BASILIO DE MAGALHÃES
Nasceu Basílio de Magalhães em 7 de junho de 1874, no modesto vilarejo, então Arraial de Santana do Barroso, Freguesia da Borda do Campo, na província de Minas Gerais. Atualmente, distrito do município de São João Del Rei. Filho do senhor Antonio Inácio Raposo e de dona Francisca Leonardo de Magalhães
Os primeiros informes biográficos desse grande literato nos relatam que o jovem Basílio estudou, entre 1884 e 1890, no externato mantido em São João Del Rei, fazendo o curso que naquela época se chamava de Humanidades. O Externato de São João Del Rei era mantido pelo Visconde de Ibituruna, notável homem público e político, que viria a ser o último presidente da Província e Minas Gerais no período monárquico.
Anda muito jovem, com seus doze ou treze anos, (por volta de 1886 a 1888) trabalhou como tipógrafo e auxiliar de redação da “Gazeta Mineira”, jornal editado em São João Del Rei, órgão francamente monárquico, numa época em que as idéias republicanas tomavam conta das mentes e corações dos brasileiros.
Aos quinze anos (1889) passou a atuar nas oficinas e na redação de “ A Pátria Mineira”, jornal de orientação republicana. Já por aí percebe-se que Basílio de Magalhães foi, desde cedo, homem aberto às idéias novas, às mudanças, aos novos rumos que o país estava tomando.
Com a experiência adquiridas nos dois pequenos mas importantes jornais, fundou, em 1891, ainda em São João Del Rei, a folha humorística “A Locomotiva”, no qual a sátira e a crítica políticas eram predominantes. Este jornal teve curta duração, foi editado por apenas um ano. Colaborou intensamente nos semanários locais Ação Social e Reforma.
Tendo iniciado seus estudos superiores em Minas, transferiu-se, com 19 anos, em 1893, para São Paulo (capital do Estado), a fim de cursar a Faculdade de Direito. Durante os anos de estudo, dedicou-se mais ao jornalismo, tendo participado do corpo de redatores do Diário Popular e do Correio Paulista. Já interessado também pelos problemas do ensino no país, colaborou com artigos nas revistas Educação, Revista dos Educadores e Íris.
No ano de 1894, com apenas 20 anos, obteve provisionamento, isto é, autorização para advogar em Campinas, também no estado de São Paulo.
De Campinas foi para Jacareí, no mesmo estado. Naquela cidade, lecionou no Ginásio Nogueira da Gama. Prosseguindo na sua carreira jornalística, fundo O Correio de Jacareí ( em 1895) e dirigiu O Democrata.
Data de 1895 a sua estréia como escritor, com a edição de LIÇÕES DE HISTÓRIA DO BRASIL, livro didático que vinha preencher as necessidades de sua atividade pedagógica. A primeira edição foi através da Tipografia Ribeiro, de S. Paulo.
Antes de finalizar o século XIX , Basílio de Magalhães brindou a cultura brasileira com a publicação de novos livros: O SUPLICIO DE FREI CANECA OU A REVOLUÇÃO DE 1814 EM PERNAMBUCO, ensaio profundo da história do Brasil, que foi editado em 1896, pela Tipografia Ribeiro, já mencionada. – LIÇÕES DE GEOGRAFIA GERAL, também didático, apareceu em 1899, editado pela Tipografia Aurora, S. Paulo. E para não dizer que Basilio Magalhães não falava de rosas, eis que, ainda em 1899, editou IRIS, coletânea de poesias, muitas inéditas e outras já publicadas em revistas e jornais.
Aliando sua capacidade de escritor aos anseios de educador, Basílio de Magalhães preparou-se, nos anos finais do século 18, para importante concurso público, que prestou em 1900. Aprovado que foi, tornou-se, a partir de 1901, professor de História do Brasil no Ginásio Estadual de Campinas, tendo como colegas de magistério Raul Soares de Moura e Coelho Neto.
Fundou e dirigiu, entre 1901 e 1910, o Correio de Campinas, a primeira folha do interior a publicar duas edições diárias! Jornalista incansável, colaborou ainda em A Cidade de Campinas.
Em 1908, Basílio de Magalhães ingressa na política: foi eleito, naquele ano, vereador à Câmara Municipal de Campinas. Estava, então, com 34 anos.
Entre 1909 e 1910, participou ativamente na Campanha Civilista, preconizando a candidatura de Rui Barbosa à |Presidência da República.
. Ainda em Campinas, durante o correr do ano de 1911, exerceu o cargo de delegado de Polícia, por incumbência do Governo do Estado de S. Paulo. Data dessa época o início de pesquisas que mais tarde resultariam no Documentos Interessantes para a História e os Costumes de S. Paulo, alentada obra de sociologia em oito volumes!
Tendo fixado domicilio no Rio de Janeiro, a partir de 1912, continuou sua vida profícua de realizações e estudos. Entre 1912 e 1916, exerceu as mais variada funções no campo pedagógico:
* foi professor efetivo de História Geral e História do Brasil na Escola Normal do Rio de Janeiro (Então Distrito Federal). –
* integrou os corpos docentes de diversos estabelecimentos de ensino.- No Instituto de Educação, foi diretor interino.
