A vida de Ninguém vivida por alguém

Essa é uma história que Ninguém viveu. Mas não o confunda com o pronome indefinido, até porque pronomes não tem vida, ao menos não antes de uma ou duas doses. Ninguém, ironicamente, era alguém na vida. Tinha filhos, esposa, emprego estável e de salário alto.

Ninguém tinha caráter, era honesto. Além disso, era uma alma bondosa. Doava aos pobres, fazia caridade. Era educado e fino. Era.

Ninguém trocou de nome. Virou Alguém.

Andando um dia por um bairro mais pobre da cidade, pois foi visitar sua tia ou avó... Não me recordo. Quando já se achava livre de ameaças do subúrbio, ouviu o grito do bandido:

-Alguém é um policial disfarçado!

-Quem é Alguém?

-Não sei!

-Então procura!

Alguém tentou escapar, mas foi pego pelos bandidos.

-Quem é você?

-Ninguém!

-Mas você tem que ser alguém!

-Ele é Alguém?

-É mesmo! Estou reconhecendo!

-Mata Alguém! Mata Alguém!

Logo alguém jazia morto no chão. Assustados, os moradores da região perguntavam:

-Quem morreu? Quem morreu?

E os bandidos respondiam:

-Ninguém! Ninguém!