ALGUMAS VEZES O HOMEM VALE PELO QUE TEM

Entrei naquele estabelecimento comercial, outrora repleto de gêneros alimentícios, produtos de higiene,  bomboniére,  e tudo quanto se pudesse precisar.

Naquele momento deparei-me com uma visão... Contrária à costumeira: prateleiras vazias... Crise financeira profunda. Doeu-me a alma é impossível, a sobrevivência de um estabelecimento comercial, sem  capital de giro.

Ouvi do proprietário desabafos profundos sobre as humilhações que passava, no seu dia a dia; os antigos fregueses acostumados a encontrar, tudo quanto precisassem, se irritavam com a situação atual, porque só ouviam: –Não temos! Está faltando!...  
A situação era caótica!
Até mesmo os bombons estavam em falta... Não se podia encontrar a variedade costumeira, e pensar que daquele comércio dependia o sustento, daquela família. Os credores estavam enlouquecidos; o proprietário via a cada dia, portas de crédito se fechando; a notícia de falência correu o bairro,  e, abrir às portas daquele comércio, a cada manhã... Era como sentar no banco dos réus, ou se transportar ao sinédrio para  ouvir a multidão gritando enfurecida: FECHA ÀS PORTAS!

Aquele  homem pacato, trabalhador, e pai de família dedicado estava vivendo tempos de completa humilhação, se transformou em tapete para os seus algozes esfregarem os seus pés; o seu sono era medido e agitado; debatia-se na cama, chorava dormindo e gesticulava em conversa  com os fantasmas da crise financeira. Conheceu quem podia chamar de amigo, e, os catou, como  quem cata agulha no palheiro.

Naquele momento, em que eu acabara de chegar, final de expediente, logo na entrada do comércio, vi uma mulher idosa com a sua neta, uma garota de uns oito anos de idade, que soltando a mão da mulher, se espremeu na porta  comercial, querendo entrar; a mulher gritou: – Sai daí menina! Tu não sabes que aí não tem nada! Sem dar ouvidos à avó, a garota respondeu: – Tem, sim!
Entrou e pediu duas balas ao comerciante, e saiu satisfeita mostrando as balas para a avó, e disse: – Tá vendo? Eu não disse que tinha?
 
Tudo quanto vi e ouvi... Ficou no meu mais profundo aprendi algumas lições, com o ocorrido: A criança nos fez entender que nem sempre filho de gato é gatinho;  que não se  pode julgar os frutos nascidos de uma árvore, igualmente, alguns podem ser perfeitos, porém outros, não passarão na seleção.

A menina creu que podia encontrar o desejado no quase nada;
a amarga mulher, não se importou em gritar; em lançar ao vento palavras, que bem sei sangraram, ainda mais, o coração do pobre comerciante: – Não sabes que não tem nada aí?
O proprietário, humilhado, entendeu que valeu a pena abrir às portas naquele dia: Tinha feito uma criança feliz;
a criança tinha os olhou de Deus, e, a sua inocência  enxergou o que os maus olhos não podem ver: esperança!


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O trabalho, Algumas vezes o homem vale pelo que tem, De EstherRogessi está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional.
EstherRogessi
Enviado por EstherRogessi em 26/04/2014
Reeditado em 28/05/2014
Código do texto: T4783386
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