UM CONTO DE PÁSCOA

Para Aninha... Uma menina linda com covinha no queixo!

Nem é preciso dizer o quanto o coelho Teco era rápido. O dia ainda estava no meio da tarde, e ele corria para sua última entrega da Páscoa. A dona os ovinhos era uma menininha linda com covinha no queixo. A primeira Páscoa dela.

O coelho Teco possuía todas as virtudes boas do mundo. Só que tinha a mania de correr demais. De fazer tudo apressado. E muitas vezes, nem olhava onde pisava. Quem o via correndo daquele jeito imaginava que Teco sempre estivesse fugindo de algum predador ou de alguma coisa. Ele sofria da síndrome da velocidade.

E foi assim, correndo e sem olhar no caminho, que Teco pisou num espinho. Uma das suas patinhas foi rasgada e sangrou imediatamente. Teco até tentou continuar a correr, mas foi impossível. Com muitas dores, ele achou melhor encontrar um esconderijo.

Teco estava no território das águias. Em grande perigo. Se alguma delas o visse do alto seria o fim. E uma menina ficaria sem os ovinhos da páscoa. Bem escondido Teco teria tempo para descansar e pensar numa solução.

Arrastando-se com a patinha machucada, Teco entrou debaixo de alguns arbustos. Até pensou que estivesse bem camuflado e protegido. E se patinha doía, o coração quase saiu pela boca quando viu uma águia enorme pousar a centímetros dele. Que fim terrível. E sem fazer a última entrega da Páscoa. Pensou na menina e não nele.

Sem poder sair correndo, como das outras vezes em que foi perseguido, Teco começou a se conformar com seu destino. Afinal nem os coelhos vivem para sempre. Restava o consolo de saber que ser alimento de filhotes de águia não seria tão ruim assim. Pior é perder a vida sem nenhum motivo, e deixado para apodrecer.

Quando outra águia pousou perto da sua cabeça, o coelho Teco sentiu um restinho de esperança. Que foi aumentando à medida que as duas águias começaram uma discussão hipócrita sobre quem deveria ficar com a presa.

– Eu vi primeiro. – A primeira águia foi logo dizendo. – Portanto ele é meu.

– Você pode ter visto primeiro. – disse a outra águia. – Mas, ele está no meu território. E pelas leis ele é meu.

A discussão continuou por quase uma hora. Cada águia apontava as razões do coelho ferido lhe pertencer. A briga estava ficando feia.

Cansado daquilo e com a dor na patinha ficando maior, Teco gritou para as duas.

– Calem-se!

As duas águias silenciaram com raiva e espantadas. Quem era aquele coelho para gritar com elas. Que pretensioso, embora a carne fosse saborosa.

– Vocês duas estão parecidas com os humanos das cidades. – disse o coelho Teco com firmeza na voz. – Querem ter sempre a razão. Daqui a pouco vão começar a se matar por banalidades como eles. Ou por um simples coelho.

Por um momento as águias pareceram envergonhadas. Então o coelho Teco continuou com seu plano de pelo menos não deixar uma menina sem os ovinhos de páscoa.

– Posso fazer uma proposta?

As duas águias olharam para o coelho.

– Faça. – Disse uma delas.

– Assim como os seus filhotes estão esperando alimento, existe uma menininha que está esperando os seus ovinhos de páscoa. – Esticou a patinha ferida para que as duas vissem o sangue e continuou. – Vocês duas me levam voando até lá e depois me dividem ao meio. – Olhou nos olhos de cada uma e perguntou. – Temos um acordo?

E assim fizeram.

Pelos quilômetros que faltavam, as águias se revezaram carregando o coelho Teco nas garras até onde a menina morava. O lugar era lindo. Uma chácara. Muitas árvores. Muita grama. E uma cachorrinha que latia, mas não mordia.

Assim que chegaram as águias deixaram o coelho no chão, e pousaram num pé de manga para esperá-lo. Com dor e se arrastando, mas sem perder a experiência, Teco encontrou o ninho feito pela menina rapidinho. Em menos de cinco minutos ele estava de volta.

Então a grande surpresa. As águias não estavam esperando no pé de manga. Sem entender nada, Teco respirou aliviado.

Como o lugar tinha bastante alimento e nenhum predador, Teco decidiu permanecer ali até que sua patinha estivesse curada. Depois ele voltaria para casa.

Foram dias de aventuras intensas. Principalmente quando ele se escondia bem pertinho da menina. Assim podia ver a covinha no seu queixo, e até os dentinhos nascendo quando ela dava gostosas gargalhadas no colinho da mãe.

Até que numa manhã fria de fim de outono, sentindo que já podia correr com antes o coelho Teco correu para casa.

Passou semanas contando suas aventuras para os amigos. E ficou muito triste quando soube que um deles, voltando da cidade e passando por uma chácara, perdeu a vida depois de ser perseguido por duas águias...

As duas tinham brigado muito. No fim, uma águia ficou com o coelho. A outra voltou para o ninho toda machucada.

Moral da história: Não adianta você se envergonhar do que faz hoje... E amanhã continuar fazendo igual!