* esteve, por algum tempo, na direção da Escola Amaro Cavalcante. –
* foi professor no Colégio Pedro II, famoso ainda hoje pela excelência de seu ensino.
* lecionou na Escola Nacional de Belas Artes; no Instituto de Arte da Universidade do Distrito Federal; na Academia de Altos Estudos, criada pelo Instituo Histórico e Geográfico Brasileiro, transformada pouco depois em Faculdade de Filosofia.
Entre 1917 e 1919 foi diretor da Biblioteca Nacional – quando criou o Boletim Bibliográfico daquela importante instituição.
O retorno à terra natal: eis o agora já consagrado jornalista, professor e escritor, de volta a São João Del Rey em 1920. Em momentos campanha onde destacou-se também pela oratória nos discursos políticos, foi eleito vereador municipal.
Eleito para o cargo máximo de Agente executivo Municipal, em 1921, ingressou-se definitivamente na política do Estado de Minas Gerais, onde, como se verá.
Eleito, em 7 de junho de 1922, senador estadual, pelo Partido Republicano de Minas, ao qual sempre pertencera, para o restante da oitava legislatura, na vaga de Francisco Coelho Duarte Badaró.
Foi re-eleito Senador Estadual para a nona legislatura, que iria de 1923 a 1926, mas renunciou ao mandato em 1924 para assumir uma cadeira de deputado na Câmara Federal
cargo que exerceu ate 1929. Nessa legislatura, apresentou projeto de lei instituindo o Sufrágio Secreto Obrigatório¸ e estendendo às mulheres o direito de voto.
Antes de finalizar seu mandato parlamentar, abandonou a política, porque se opunha a Movimento da Aliança Liberal. Como é sabido, num acordo secreto, Minas desistiu de postular a presidência da república, , comprometendo-se a apoiar um candidato indicado pelo Rio Grande do Sul, que viria a ser Getúlio Vargas.
BASILIO DE MAGALHÃES reassume em 1930 sua cadeira na Escola Normal do Rio de Janeiro e iniciou então intensa colaboração aos jornais cariocas: Gazeta de Notícias, O País, O Jornal, Correio da Manhã, O Imparcial, O Jornal do Comércio.
A partir de então, dedicou-se inteiramente às atividades pedagógicas, culturais e à literatura. Integrou a Comissão da Enciclopédia do Ministério da Educação, projeto monumental de catalogação e registro do de tudo o que se relacionasse ao Brasil. Versátil, escreveu dezenas de artigos para a Enciclopédia, projeto que ficou inconcluso.
Também a partir dessa época é que surgem seus trabalhos mas importantes, sobre o folclore, geografia e história do Brasil. Assume, com sua experiência e sua acuidade e talento para tratar dos assuntos nacionais, o verdadeiro papel de sociólogo e antropólogo, quando escreve A Expansão Geográfica do Brasil Colonial (1935) – Em defesa dos Brasilíndios (1946) ou São Pedro e São Paulo na Alta toponímia Brasileira (1953) para citar apenas alguns títulos de as vasta bibliografia.
Foi convidado e participou de inúmeras associações e sociedades, como Sócio Grande Benemérito do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. – Sócio Honorário da Assoociação Mineira de Literatura, entre muitas outras.
Sua projeção internacional o levou à participação, como sócio e colaborador, de renomadas entidades culturais, como Academia de Ciências de Lisboa, Academia Portuguesa de História, Instituto de História, Lingüística e Folclore da Universidade de Tucumán (México) – Real Sociedade de Londres, Inglaterra – The Amarecian Folk-lore Society e The National Geographic Society, estas duas últimas sediadas em Washington, Capital dos Estados Unidos.
Basílio de Magalhães foi competente poliglota, que não se limitou ao estudo de diversas línguas cultas, mas também se aprofundou no conhecimento dos idiomas brasilíndios como o tupi-guaraní, o bororó e o munducuru. Com Luiz Horta Barbosa e Erasmo Braga defendeu o direito dos silvículas, tendo redigido o Manifesto que propugnava a criação do Serviço de Proteção aos Índios.
No princípio de 1957, pouco antes de sua morte, o Presidente Juscelino Kubtscheck estabeleceu-lhe uma pensão mensal de 5 mil cruzeiros, encarregando-o de anotar as e atualizar as Efemérides Brasileiras, de Xavier da Veiga. Mas, alquebrado pela idade, e impossibilitado de realizar a tarefa, por motivo de saúde, — sempre coerente com sua ética de vida — recusou-se a receber os proventos correspondentes.
BASILIO DE MAGALHÃES Faleceu em Lambari, MG, em 14. dezembro de 1957, portanto, aos 83 anos de idade.
ANTONIO ROQUE GOBBO
Belo Horizonte, 04.09.2003
CONTO # 175 – DA SÉRIE MILISTÓRIAS