoas. Aquela mulher é de uma índole idônea! Ela não mentiria pra mim… Mentiria?

Rimos e nos beijamos em meio a sorrisos naquela conversa boba, até que voltamos a nos divertir, aproveitando ao máximo todos os cantos da casa, antes de nos aprontarmos pra ir embora.

Yuri Izidio
Enviado por Yuri Izidio em 02/05/2014
Reeditado em 20/07/2024
Código do texto: T4791665
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