Mana Chiquinha
Mana Chiquinha era uma zungueira conhecida. Corria a ruas da cidade do Dondo a vender cacusso.
-Olha o cacusso, sinhora!
Mas a vida da Mana Chiquinha era mais do que isso. Tinha uma palavra gentil para toda a gente. Dava kilapi a quem pedisse e gostava de beber uma cerveja com as amigas ao fim da tarde, logo ali na marginal.
Cantava bem em kimbundu, diziam.
Mas era uma vida de luta.
Não era tarefa fácil a compra do peixe de madrugada, a zunga e o trato do filho.
Mas a Mana Chiquinha, mulher bonita, viúva por coisas lá da guerra. Gostava de dançar. Dançava com a kitanda na cabeça e havia quem dissesse que ela era feliz.
Todos os homens queriam namorar com ela. Ela não namorava com nenhum. Vinte anos viúva e agora é que se ía meter em problemas. Nada disso, decidiu.
Quando algum homem a tentava seduzir ela respondia:- Já me viste, você? Sai daqui, kadengue!
Nunca faltou nada em casa, nem alegria.
Um dia, quase igual aos outros dias todos, o sorriso da Mana Chiquinha desapareceu. O filho não voltou para casa. As horas foram passando e ela decidiu ir perguntar se alguém o tinha visto.
-Sim, o Joãozinho, estava aqui agora mesmo...
Ninguém viu.
-Tinha uma camisa vermelha e calções azuis do uniforme do colégio...
Ninguém viu.
A Mana Chiquinha correu todos os bairros da cidade. Perguntou a toda a gente. Perguntou se ele tinha ido nadar no rio, se alguém o viu a andar numa mota, se sabiam quem eram os amigos...
Ninguém sabia.
Na madrugada desse dia, Mana Chiquinha não foi comprar peixe, não dançou nem alegrou as ruas por onde passou.
Nessa manhã, as amigas foram chamá-la e disseram que ela tinha de ter muita coragem. Tinham notícias do filho dela, mas ela tinha que ser forte...
Coragem...Forte...
Uma bala perdida, um infortúnio, uma desgraça. Ninguém soube explicar.
A Mana Chiquinha nunca mais dançou, nunca mais sorriu e nunca mais viu o seu filho.