Anjo da madrugada
A lua cintilava um hipnótico pálido prateado no céu. Uma breve brisa litorânea carregava consigo um forte odor do mar. Os passos largos do homem seguiam tranquilos perante o asfalto, ainda úmido, devido a uma leve torrente que caíra segundos antes. Em sua solidão, estrada a fora, ele se prendia em pensamentos. Refletia duramente sobre si, sobre suas ações, mas de repente, algo lhe chamou a atenção. Um sentimento de calma reverberou dentro de si, e suas pernas, por instinto, se moveram para fora da estrada em direção a praia. O homem não pôde acreditar no que seus olhos te mostravam e nem nos sons que seus ouvidos captavam.
Uma jovem mulher bailava sobre as areias, banhadas pelo brilho prateado da lua. Sua pele exaltava um tom esbranquiçado, como o de um anjo permeando a escuridão. Seus cabelos castanhos esvoaçavam com a brisa litorânea, e sua voz angelical, pairava sobre o ar se misturando ao quebrar das ondas, carregando com si toda emoção que podia, e seus movimentos lançavam, juntamente, um perfume de amêndoas que se mesclava ao odor do mar.
O homem observou imóvel, a jovem garota, que deslizava com elegância sobre as areias e se perdeu em meio aos movimentos suaves de seu quadril. Aquelas mãos que se envolviam freneticamente, em meio à melodia intensa que passou a sair da boca da jovem, ele apenas se sentou sobre a pedra mais próxima, e continuou a observando.
A garota finalmente o percebera. E por um momento seus olhos se encheram de surpresa, porém, não a impediu de manter seu ritmo, fosse a sua voz ou a sua expressiva dança. Ela, aos poucos, se aproximara dele. E seus olhos castanhos analisaram o homem como se pudesse ver ele por completo. No fim ela sorriu e continuou a cantar e dançar para ele, tocando-o levemente o rosto de tempos em tempos e sussurrando melodias emocionantes em seus ouvidos a todo o momento.
Então num passe de magica, aquela beleza angelical desapareceu. A melodia finalmente cessou e o perfume de já não estava mais presente. Ele se perguntara o que havia acontecido, onde aquela linda mulher havia ido. Suas perguntas não poderiam ser respondidas, mas ele se sentiu bem. Por algum motivo, enquanto a observava, seus pensamentos clarearam. Seus problemas simplesmente sumiram, e ele pôde enxergar as coisas de uma nova maneira.
O homem se ergueu da pedra onde sentava e caminhou alegre pela madrugada banhada pelo brilho pálido, com um jovial sorriso em seu rosto e uma esperança renovada no futuro que se guardava adiante. Tudo graças a um anjo anônimo, que, como milagre, lhe salvara de si mesmo.