Pressentimento.
Todo dia a briga entre eles acontecia. Sempre o mesmo motivo. Faltava dinheiro para isso, para aquilo. E a sogra não perdoava. Casaste com um traste. Ele não serve pra nada. A discussão crescia. Não havia mais paz naquela casa. O pequeno não entedia. Chorava. Chorava o tempo todo. A harmonia desaparecera. No lugar do amor, raiva!
Naquela noite, Zeca não conseguia dormir. Precisava tomar uma atitude. Viver assim pra quê. Tomou uma decisão. Vou deixar tudo pra traz. Cair no mundo. Saiu da cama, eram quatro horas da madrugada. Tentando não fazer barulho. Pegou algumas roupas, tablet, etc... Colocou na mochila e foi para o carro. Deu partida. As luzes da casa se acenderam. Maria, de camisola veio correndo em seu encontro. O que você esta fazendo? Partindo, respondeu. Para com isso, você esta de cabeça quente. Vamos conversar. Tentamos durante três anos, e nunca conseguimos. Não vai ser agora que haverá um diálogo entre nós. Gení a sogra, apareceu. Deixe-o ir. Vai tarde. Ele não presta mesmo. Um inútil. A discussão ia esquentar. Zeca acelerou o carro e partiu. Atravessou a pequena cidade. Quase toda às escuras. Chegou à estrada. Olhou para a esquerda. Para a direita. E tomou a direção da capital. Estrada de uma pista só. Sem nenhuma iluminação. Acelerou mais. Sua cabeça fervilhava. Não sabia o que faria da sua vida.
Dirigiu por alguns quilômetros e o celular tocou. Tocou várias vezes. Não atendeu. Continuou na estrada. Enxergando só o que os faróis do seu carro alcançavam. De repente, um facho de luz, que se aproximava por trás. Olhou pelo retrovisor. Era uma moto com dois indivíduos. Pensou! Serão meus cunhados. Acelerou. Ganhou mais velocidade. A moto também. Então ele diminuiu a velocidade, eles também. Diabos estão seguindo-me. Lembrou-se dos assaltos que aconteciam pela região. Presságio ruim. Ficou com medo. O celular tocou de novo. Era sua mulher, Maria. Atendeu. Ela disse: Volta Zeca. Volta logo. Estou com um pressenti mento ruim. Vamos conversar; a mamãe não vai interferir. Ele desligou novamente. A moto estava quase colada em sua traseira. Não dava para ver quem era. A escuridão e os capacetes não permitiam. Só dava para perceber que eram dois. Avistou luzes na beira da estrada. Era um posto de gasolina. Acelerou e entrou como um foguete. Parou o carro do lado da bomba. Encha o tanque. E foi para lanchonete. Pediu um café. Saiu para o lado de fora com a xicara na mão. Olhou estrategicamente para estrada. Surpresa e medo. A moto estava parada no acostamento com dois caras do lado. Tocaia, não havia mais dúvida. Quando eu voltar para a estrada, darão o bote. Era a mesma moto, tinha certeza. Demorou em tomar o café. O celular tocou. Amor seu filho esta acordado. E perguntou por você. Onde você está. Num posto de gasolina. Então volta logo, disse Maria. Nos te amamos venha para casa. Para com essa loucura. Ele pagou o café. Pagou o frentista. E saiu disposto a voltar para casa. A moto não estava mais lá. Entrou no carro. Saiu bem devagar. Olhando de um lado para outro, pegou a estrada de volta. Ainda estava muito escuro. Repentinamente a moto reapareceu atrás. Só da dava para ver pelo retrovisor o farol. Aproximavam-se rapidamente. Acelerou. Passou dos limites de velocidade. A moto estava alcançando o carro. Parecia filme policial. O medo tomou conta. Agora a moto estava lado a lado com seu carro. Com gestos eles pediram que ele parasse. Desobedeceu e acelerou mais ainda. O celular tocou. Tiros. Muitos. O carro capotou várias vezes, saiu da estrada. Mas o celular não parou de tocar...