MEU PRIMEIRO DIA DE EXÉRCITO

     Após concluir meu curso de Ajustador Mecânico, no final de 1965, na Escola Senai Lindolfo Collor, em São Leopoldo RS, passados alguns dias, chegou a hora de me apresentar na Unidade em que havia me inscrito, para cumprir o serviço militar. 
     A expectativa era grande, sabia eu que haveriam mudanças radicais em minha vida, pois ainda com 19 anos morava na casa dos meus pais. Sabia bastante da vida de caserna, sendo meu pai militar, convivi muitos momentos dentro dos quartéis. Mas agora seria diferente, pois teria que viver com a disciplina que o mesmo impõe. 
     Já no primeiro dia veio a acontecer um fato marcante que nunca esqueci. 
     Após alguns atos, fomos avisados que receberíamos os uniformes de instrução, ou seja, o usado em todos os dias, menos nos dias de cerimônias. Fomos encaminhados para um saguão de entrada da companhia, onde uma costureira tiraria nossas medidas. Estávamos na fila aguardando a vez, como era muito demorado alguém resolveu agachar-se e sentar escorado na parede e sentir um pouco da cerâmica fria do piso, pois o calor daquele dia era forte. Esse alguém foi imitado por um, dois, três e assim por diante, inclusive eu. Neste momento passou um oficial nos viu naquela posição, nos apontou o dedo e disse: 
     – Você, você, você... e você, posição para apoio. 
     Como eu nunca havia feito apoio e muito menos sabia qual era essa posição, esperei que os primeiros se posicionassem e aí sim os imitei. Disse ele: 
     – Podem começar. 
     Como antes eu não tinha preparo físico nenhum, após fazer quatro ou cinco flexões, olhei para cima e disse exausto: 
     – Não dá mais. 
     E então fui liberado, claro ficando eu a partir daquele momento em pé. Não sei se foi por este motivo, mas durante o serviço militar nunca deixei de fazer educação física, que era das dez ao meio-dia. Gostava demais daquela atividade. Depois de um certo tempo corria quinze quilômetros facilmente e claro não preciso dizer as fatídicas flexões do primeiro dia passaram a ser mais de cinqüenta e com sobra de energia. Aquele dedo apontado para mim no primeiro dia de quartel, por aquele oficial, deve ter sido responsável pela boa saúde que desfrutei durante toda minha vida.


Valter Jorge Schaffel
Enviado por Valter Jorge Schaffel em 06/05/2007
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